Curiosão

A inacreditável história de quem diz ser Jesus Cristo

Ao longo da história, dezenas de pessoas fizeram uma alegação chocante: “Eu sou Jesus Cristo”.

Muitas pessoas que conhecem o Cristianismo e a Bíblia esperam pela segunda vinda de Jesus Cristo, um evento profetizado há milênios. A grande questão que fica no ar é como exatamente esse retorno aconteceria e se já não estamos vivendo essa realidade. Ao longo dos séculos, várias pessoas surgiram com a audaciosa afirmação de que elas eram, de fato, o Messias retornado à Terra.

Essa ideia fascina e assusta na mesma medida, levantando debates sobre fé, loucura e a capacidade humana de acreditar no extraordinário. Será que algum desses indivíduos realmente carregava uma centelha divina ou seriam todos mestres da manipulação? Cada história é um universo particular, misturando crenças profundas com acontecimentos por vezes sombrios e trágicos.

Prepare-se para conhecer as figuras mais marcantes que não apenas se declararam reencarnações de Jesus, mas que arrastaram multidões e deixaram um legado inesquecível. Vamos mergulhar nessas biografias incríveis e entender o que levou cada uma delas a se ver como mais do que um simples mortal. A jornada por essas vidas peculiares nos mostra muito sobre a sociedade e a busca por um salvador.

David Koresh: O Cordeiro de Waco

Retrato de David Koresh, líder do culto Ramo Davidiano, usando óculos e com uma expressão séria.
Koresh se via como uma figura profética, o que culminou em um dos eventos mais trágicos da história americana. (Fonte da Imagem: Public Domain)

David Koresh se tornou uma das figuras mais notórias dos Estados Unidos, não apenas por suas alegações, mas pelo fim violento de sua jornada. Ele era o líder carismático do Ramo Davidiano, uma seita religiosa que se isolou do mundo em um complexo no Texas. Para seus seguidores, Koresh não era um homem comum, mas sim “o Filho de Deus, o Cordeiro” destinado a cumprir profecias apocalípticas.

Sua liderança era absoluta, controlando todos os aspectos da vida de seus fiéis e preparando-os para o que ele acreditava ser o fim dos tempos. A comunidade vivia sob suas regras rígidas, convencida de que ele possuía uma linha direta com o divino. Essa crença inabalável em sua divindade foi o que manteve o grupo unido e isolado da sociedade.

Tudo culminou no trágico cerco de Waco em 1993, um confronto de 51 dias com as autoridades federais que resultou na morte de mais de 70 pessoas, incluindo Koresh. O homem que se dizia o Cordeiro de Deus levou seus seguidores a um fim devastador. Sua história se tornou um alerta sombrio sobre o poder da fé cega e da liderança messiânica.

Krishna Venta: O Cristo da Califórnia

Krishna Venta, vestido com túnicas, falando para um grupo de seguidores em um ambiente externo.
Venta fundou seu culto na Califórnia, atraindo seguidores com uma mistura de cristianismo e ideias excêntricas. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Nos vibrantes anos 40 da Califórnia, um homem chamado Francis Herman Pencovic decidiu que seu nome de batismo não era grandioso o suficiente para sua missão. Ele se reinventou como Krishna Venta e fundou um culto peculiar chamado “Fonte do Mundo da WKFL”. O acrônimo WKFL representava Sabedoria, Conhecimento, Fé e Amor (Wisdom, Knowledge, Faith and Love), pilares que ele prometia entregar aos seus devotos.

O movimento rapidamente ganhou tração, estabelecendo uma base em um vale californiano e atraindo pessoas em busca de um novo tipo de espiritualidade. Venta se apresentava como um guia iluminado, um mestre que possuía respostas para os maiores dilemas da vida. Seu carisma era inegável, e ele conseguiu construir uma comunidade dedicada em torno de sua figura enigmática.

O culto de Venta se tornou um ponto de referência local, misturando ideais de vida comunitária com uma teologia inventada por seu próprio líder. A Califórnia do pós-guerra era um terreno fértil para novas ideias e movimentos espirituais. Krishna Venta soube aproveitar esse momento para se estabelecer como uma figura messiânica para os desiludidos.

Uma origem de outro planeta

Krishna Venta em um retrato formal, com barba e cabelos longos, olhando diretamente para a câmera.
Suas alegações iam muito além de ser Jesus, incluindo uma origem extraterrestre. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A ambição de Krishna Venta não conhecia limites, e em abril de 1948, ele fez sua declaração mais ousada. Em um momento de aparente revelação, ele proclamou para quem quisesse ouvir: “Eu posso muito bem dizer isso, eu sou Cristo”. Essa afirmação transformou seu status de líder de culto para o de uma divindade encarnada aos olhos de seus seguidores.

Mas a história de sua origem era ainda mais fantástica e ia muito além de uma simples reencarnação de Jesus. Venta afirmava ter vindo de um planeta distante chamado Neofrates, onde teria nascido há impressionantes 240.000 anos. Essa narrativa cósmica adicionava uma camada de ficção científica à sua teologia já excêntrica.

Essa combinação de messianismo cristão com uma história de origem alienígena era única e cativante para muitos. Ele não era apenas o salvador prometido na Bíblia, mas um ser interplanetário com uma sabedoria milenar. Essa dualidade bizarra foi fundamental para solidificar sua imagem como um ser verdadeiramente especial e de outro mundo.

Kondratii Selivanov: O fundador da seita Skoptsy

Ilustração antiga de Kondratii Selivanov, uma figura religiosa do Império Russo com uma aparência severa.
Selivanov levou suas crenças a extremos físicos, criando uma das seitas mais infames da Rússia. (Fonte da Imagem: Public Domain)

No Império Russo do século XVIII, um homem chamado Kondratii Selivanov deu origem a uma das seitas mais radicais e temidas da história. Conhecida como Skoptsy, sua doutrina era baseada em uma interpretação extrema da pureza espiritual e física. Selivanov se via como a reencarnação não apenas de Jesus Cristo, mas também do Czar Pedro III.

O ponto central e mais infame de sua crença era a prática da castração para homens e a mastectomia para mulheres. Para Selivanov, a salvação só poderia ser alcançada através da remoção completa do desejo carnal e dos “pecados da carne”. Ele justificava essa prática brutal afirmando que o próprio Jesus também havia sido castrado, uma ideia que não tem qualquer base bíblica.

Essa mutilação ritualística era vista como o “batismo de fogo”, o sacrifício definitivo para alcançar a santidade. A seita Skoptsy atraiu seguidores que estavam dispostos a passar por essa provação em nome de sua fé. O legado de Selivanov é um dos exemplos mais sombrios de como a interpretação religiosa pode levar a atos de automutilação em massa.

Marshall Applewhite: O portal para o paraíso

Marshall Applewhite em um vídeo, com olhos intensos e cabelo curto, falando com convicção.
Applewhite prometia a seus seguidores uma jornada para um nível superior de existência através de uma nave espacial. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Marshall Applewhite é uma figura que permanece na memória coletiva dos Estados Unidos por um motivo trágico e bizarro. Junto com sua parceira Bonnie Nettles, ele fundou a seita ‘Heaven’s Gate’ (Portão do Céu) em 1974. Applewhite acreditava ser uma reencarnação de Jesus, mas sua teologia era uma mistura única de cristianismo, ufologia e ascetismo.

Ele ensinava que a Terra estava prestes a ser “reciclada” e que a única chance de salvação era abandonar o corpo humano. Segundo suas crenças, uma nave espacial estava escondida na cauda do cometa Hale-Bopp, pronta para resgatar as almas de seus seguidores. Para embarcar nessa nave, eles precisariam se livrar de seus “veículos” terrenos.

Em 1997, essa crença levou a um dos maiores suicídios em massa da história dos EUA. Applewhite e 38 de seus seguidores tiraram a própria vida em uma mansão na Califórnia, acreditando que suas consciências seriam transportadas para a nave. A tragédia do Heaven’s Gate se tornou um conto sombrio sobre a busca pela transcendência a qualquer custo.

As duas testemunhas do Apocalipse

Marshall Applewhite e Bonnie Nettles juntos, em uma imagem que reflete a parceria na liderança do culto Heaven's Gate.
A dupla se via como figuras proféticas centrais, destinadas a guiar a humanidade para o próximo nível evolutivo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A mitologia criada por Marshall Applewhite e Bonnie Nettles era complexa e profundamente enraizada em textos bíblicos, reinterpretados de forma peculiar. Além de Applewhite se considerar a reencarnação de Cristo, ele e Nettles se viam como as duas testemunhas descritas no Livro do Apocalipse. Eles acreditavam ter uma missão divina de alertar a humanidade sobre a transição iminente.

Essa identidade de “testemunhas” conferia-lhes uma autoridade profética inquestionável entre seus seguidores. Eles eram os únicos que possuíam o conhecimento necessário para guiar as almas para o “Nível Acima do Humano”. Essa narrativa criava um senso de urgência e exclusividade que mantinha o grupo coeso e isolado de influências externas.

A parceria entre Applewhite e Nettles foi a força motriz por trás do Heaven’s Gate até a morte dela em 1985. Mesmo após sua partida, Applewhite continuou a pregar suas crenças compartilhadas, levando o grupo ao seu fim trágico. A ideia de serem as duas testemunhas foi crucial para justificar as medidas extremas que eles exigiam de seus fiéis.

John Nichols Thom: O Rei de Jerusalém

Ilustração de época de John Nichols Thom, que se autoproclamou rei e salvador do mundo.
Thom criou para si uma identidade nobre e divina, o que o levou a um confronto fatal com as autoridades. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Nascido na Cornuália, Inglaterra, John Nichols Thom era um homem com uma imaginação grandiosa e uma ambição ainda maior. Ele não se contentou em ser apenas mais um cidadão comum e adotou um título pomposo: “Sir William Percy Honeywood Courtney, Rei de Jerusalém”. Com esse novo nome, ele começou a construir uma persona de nobreza e poder divino.

Suas alegações não paravam por aí, pois ele também se declarava o “salvador do mundo” e a reencarnação de Jesus Cristo. Thom conseguiu reunir um grupo de seguidores entre os trabalhadores rurais empobrecidos, prometendo-lhes justiça social e redenção. Sua mensagem ressoou com aqueles que se sentiam abandonados pela sociedade e pela Igreja.

Sua crescente influência e retórica inflamada acabaram por colocá-lo em rota de colisão com as autoridades. Em 1838, ele liderou seus seguidores em uma rebelião que ficou conhecida como a Batalha de Bossenden Wood. O confronto resultou na morte de Thom e de vários de seus seguidores, pondo um fim sangrento ao seu reinado autoproclamado.

Bahá’u’lláh: O prometido de muitas religiões

Retrato fotográfico de Bahá'u'lláh, o fundador da Fé Bahá'í, com um olhar sereno e turbante.
Bahá’u’lláh não se limitou a uma única profecia, alegando ser a figura esperada por diversas fés globais. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Em 1863, um nobre persa chamado Mírzá Husayn-‘Alí Núrí, mais conhecido como Bahá’u’lláh, fundou o que hoje é conhecido como a Fé Bahá’í. Ele não se via apenas como um profeta, mas como a manifestação de Deus para a era moderna. Sua mensagem central era a da unidade da humanidade e da unidade de todas as religiões.

Bahá’u’lláh acreditava ser o cumprimento das profecias sobre a Segunda Vinda de Jesus, mas sua reivindicação era muito mais ampla. Ele também se declarava o “Prometido” aguardado por outras grandes religiões, como o Mahdi para os muçulmanos e o novo Buda para os budistas. Em sua visão, ele era a figura unificadora que todas as fés estavam esperando.

Sua doutrina atraiu milhares de seguidores, mas também provocou a ira das autoridades religiosas e seculares da Pérsia e do Império Otomano. Por causa de suas crenças, ele passou a maior parte de sua vida como prisioneiro e exilado. Apesar da perseguição, a Fé Bahá’í sobreviveu e hoje é uma religião mundial com milhões de adeptos.

William W. Davies: O anjo com um filho divino

Fotografia de época de William W. Davies, líder da seita Reino dos Céus, com barba e aparência solene.
As alegações de Davies eram complexas, envolvendo toda sua família em uma narrativa bíblica. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A história de William W. Davies é uma das mais curiosas na galeria de líderes de culto com complexos divinos. Como líder do grupo “Reino dos Céus”, ele não afirmava ser Jesus, mas sim uma figura igualmente importante: o arcanjo Miguel. Ele acreditava ter a missão de preparar o caminho para uma nova era de divindade na Terra.

Sua teologia pessoal era ainda mais complexa, pois ele dizia ter vivido anteriormente como outras figuras bíblicas proeminentes, incluindo Adão e Abraão. Essa linhagem sagrada o colocava em uma posição única de autoridade espiritual. Seus seguidores acreditavam que ele era um canal direto para a vontade de Deus.

A narrativa divina de Davies se estendeu à sua própria família de uma forma surpreendente. Ele alegava que seu primeiro filho era a reencarnação literal de Jesus Cristo. Como se isso não fosse o suficiente, seu segundo filho era, segundo ele, o próprio Deus Pai encarnado.

José Luis de Jesús: O Cristo e o Anticristo

José Luis de Jesús Miranda em um palanque, gesticulando para uma multidão durante um evento de sua igreja.
Sua teologia era cheia de contradições, abraçando tanto o bem quanto o mal em sua própria identidade. (Fonte da Imagem: Public Domain)

José Luis de Jesús Miranda apresentou uma das teologias mais paradoxais e chocantes entre os que se diziam o Messias. Fundador da seita “Creciendo en Gracia” (Crescendo em Graça), ele começou sua jornada alegando que o espírito de Jesus Cristo havia se integrado ao seu corpo. Até aí, sua história se assemelhava à de muitos outros líderes de culto.

No entanto, sua doutrina deu uma virada sombria e inesperada que o diferenciou de todos os outros. Além de se proclamar Jesus Cristo, ele também declarou ser o Anticristo. Essa dualidade desconcertante era o cerne de sua mensagem, que ele descrevia como uma nova revelação para a humanidade.

Ele ensinava que o diabo e o pecado não existiam mais, pois ele os havia destruído, e que seus seguidores, marcados com o número “666”, estavam livres de qualquer lei moral. Essa ideia atraiu milhares de pessoas em toda a América Latina e nos Estados Unidos. A figura de “Jesucristo Hombre” se tornou um fenômeno controverso, misturando salvação e rebelião.

Cyrus Teed: O messias da Terra Oca

Retrato de Cyrus Teed, um médico e alquimista americano que fundou sua própria religião.
Teed misturou ciência, alquimia e religião para criar uma das cosmologias mais bizarras de todos os tempos. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Cyrus Teed era um homem de múltiplos talentos e crenças ainda mais diversas, atuando como médico e alquimista nos Estados Unidos. Sua vida mudou para sempre após uma suposta visão em seu laboratório, onde ele acreditou ter recebido uma iluminação divina. A partir desse momento, ele se convenceu de que era a reencarnação de Jesus Cristo.

Com essa nova identidade messiânica, ele fundou um sistema de crenças único chamado “Koreshanity”. O pilar central dessa doutrina era a teoria da Terra Oca, que postulava que a humanidade vivia no interior de uma esfera côncava, e não em sua superfície. O universo inteiro, segundo Teed, estava contido dentro dessa esfera.

Essa cosmologia bizarra, segundo ele, não era uma mera teoria, mas um conhecimento revelado diretamente por Deus. Ser a encarnação de Cristo lhe dava acesso a verdades cósmicas que a ciência tradicional não conseguia compreender. Seus seguidores se mudaram para uma comuna na Flórida para viver de acordo com seus ensinamentos, esperando a prova final de sua divindade.

Shoko Asahara: O cordeiro do terror

Shoko Asahara, líder do culto japonês Aum Shinrikyo, com longa barba e cabelos, em uma imagem de arquivo.
Asahara se apresentava como uma figura de paz, mas suas ações levaram a um dos piores ataques terroristas do Japão. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Shoko Asahara, o carismático e aterrorizante líder da seita japonesa Aum Shinrikyo, construiu um império baseado em alegações divinas. Ele se apresentava a seus seguidores como a reencarnação de Cristo e o “cordeiro de Deus”, destinado a purificar o mundo. Sua mensagem era uma fusão de budismo, hinduísmo e profecias apocalípticas cristãs.

Ele prometia aos seus devotos a iluminação espiritual e poderes sobrenaturais, atraindo milhares de jovens e intelectuais japoneses. O culto acumulou uma vasta fortuna e recursos, operando quase como um estado paralelo. Por trás da fachada de espiritualidade, no entanto, Asahara preparava seus seguidores para uma guerra santa contra o mundo.

Essa preparação culminou no terrível ataque com gás sarin no metrô de Tóquio em 1995, que chocou o Japão e o mundo. O “cordeiro de Deus” se revelou um terrorista, orquestrando um ato de violência indiscriminada em nome de suas crenças distorcidas. A história de Shoko Asahara é um exemplo extremo de como o messianismo pode se transformar em fanatismo mortal.

Carl Browne: O receptáculo da alma de Cristo

Fotografia de Carl Browne, uma figura proeminente do movimento de protesto do Exército de Coxey, com uma aparência distinta.
A alegação de Browne era mais sutil, mas ainda assim o colocava em uma posição de autoridade espiritual única. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A história de Carl Browne oferece uma variação interessante sobre o tema da reencarnação de Cristo. Ele foi um dos líderes do Exército de Coxey, um movimento de protesto formado por trabalhadores desempregados que marcharam até Washington em 1894. Browne era conhecido por sua retórica inflamada e sua aparência excêntrica, que incluía botas de couro e um chapéu de cowboy.

Diferente de outros nesta lista, Browne não afirmava ser literalmente Jesus Cristo em um novo corpo. Sua alegação era mais metafísica e sutil, pois ele dizia possuir elementos da alma de Jesus dentro de si. Essa crença lhe dava, em sua visão, uma conexão especial e uma autoridade espiritual para liderar os oprimidos.

Essa ideia de ser um receptáculo parcial da alma de Cristo permitiu que ele se posicionasse como uma figura messiânica sem as implicações mais radicais de uma reencarnação completa. Ele se via como um canal para o espírito revolucionário e compassivo de Jesus, usando essa identidade para inspirar o movimento de protesto. Sua história mostra a flexibilidade com que a identidade de Cristo pode ser adaptada para diferentes propósitos.

John Hugh Smyth-Pigott: O herdeiro da divindade

Retrato de Henry Prince, o fundador original da seita Agapemonites, que foi sucedida por Smyth-Pigott.
A seita Agapemonites teve dois líderes que se viam como divinos, sendo Smyth-Pigott o sucessor que se declarou Jesus. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A comunidade conhecida como Agapemonites, ou “Comunidade do Filho do Homem”, teve uma sucessão de líderes com pretensões divinas. O fundador original foi Henry Prince, que estabeleceu a seita na Inglaterra vitoriana com base em suas próprias interpretações da Bíblia. A comunidade vivia de forma isolada, acreditando estar à parte das leis e da moralidade do mundo exterior.

Após a morte de Prince, a liderança foi assumida por John Hugh Smyth-Pigott, um ex-clérigo da Igreja da Inglaterra. Foi Smyth-Pigott quem levou as alegações da seita a um novo patamar. Ele chocou a sociedade britânica ao se declarar publicamente a reencarnação de Jesus Cristo durante um sermão.

Essa declaração causou um enorme escândalo e motins, mas solidificou sua autoridade dentro da comunidade reclusa dos Agapemonites. Ele viveu o resto de sua vida como o “Messias” da seita, cercado por seus seguidores devotos. A história da comunidade mostra como a crença na divindade de um líder pode ser transferida de uma geração para a outra.

Reverendo Jim Jones: O Messias de Jonestown

O Reverendo Jim Jones falando em um microfone, com seus característicos óculos escuros e expressão intensa.
Jones se via como a culminação de várias figuras históricas e divinas, uma crença que alimentou seu poder sobre o Templo dos Povos. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Reverendo Jim Jones é, sem dúvida, um dos líderes de culto mais infames do século XX, e suas alegações eram tão grandiosas quanto seu poder de manipulação. Como fundador do Templo dos Povos, ele não se contentava em ser apenas a reencarnação de Jesus Cristo. Sua identidade divina era um panteão de figuras históricas e espirituais notáveis.

Jones afirmava ser a reencarnação do faraó egípcio Aquenáton, de Buda e até mesmo de Vladimir Lenin. Essa fusão de identidades religiosas e políticas refletia sua ideologia, que misturava cristianismo pentecostal com socialismo utópico. Para seus seguidores, ele era a síntese de todas as grandes forças transformadoras da história humana.

Essa autoproclamada divindade multifacetada era uma ferramenta poderosa para manter o controle sobre seus fiéis. Ele se apresentava como a única esperança para um mundo corrupto, prometendo criar uma sociedade igualitária e livre de racismo. Por trás dessa promessa, no entanto, ele construía um culto de personalidade que levaria a um desfecho terrível.

O fim trágico no Templo dos Povos

Vista aérea de Jonestown, na Guiana, mostrando as construções da comunidade isolada fundada por Jim Jones.
O sonho de uma utopia na selva se transformou em um pesadelo que terminou em um massacre sem precedentes. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A busca de Jim Jones por uma utopia o levou a transferir sua comunidade para um assentamento remoto na Guiana, que ele batizou de Jonestown. Lá, isolado do mundo exterior, seu controle sobre os seguidores se tornou absoluto e paranoico. A promessa de um paraíso socialista rapidamente se transformou em um campo de trabalhos forçados vigiado.

Em 18 de novembro de 1978, a história do Templo dos Povos chegou a um fim catastrófico. Após a visita de um congressista americano que investigava denúncias de abuso, Jones ordenou que seus seguidores cometessem um “suicídio revolucionário”. Mais de 900 pessoas, incluindo centenas de crianças, morreram ao ingerir veneno.

Logo após orquestrar o massacre de seus próprios fiéis, Jim Jones tirou a própria vida. O evento de Jonestown se tornou um sinônimo de lavagem cerebral e dos perigos mortais dos cultos destrutivos. O homem que se via como um salvador acabou se tornando o arquiteto de uma das maiores tragédias da história moderna.

Haile Selassie I: O Messias Rastafari

O Imperador Haile Selassie I da Etiópia, em trajes militares formais, representando sua autoridade real.
Embora nunca tenha reivindicado o título, Selassie se tornou uma figura messiânica para milhões de pessoas. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A história de Haile Selassie I, o último Imperador da Etiópia, é única porque sua divindade foi atribuída a ele por outros, e não proclamada por ele mesmo. Para o movimento Rastafári, que surgiu na Jamaica na década de 1930, Selassie era visto como a reencarnação de Jesus Cristo. Ele era considerado o Messias que retornou para redimir o povo negro.

Essa crença se baseava em interpretações de profecias bíblicas e nos escritos de Marcus Garvey, que pregava o retorno à África. O título de Selassie antes de sua coroação, Ras Tafari Makonnen, deu nome ao movimento. Sua linhagem, que supostamente remonta ao Rei Salomão e à Rainha de Sabá, reforçou sua imagem como uma figura bíblica viva.

Curiosamente, o próprio Haile Selassie, um devoto cristão ortodoxo etíope, nunca afirmou ser Jesus nem endossou as crenças rastafáris. Apesar de suas negativas, para milhões de rastas em todo o mundo, ele permanece como Jah, a representação de Deus na Terra. Sua figura mostra como o messianismo pode surgir de forma espontânea e ser projetado sobre uma pessoa.

Álvaro Thais “Inri Cristo”: O Messias de Brasília

Inri Cristo, sentado em um trono, vestido com uma túnica branca e coroa, cercado por suas seguidoras.
Figura conhecida no Brasil, Inri Cristo vive em uma comunidade nos arredores da capital federal. (Fonte da Imagem: Divulgação)

No coração do Brasil, uma figura peculiar e midiática afirma ser a reencarnação de Jesus há décadas. Álvaro Thais, que adotou o nome de Inri Cristo, é o fundador da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (SOUST). Ele vive com suas seguidoras em uma comunidade murada perto de Brasília, que ele chama de a “Nova Jerusalém”.

Inri Cristo alega que sua consciência despertou como a de Cristo durante um jejum no Chile em 1979. Desde então, sua missão declarada é pregar o amor e, acima de tudo, “ajudar a pessoa a pensar por si mesma sem ser escrava de uma religião”. Ele é uma figura constante na mídia brasileira, conhecido por sua aparência, seus discursos e suas canções versionadas.

Apesar de ser frequentemente tratado como uma figura folclórica ou excêntrica, Inri Cristo mantém um grupo fiel de discípulas que o servem e acreditam em sua divindade. Sua longevidade como personagem público é um testemunho de sua resiliência e da capacidade de manter sua narrativa messiânica viva. Ele se tornou um ícone da paisagem religiosa alternativa do Brasil.

Sun Myung Moon: O ‘Pai Verdadeiro’ da Coreia

Sun Myung Moon discursando em um grande evento, com uma expressão séria e determinada.
Moon construiu um império global religioso e empresarial, proclamando-se a Segunda Vinda de Cristo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Sun Myung Moon, o poderoso fundador da Igreja da Unificação na Coreia do Sul, alegava ter recebido uma missão diretamente de Jesus aos 15 anos. Segundo ele, Jesus apareceu e pediu que ele completasse sua missão inacabada na Terra. Isso o levou a se declarar a Segunda Vinda de Cristo, o novo Messias para a humanidade.

A teologia de Moon era complexa, afirmando que Jesus falhou em sua missão porque não se casou e não teve filhos para criar uma linhagem pura. Moon e sua esposa, Hak Ja Han, se autodenominavam os “Verdadeiros Pais” da humanidade. Eles se viam como o Adão e Eva restaurados, destinados a purificar a linhagem humana através de seus ensinamentos.

Seus seguidores, conhecidos como “moonies”, o reverenciavam como o salvador e se submetiam à sua autoridade absoluta em todos os aspectos da vida. A Igreja da Unificação se expandiu globalmente, tornando-se um império religioso e empresarial multimilionário. A figura de Moon como o “Pai Verdadeiro” foi central para o sucesso e a controvérsia de seu movimento.

Casamentos em massa como ritual

Milhares de casais vestidos com trajes de casamento idênticos em um estádio, durante uma cerimônia da Igreja da Unificação.
As cerimônias de casamento coletivo se tornaram a marca registrada e o ritual mais famoso da igreja de Moon. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Uma das práticas mais famosas e visualmente impressionantes da Igreja da Unificação eram os casamentos em massa. Nessas cerimônias grandiosas, milhares de casais, muitas vezes de nacionalidades diferentes, eram unidos em matrimônio simultaneamente. Esses eventos eram a manifestação prática da teologia de Sun Myung Moon sobre a purificação da linhagem humana.

O próprio Moon selecionava os parceiros, muitas vezes unindo pessoas que nunca tinham se visto antes. Ele então abençoava pessoalmente essas uniões, que eram vistas como a criação de famílias “verdadeiras” e sem pecado. A foto em questão, por exemplo, mostra 790 casais trocando alianças em uma cerimônia em 1970.

Esses casamentos coletivos eram um espetáculo de devoção e controle, simbolizando a submissão total dos seguidores à vontade de seus “Verdadeiros Pais”. Para o mundo exterior, eram uma prática bizarra e controversa. Para os membros da igreja, era o passo mais importante para a salvação e a construção do Reino dos Céus na Terra.

Apollo Quiboloy: O Filho Nomeado de Deus

Apollo Quiboloy, líder religioso filipino, sorrindo e acenando para seus seguidores.
Quiboloy se apresenta com um título único, que o coloca em uma posição especial na teologia cristã. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Nas Filipinas, o pastor Apollo Quiboloy lidera uma igreja restauracionista massiva chamada “O Reino de Jesus Cristo, o Nome Acima de Todos os Nomes”. Amigo próximo do ex-presidente Rodrigo Duterte, Quiboloy é uma figura poderosa e controversa em seu país. Sua reivindicação divina é específica e cuidadosamente formulada.

Ele não se diz a reencarnação de Jesus, mas sim o “Filho Nomeado de Deus”. Segundo sua doutrina, Deus Pai o ungiu como seu herdeiro e representante na era moderna, dando-lhe autoridade sobre a criação. Essa posição o coloca como o sucessor espiritual de Jesus, encarregado de governar a nova era.

Seu ministério atrai milhões de seguidores e possui um vasto império de mídia, incluindo redes de televisão e rádio. Quiboloy vive um estilo de vida luxuoso, com jatos particulares e propriedades, que ele justifica como bênçãos divinas. Sua figura como o “Filho Nomeado” continua a gerar tanto devoção quanto acusações de abuso e exploração.

Ann Lee: A encarnação feminina de Cristo

Ilustração de Ann Lee, fundadora dos Shakers, pregando para seus seguidores com fervor.
Ann Lee introduziu uma perspectiva feminina na divindade, vendo-se como a contraparte de Jesus. (Fonte da Imagem: BrunoPress)

Ann Lee, também conhecida como Madre Ann Lee, introduziu uma ideia revolucionária na teologia do século XVIII. Ela foi a fundadora da Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição de Cristo, mais conhecidos como os Shakers. O nome “Shakers” veio de sua prática de adoração extática, que envolvia tremores, danças e cânticos.

A crença central de Ann Lee era que Deus era dual, possuindo tanto um aspecto masculino quanto um feminino. Jesus, segundo ela, representava a primeira vinda de Cristo na forma masculina. Ela, por sua vez, era a encarnação feminina de Cristo, completando a revelação divina com a Segunda Vinda.

Essa teologia levou os Shakers a praticarem o celibato estrito e a viverem em comunidades igualitárias, onde homens e mulheres tinham papéis de liderança. Eles se tornaram conhecidos por sua ética de trabalho, simplicidade e designs de móveis inovadores. Ann Lee é uma figura fascinante que desafiou as noções patriarcais de Deus e se posicionou como a contraparte feminina do Salvador.

Charles Manson: O Cristo do caos

Charles Manson em uma fotografia policial, com cabelo longo, barba e um olhar selvagem e penetrante.
Manson usou a identidade de Cristo para manipular seus seguidores e incitá-los a cometer assassinatos brutais. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Charles Manson é um dos nomes mais sombrios da cultura americana, o líder infame da “Família Manson”. Ele orquestrou uma série de assassinatos brutais no final dos anos 60, incluindo o da atriz Sharon Tate. Manson usava uma mistura de carisma, drogas e manipulação psicológica para controlar seus jovens seguidores.

Parte fundamental de sua manipulação era sua autoidentificação como a reencarnação de Jesus Cristo. Ele dizia a seus seguidores que ele era o salvador deles, uma figura messiânica destinada a guiá-los através de uma guerra racial apocalíptica que ele chamava de “Helter Skelter”. Essa identidade divina justificava suas ordens, não importando o quão violentas fossem.

Ao se apresentar como Cristo, Manson transformou um grupo de jovens desajustados em assassinos a seu serviço. Sua interpretação da figura de Jesus não era de paz e amor, mas de caos, julgamento e revolução violenta. A história da Família Manson é um lembrete terrível de como a retórica religiosa pode ser torcida para os fins mais depravados.

Yahweh ben Yahweh: O Messias nacionalista

Yahweh ben Yahweh, nascido Hulon Mitchell Jr., usando um turbante branco e vestes religiosas.
Ele fundou a Nação de Yahweh, pregando uma forma de nacionalismo negro e se declarando o filho de Deus. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Nascido como Hulon Mitchell Jr., ele se reinventou como Yahweh ben Yahweh, que significa “Deus, filho de Deus” em hebraico. Em 1979, ele fundou a Nação de Yahweh, um movimento religioso de nacionalismo negro com sede em Miami. Ele ensinava que os negros eram os verdadeiros israelitas e que os brancos eram “demônios brancos”.

Ao se autoproclamar o filho de Deus, Yahweh ben Yahweh exigia lealdade absoluta de seus seguidores. Ele construiu um império financeiro através de doações e negócios, revitalizando bairros pobres e ganhando elogios de autoridades locais. Por trás da fachada de autoajuda comunitária, no entanto, havia um núcleo violento e controlador.

O grupo foi posteriormente ligado a vários assassinatos, extorsão e incêndios criminosos, sendo classificado como um culto racista e violento. Yahweh ben Yahweh foi condenado por conspiração para cometer assassinato, passando anos na prisão. Sua história ilustra como as alegações messiânicas podem ser combinadas com ideologias raciais para criar um movimento perigoso.

Laszlo Toth: O Cristo do Vandalismo

A famosa escultura Pietà de Michelangelo, mostrando o momento após o ataque de vandalismo cometido por Laszlo Toth.
O grito de Toth durante o ataque revelou a motivação delirante por trás de seu ato de destruição. (Fonte da Imagem: Public Domain)

A história de Laszlo Toth é a de um homem cuja reivindicação messiânica explodiu em um ato de vandalismo que chocou o mundo da arte. Em 1972, o geólogo húngaro-australiano atacou a famosa escultura Pietà de Michelangelo na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Ele usou um martelo de geólogo para desferir 15 golpes na obra-prima renascentista.

Enquanto vandalizava a estátua de mármore da Virgem Maria segurando o corpo de Jesus, Toth gritava palavras que revelavam seu estado mental. Em meio ao caos, ele bradou: “Eu sou Jesus Cristo — ressuscitado dos mortos!”. Seu ato não foi um protesto político, mas sim uma manifestação de seu delírio messiânico.

Toth foi rapidamente subjugado, mas o dano já estava feito, quebrando o braço e o nariz da Virgem Maria. Ele não foi acusado criminalmente devido à sua insanidade mental e passou dois anos em um hospital psiquiátrico na Itália. Sua história é um caso trágico de como a crença de ser Cristo pode levar a atos destrutivos e irracionais.

Thomas Harrison Provenzano: O assassino que se via crucificado

Foto de arquivo de Thomas Harrison Provenzano, um assassino condenado que acreditava ser Jesus Cristo.
Sua crença delirante o acompanhou até o corredor da morte, vendo sua execução como um martírio. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Thomas Harrison Provenzano foi um assassino condenado que viveu seus últimos dias imerso em um profundo delírio messiânico. Condenado à morte por um tiroteio em um tribunal da Flórida em 1984, ele desenvolveu a crença de que era a reencarnação de Jesus Cristo. Essa convicção coloriu toda a sua percepção de sua situação legal e de seu destino.

Ele via seu julgamento e sua sentença não como a consequência de seus crimes, mas como uma perseguição religiosa. Provenzano comparou sua execução iminente com a crucificação de Jesus, vendo a si mesmo como um mártir. Sua advogada, Mary Kane, afirmou que sua crença era genuína e não uma tentativa de enganar o sistema.

“O Sr. Provenzano realmente acreditava que ele era Jesus Cristo”, disse Kane, lutando para que sua condição mental fosse reconhecida. Apesar dos apelos baseados em sua insanidade, ele foi executado em 2000. Sua história levanta questões complexas sobre a linha tênue entre a fé, a doença mental e a responsabilidade criminal.

Mirza Ghulam Ahmad: O Messias de duas fés

Retrato de Mirza Ghulam Ahmad, o fundador do Movimento Ahmadiyya, com uma expressão pensativa.
Ahmad se via como a figura profética destinada a unir o Islã e o Cristianismo sob sua liderança. (Fonte da Imagem: Public Domain)

No final do século XIX na Índia Britânica, Mirza Ghulam Ahmad fundou o Movimento Ahmadiyya, uma nova corrente dentro do Islã. Suas alegações eram duplamente ambiciosas, pois ele buscava ser a figura messiânica aguardada por duas das maiores religiões do mundo. Ele se apresentava como a ponte entre o Islã e o Cristianismo.

Ahmad afirmava ser não apenas a Segunda Vinda de Cristo, mas também o Mahdi, a figura redentora aguardada na tradição islâmica. Ele ensinava que Jesus não morreu na cruz, mas sobreviveu, viajou para a Caxemira e morreu de velhice. Sua própria vinda, portanto, era o cumprimento da profecia do retorno de Jesus em espírito.

Essas crenças o colocaram em conflito direto com a ortodoxia muçulmana e cristã, e seus seguidores enfrentam perseguição em muitos países até hoje. No entanto, o Movimento Ahmadiyya cresceu e se espalhou pelo mundo, atraindo milhões de seguidores. A reivindicação de Ahmad de ser o Messias para duas fés continua sendo um ponto central de sua teologia e de sua controvérsia.

Sergei Torop ‘Vissarion’: O Jesus da Sibéria

Sergei Torop, conhecido como Vissarion, com cabelos longos, barba e túnica, parecendo-se com a imagem popular de Jesus.
Este ex-policial de trânsito russo transformou sua vida para incorporar a imagem e a identidade de Cristo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Na vastidão da Sibéria, um ex-policial de trânsito chamado Sergei Torop passou por uma transformação radical no início dos anos 90. Após perder o emprego, ele afirmou ter tido uma revelação de que era a reencarnação de Jesus Cristo. Ele adotou o nome Vissarion e começou a reunir seguidores em torno de sua nova identidade divina.

Ele fundou a Igreja do Último Testamento e estabeleceu uma comunidade espiritual isolada chamada Ecopolis Tiberkul, também conhecida como a “Cidade do Sol”. Seus seguidores vivem de acordo com um conjunto de regras estritas, que incluem veganismo, abstinência de álcool e tabaco, e a proibição do uso de dinheiro. A comunidade funciona como uma sociedade autossuficiente e utópica.

Vissarion, o “Jesus da Sibéria”, se tornou uma figura de fascínio internacional, atraindo peregrinos de todo o mundo para sua remota comuna. Sua mensagem é uma mistura de cristianismo ortodoxo russo, budismo e ambientalismo. Recentemente, ele foi preso pelas autoridades russas sob acusações de extorsão e abuso, lançando uma sombra sobre seu paraíso siberiano.

A imagem e a mãe divina

Vissarion em meio aos seus seguidores na Sibéria, com sua aparência de Cristo se destacando na paisagem.
Sua aparência física e sua narrativa familiar reforçam sua reivindicação de ser o Messias retornado. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Uma parte crucial da persona de Vissarion é sua aparência física, que ele cultiva cuidadosamente para se assemelhar à imagem popular de Jesus. Com cabelos longos e castanhos, barba e vestindo túnicas brancas, ele personifica a iconografia ocidental de Cristo. Essa semelhança visual é uma ferramenta poderosa para reforçar sua credibilidade entre seus seguidores.

Sua narrativa familiar também adiciona uma camada de autenticidade divina à sua história. Embora ele reconheça ter uma mãe biológica, Vissarion afirma que sua verdadeira mãe espiritual não é outra senão a Virgem Maria. Essa conexão direta com a mãe de Jesus o coloca firmemente dentro da sagrada família cristã.

Essa combinação de aparência e narrativa cria uma identidade messiânica convincente para aqueles que buscam um salvador vivo. Ao se vestir e falar como Jesus e ao reivindicar a Virgem Maria como sua mãe, ele se insere diretamente na história bíblica. Esses detalhes são fundamentais para a fé que seus seguidores depositam nele.

David Shayler: O Messias denunciante

David Shayler, ex-agente do MI5, falando com a imprensa, com uma aparência mais convencional.
Shayler ganhou fama como denunciante antes de chocar o público com suas alegações messiânicas. (Fonte da Imagem: Getty Images)

David Shayler era mais conhecido como um ex-agente do serviço de inteligência britânico MI5 que se tornou um denunciante. Ele vazou informações confidenciais para a imprensa, alegando incompetência e atividades ilegais dentro da agência de espionagem. Sua vida, no entanto, tomou um rumo ainda mais inesperado e bizarro.

Em meio a suas batalhas legais e sua crescente imersão em teorias da conspiração, Shayler fez uma nova e chocante alegação. Ele declarou publicamente que era o Messias, a reencarnação de Cristo. Essa afirmação foi recebida com escárnio e preocupação, com muitos acreditando que ele havia sofrido um colapso mental.

Shayler chegou a viver em uma comunidade com outros ativistas, onde às vezes se vestia como mulher, apresentando-se como sua contraparte feminina, “Delores”. Sua jornada de espião a denunciante e, finalmente, a Messias autoproclamado é uma das mais estranhas e tristes desta lista. Ele representa um caso em que a pressão extrema parece ter levado a um delírio de grandeza.

Maurice Clemmons: O Jesus assassino

Foto policial de Maurice Clemmons, o assassino que matou quatro policiais em Washington.
Clemmons usou uma identidade messiânica para justificar seus atos de violência extrema. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Maurice Clemmons entrou para a história criminal dos Estados Unidos por um ato de violência brutal e sem sentido. Em 2009, ele entrou em uma cafeteria no estado de Washington e atirou em quatro policiais que estavam trabalhando em seus laptops. O crime chocou a nação e desencadeou uma enorme caçada humana.

Durante seu tempo como fugitivo e em declarações anteriores, Clemmons havia se referido a si mesmo como Jesus. Ele acreditava ser uma figura divina e que suas ações eram justificadas por uma autoridade superior. Sua identidade messiânica estava entrelaçada com uma longa história de instabilidade mental e comportamento criminoso.

Clemmons foi morto pela polícia dois dias após o massacre, encerrando sua onda de violência. Sua história é um exemplo sombrio de como os delírios de identidade divina podem se fundir com tendências violentas. Ele usou a figura de Jesus não para salvar, mas para justificar o assassinato a sangue frio.

Tyler James Mitchell
  • Tyler James Mitchell é o jornalista e autor por trás do blog Curiosão, apaixonado por desvendar temas de história e ciência. Sua missão é transformar o conhecimento complexo em narrativas acessíveis e fascinantes para o público.