Novichok: O veneno secreto que desafia a ciência e a política
Desenvolvido na Guerra Fria, o Novichok é uma arma química letal, conhecida por sua toxicidade extrema e uso em casos de envenenamento político.
O Novichok, cujo nome significa “novato” em russo, é um grupo de agentes químicos neurotóxicos desenvolvidos pela União Soviética durante as décadas de 1970 e 1980. Criado como parte do programa secreto Foliant, seu objetivo era superar as armas químicas tradicionais em letalidade e eficiência. Este agente se tornou amplamente conhecido após ser usado em episódios de envenenamento de figuras políticas, como o caso do ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha Yulia em 2018.
Classificado como uma arma química de quarta geração, o Novichok é cinco a oito vezes mais letal que o gás VX, até então considerado uma das substâncias mais perigosas do mundo. Sua composição única permite que seja transportado em componentes separados, conhecidos como agentes binários, que só reagem quando misturados. Essa característica dificulta sua detecção e rastreamento.
A toxicidade do Novichok está diretamente ligada à sua capacidade de bloquear a enzima acetilcolinesterase, essencial para a comunicação entre nervos e músculos. Isso resulta em paralisia muscular, convulsões e, em casos graves, morte por asfixia ou falência cardíaca.
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Os casos mais notórios envolvendo Novichok
O uso do Novichok ganhou notoriedade global após o ataque contra Sergei Skripal e sua filha na cidade britânica de Salisbury. Ambos foram encontrados inconscientes em um parque e sobreviveram após semanas de tratamento intensivo. No entanto, uma moradora local morreu ao manusear um frasco que continha vestígios da substância.
Outro caso emblemático foi o envenenamento do opositor russo Alexei Navalny. Investigadores alemães confirmaram que ele foi exposto ao Novichok, possivelmente através de um chá contaminado. Navalny sobreviveu, mas o incidente gerou uma crise diplomática significativa entre Rússia e países ocidentais.
A persistência do Novichok no ambiente é outro fator alarmante. Ele não se decompõe rapidamente, representando um risco prolongado para quem entra em contato com áreas contaminadas. Em Salisbury, as operações de descontaminação levaram quase um ano para serem concluídas.
A origem secreta e os desafios éticos
A existência do Novichok foi revelada na década de 1990 pelo químico Vil Mirzayanov, que trabalhou no programa Foliant antes de se exilar nos Estados Unidos. Ele descreveu como a substância foi projetada para ser indetectável pelos sistemas ocidentais da época, tornando-se uma arma estratégica durante a Guerra Fria.
A Rússia nega oficialmente a existência do programa Novichok, apesar das evidências apresentadas por dissidentes e investigações internacionais. A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) incluiu o Novichok em sua lista de substâncias proibidas apenas recentemente, destacando os desafios regulatórios enfrentados para controlar esse tipo de armamento.
A dificuldade em rastrear a origem exata do Novichok após seu uso complica ainda mais as investigações sobre ataques químicos. Essa característica foi intencionalmente projetada para minimizar as chances de responsabilização internacional.
Perspectivas futuras e implicações globais
A persistência do Novichok como uma ameaça global levanta questões sobre segurança internacional e ética no desenvolvimento de armas químicas. Apesar dos esforços para banir seu uso, incidentes recentes mostram que ele continua sendo uma ferramenta política perigosa.
A comunidade internacional enfrenta desafios significativos para garantir que substâncias como o Novichok sejam completamente eliminadas. Isso inclui maior transparência por parte dos países signatários da Convenção sobre Armas Químicas e avanços na tecnologia de detecção.
No entanto, enquanto houver lacunas na fiscalização e na cooperação global, o Novichok permanecerá como um lembrete sombrio dos perigos das armas químicas modernas.
Fonte: Superinteressante.