Um terço dos brasileiros usa antibióticos sem receita médica

Um terço dos brasileiros usa antibióticos sem receita médica

O uso indiscriminado de antibióticos preocupa especialistas e aumenta o risco de resistência bacteriana, agravando problemas de saúde pública no Brasil.

Um estudo recente revelou que cerca de um terço dos brasileiros consome antibióticos sem prescrição médica, contrariando as regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa prática, além de ilegal, representa um grave risco à saúde pública, pois contribui para o surgimento de bactérias resistentes. Segundo a pesquisa, 24,5% das pessoas afirmaram fazer uso desses medicamentos pelo menos uma vez ao ano, muitas vezes adquirindo-os em farmácias menores que ignoram as exigências legais.

Especialistas alertam que o uso inadequado de antibióticos, como a automedicação ou a interrupção do tratamento antes do tempo indicado, pode levar ao desenvolvimento das chamadas “superbactérias”. Essas bactérias multirresistentes são capazes de sobreviver aos tratamentos convencionais, tornando infecções simples potencialmente fatais. Esse cenário é agravado pela falta de conscientização da população sobre os perigos dessa prática.

O consumo indiscriminado de antibióticos também afeta negativamente a microbiota intestinal, causando desequilíbrios que podem desencadear problemas de saúde a curto e longo prazo. Além disso, a resistência bacteriana compromete procedimentos médicos importantes, como cirurgias e tratamentos contra o câncer, que dependem de antimicrobianos eficazes.

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Impactos da automedicação com antibióticos no Brasil

No Brasil, a automedicação é uma prática comum. Dados recentes indicam que 77% da população recorre a medicamentos sem orientação médica pelo menos uma vez por mês. Esse hábito é especialmente preocupante no caso dos antibióticos, que só devem ser usados sob prescrição médica para garantir sua eficácia e evitar efeitos colaterais graves. No entanto, muitas farmácias ainda vendem esses medicamentos sem exigir receita, desrespeitando as normas estabelecidas pela Anvisa.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a resistência bacteriana como uma das maiores ameaças à saúde global. No Brasil, a situação é agravada pela falta de campanhas educativas e pela facilidade de acesso aos medicamentos. A automedicação não apenas mascara sintomas de doenças mais graves, mas também contribui para o aumento da resistência bacteriana, reduzindo as opções terapêuticas disponíveis.

Além disso, o uso inadequado de antibióticos pode gerar reações adversas graves, como alergias e problemas gastrointestinais. Por isso, especialistas recomendam que os pacientes sigam rigorosamente as orientações médicas quanto à dosagem e duração do tratamento para evitar complicações futuras.

Um terço dos brasileiros usa antibióticos sem receita médica
A automedicação com antibióticos aumenta os riscos à saúde pública e favorece o surgimento de superbactérias resistentes. (Imagem: Reprodução/Divulgação)

A resistência bacteriana e suas consequências

A resistência bacteriana ocorre quando as bactérias se tornam imunes aos efeitos dos antibióticos devido ao uso excessivo ou inadequado desses medicamentos. Isso significa que infecções comuns podem se tornar mais difíceis ou até impossíveis de tratar. No Brasil, essa tendência tem sido observada em hospitais e na comunidade em geral, representando um desafio crescente para o sistema de saúde.

Procedimentos médicos críticos, como transplantes e quimioterapias, dependem do uso eficaz de antimicrobianos para prevenir infecções. Com o aumento das bactérias resistentes, esses procedimentos se tornam mais arriscados e menos eficazes. Além disso, a resistência antimicrobiana eleva os custos dos tratamentos médicos devido à necessidade de medicamentos mais caros e internações prolongadas.

A OMS alerta que a disseminação das superbactérias pode levar a uma crise global na área da saúde se medidas urgentes não forem tomadas. Entre essas medidas estão o fortalecimento das regulamentações sobre a venda de antibióticos e campanhas educativas para conscientizar a população sobre os riscos da automedicação.

Medidas para combater o uso indiscriminado

Diante desse cenário alarmante, o governo brasileiro tem tomado medidas para reduzir o consumo inadequado de antibióticos. Uma delas é a exigência da retenção da receita médica nas farmácias desde 2010. Apesar disso, muitos estabelecimentos ainda não cumprem essa regra rigorosamente. Por isso, é fundamental intensificar a fiscalização e aplicar penalidades mais severas aos infratores.

Outra iniciativa importante é a realização de campanhas permanentes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para alertar sobre os perigos da automedicação. Essas campanhas devem enfatizar que os antibióticos só devem ser usados sob orientação médica e que seu uso inadequado pode ter consequências graves tanto para o indivíduo quanto para a sociedade.

A educação da população também desempenha um papel crucial na luta contra a resistência bacteriana. Informar as pessoas sobre os riscos do uso indiscriminado de medicamentos pode ajudar a reduzir a demanda por antibióticos sem prescrição e incentivar práticas mais seguras no consumo desses remédios.

Fonte: Revista Galileu.