Gordura visceral pode indicar Alzheimer décadas antes dos sintomas
Estudo revela que o acúmulo de gordura visceral está associado ao aumento de proteínas ligadas ao Alzheimer, oferecendo novas perspectivas para prevenção.
Pesquisadores descobriram que a gordura visceral, acumulada ao redor dos órgãos, pode ser um sinal precoce do desenvolvimento da doença de Alzheimer. Essa relação foi apresentada durante a reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA), onde cientistas destacaram que alterações metabólicas associadas à obesidade podem antecipar sinais da doença em até 20 anos antes dos primeiros sintomas clínicos.
A pesquisa, conduzida com 80 participantes de meia-idade, revelou que altos níveis de gordura visceral estão diretamente relacionados ao aumento das proteínas amiloide e tau, características da doença. Essas proteínas são conhecidas por se acumularem no cérebro de pacientes com Alzheimer, causando danos progressivos às células nervosas e levando à demência.
Os especialistas enfatizam que intervenções no estilo de vida, como perda de peso e controle metabólico, podem desempenhar um papel crucial na redução do risco da doença. Essa abordagem preventiva é especialmente eficaz quando aplicada em estágios iniciais, antes que os sintomas cognitivos se manifestem.
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Como o estudo foi conduzido
O estudo contou com participantes com idade média de 49 anos e sem alterações cognitivas aparentes. Mais da metade deles apresentava obesidade, com um índice de massa corporal (IMC) médio de 32,31. Para avaliar a relação entre obesidade e Alzheimer, foram realizados exames avançados, incluindo tomografia por emissão de pósitrons (PET) cerebral e ressonâncias magnéticas abdominais.
A PET cerebral permitiu identificar a presença de placas amiloides e emaranhados tau no cérebro, enquanto as ressonâncias mediram a quantidade de gordura visceral, subcutânea e muscular. Além disso, os participantes passaram por avaliações metabólicas para analisar níveis de glicose, insulina e colesterol.
Os resultados indicaram que o acúmulo de gordura visceral estava fortemente associado ao aumento das proteínas amiloide e tau. Esse vínculo sugere que a obesidade pode desencadear alterações metabólicas prejudiciais ao cérebro, aumentando o risco de desenvolver Alzheimer em longo prazo.
Principais descobertas do estudo
Os cientistas observaram que 77% dos participantes com IMC elevado apresentavam altos níveis de proteína amiloide no cérebro. Essa relação foi ainda mais evidente em indivíduos com maior quantidade de gordura visceral, reforçando a ideia de que esse tipo específico de gordura desempenha um papel central na progressão da doença.
A pesquisa também revelou que a resistência à insulina e baixos níveis de HDL (o “colesterol bom”) estavam associados ao aumento das proteínas relacionadas ao Alzheimer. Curiosamente, indivíduos com altos níveis de HDL apresentaram uma redução na quantidade de amiloide, sugerindo que fatores metabólicos podem modular os riscos associados à obesidade.
“Este é o primeiro estudo a demonstrar essas associações na meia-idade”, afirmou Mahsa Dolatshahi, autora principal do estudo. Segundo ela, compreender esses mecanismos abre novas possibilidades para intervenções preventivas baseadas no controle metabólico e na redução da gordura corporal.
Implicações para prevenção e tratamento
A pesquisa destaca a importância de estratégias preventivas voltadas para o controle da obesidade e seus impactos metabólicos. Intervenções como dietas balanceadas, exercícios físicos regulares e tratamentos médicos voltados à perda de peso podem reduzir significativamente os riscos associados à gordura visceral.
Cyrus Raji, professor da Universidade Washington e coautor do estudo, enfatizou que combater problemas metabólicos relacionados à obesidade é essencial para gerenciar o risco de Alzheimer. Ele também destacou que tratamentos direcionados à melhora do fluxo sanguíneo cerebral podem oferecer benefícios adicionais para reduzir a carga da doença.
No futuro, os pesquisadores planejam explorar como a redução da gordura visceral pode impactar diretamente o fluxo sanguíneo cerebral e retardar o avanço do Alzheimer. Essa abordagem multidisciplinar promete transformar o manejo preventivo da doença em populações vulneráveis.
Fonte: Revista Galileu.