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A Yakuza agoniza mas seu plano final já está em ação

Eles nasceram como párias, se tornaram os donos do submundo e sua história está longe de terminar.

Você já ouviu falar da Yakuza, a famosa máfia japonesa que parece saída de um filme, não é mesmo? O nome deles, que ironicamente significa “inútil” em um jogo de cartas, esconde uma jornada de 300 anos que transformou vendedores ambulantes em uma das redes criminosas mais temidas do mundo. Embora a polícia japonesa os chame oficialmente de Boryokudan, o nome Yakuza ecoa com força, especialmente aqui no Ocidente.

Por trás das tatuagens impressionantes e dos métodos brutais, existe uma organização que se infiltrou profundamente na alta sociedade do Japão. Décadas de repressão do governo e leis cada vez mais rígidas diminuíram drasticamente o número de membros e a visibilidade do grupo. No entanto, a sombra da Yakuza ainda paira sobre o país, com seus membros envolvidos em crimes que desafiam a imaginação, como a recente tentativa de traficar materiais nucleares.

Mas como um grupo de marginalizados conseguiu tanto poder e o que o futuro reserva para eles? A história da Yakuza é uma montanha-russa de poder, violência e códigos de honra que continuam a moldar o submundo. Prepare-se para conhecer os segredos de uma organização que se recusa a morrer.

As raízes da Yakuza

Ilustração antiga mostrando os primórdios da Yakuza no Japão feudal.
Os primeiros membros da Yakuza eram vistos como protetores das aldeias, uma imagem que mudaria drasticamente. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Para entender a Yakuza, precisamos voltar 300 anos no tempo, a um Japão bem diferente do que conhecemos hoje. As sementes da organização foram plantadas por dois grupos distintos que viviam à margem da sociedade. De um lado, tínhamos os Tekiya, vendedores ambulantes que viajavam de vilarejo em vilarejo.

Do outro lado estavam os Bakuto, homens que viviam de jogos de azar e apostas, operando em um mundo de ilegalidade. Com o tempo, esses dois grupos, que compartilhavam um sentimento de exclusão, começaram a se unir. Essa fusão de vendedores e apostadores criou a base para o que se tornaria a rede de crime organizado mais famosa do Japão.

Eles não eram apenas criminosos, mas também formavam uma espécie de irmandade, com suas próprias regras e códigos. Foi a partir dessa união de párias que a complexa e temida estrutura da Yakuza começou a tomar forma. A jornada de poder estava apenas começando.

A ascensão da Yakuza

Membros da Yakuza em trajes tradicionais, exibindo um ar de poder e formalidade.
O estilo único e o comportamento ousado da Yakuza chamaram a atenção das autoridades desde o início. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O primeiro registro oficial da Yakuza data de 1612, quando as autoridades começaram a notar seu estilo de vestir e comportamento peculiares. No século XVIII, o grupo começou a se formalizar, usando táticas de venda agressivas e manipuladoras para controlar pequenos mercados. Foi nesse momento que eles perceberam o poder que poderiam ter se agissem de forma organizada.

Com a chegada do século XIX, a ambição da Yakuza cresceu exponencialmente, expandindo seus tentáculos para além do comércio de rua. Eles se infiltraram nos setores de construção, na política e, claro, no submundo do crime de forma mais estruturada. A colaboração com políticos corruptos foi a chave para fortalecer seu poder e influência social.

Essa aliança entre o crime e a política permitiu que a Yakuza operasse com uma liberdade surpreendente. Eles não eram mais apenas bandidos de rua, mas uma força poderosa que moldava o destino de cidades e pessoas. A ascensão era meteórica e parecia não ter limites.

“Ajude os fracos, lute contra os fortes”

Um membro da Yakuza com uma tatuagem de dragão proeminente, simbolizando força e proteção.
O lema da Yakuza pintava uma imagem de justiceiros, mas a realidade era muito mais complexa. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão enfrentou uma crise sem precedentes, e a Yakuza viu uma oportunidade única. Eles assumiram um papel inesperado, contrabandeando bens essenciais como comida, remédios e gasolina para ajudar a população. Essa atitude fez com que muitos cidadãos comuns os vissem como heróis em tempos de desespero.

Enquanto ajudavam o povo, seus lucrativos esquemas de proteção continuavam a todo vapor, garantindo um fluxo constante de dinheiro. Essa dualidade abriu portas para uma colaboração ainda mais próxima com o governo japonês, que precisava de qualquer ajuda para manter a ordem. A influência política da Yakuza se solidificou de uma vez por todas.

Eles se posicionaram como uma espécie de mal necessário, protetores do povo quando o Estado falhava. Essa imagem, construída de forma estratégica, permitiu que a organização fincasse raízes ainda mais profundas na sociedade japonesa. O lema “ajude os fracos, lute contra os fortes” se tornou uma poderosa ferramenta de propaganda.

Yakuza do pós-guerra

Cena de uma rua japonesa no período pós-guerra, com a Yakuza controlando os mercados negros.
No caos do pós-guerra, a Yakuza encontrou o ambiente perfeito para prosperar e expandir seu império. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão estava em ruínas e o governo, enfraquecido. Foi nesse cenário de caos que a Yakuza encontrou o terreno fértil para dominar completamente os mercados ilegais do país. Eles controlavam tudo, desde a distribuição de alimentos até a reconstrução das cidades.

Mas a Yakuza não se contentou apenas com o submundo do crime. Eles começaram a se aventurar em indústrias legítimas, como construção e imóveis, lavando dinheiro e ganhando uma fachada de respeitabilidade. Essa mistura inteligente de atividades legais e ilegais tornou quase impossível separá-los da economia formal.

Ao se tornarem empresários, eles expandiram sua influência de uma forma assustadora. A Yakuza não era mais apenas uma gangue, mas uma corporação do crime com poder para influenciar decisões em todos os níveis da sociedade. O Japão se reerguia, e a Yakuza se reerguia junto com ele.

A era de ouro da Yakuza

Membros da Yakuza reunidos em um bar, demonstrando a camaradagem e a força do grupo em seu auge.
Entre as décadas de 50 e 60, ser um membro da Yakuza era sinônimo de poder e riqueza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O período entre 1958 e 1963 é conhecido como a “era de ouro” da Yakuza, e os números são impressionantes. A organização atingiu seu auge, com cerca de 184 mil membros distribuídos em mais de 5 mil gangues rivais. O Japão vivia sob a sombra de um exército de criminosos.

Eles prosperavam em qualquer negócio que desse lucro, não importava quão sujo fosse. Agiotagem, tráfico de drogas, contrabando e extorsão eram as principais fontes de renda. Essa busca incessante por dinheiro alimentava rivalidades ferozes entre as gangues, resultando em guerras sangrentas por território e domínio.

Nessa época, a Yakuza parecia intocável, uma força da natureza que ninguém conseguia controlar. Sua presença era sentida em todos os cantos do país, desde as ruas mais pobres até os escritórios mais luxuosos. Era o ápice de um império construído sobre violência e ambição.

Reprimindo a Yakuza

Policiais japoneses em uma operação contra a Yakuza, simbolizando a repressão do governo.
A paciência do governo japonês chegou ao fim, e uma guerra sem tréguas foi declarada contra a Yakuza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A “era de ouro” não durou para sempre, e a maré começou a virar contra a Yakuza. Em 2009, o governo japonês decidiu que era hora de dar um basta e intensificou os esforços para desmantelar a organização. A repressão se tornou a principal política de segurança do país.

Em 2011, a ofensiva se tornou ainda mais forte com a implementação de leis que miravam diretamente as empresas ligadas às gangues. Essas medidas anticorrupção foram projetadas para cortar o fluxo de dinheiro da Yakuza, atingindo-os onde mais doía. A estratégia era sufocar financeiramente o império do crime.

Essas ações coordenadas deram um golpe significativo na influência e nas operações da Yakuza. Pela primeira vez em décadas, o poder da organização começou a diminuir de forma visível. O governo finalmente mostrava que não iria mais tolerar a existência desse estado paralelo.

Símbolos da Yakuza

Close-up de uma elaborada tatuagem nas costas de um membro da Yakuza, cheia de simbolismo.
Na cultura Yakuza, o corpo é uma tela que conta a história de cada membro através de símbolos poderosos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A cultura da Yakuza é rica em simbolismo, e duas práticas se destacam como suas marcas registradas: as tatuagens e a autoamputação. As elaboradas tatuagens de corpo inteiro, conhecidas como irezumi, são muito mais do que simples desenhos. Elas são um testamento de dor, lealdade e identidade.

Essas obras de arte são criadas usando uma técnica manual tradicional, com agulhas finas presas a uma haste de bambu. O processo, chamado de tebori, é extremamente doloroso e demorado, o que torna cada tatuagem profundamente significativa. É uma prova de resistência e um rito de passagem para os membros.

Além das tatuagens, o ritual de cortar um dedo, o yubitsume, servia como uma forma de pagar por erros. Esses símbolos visuais não apenas identificam um membro da Yakuza, mas também contam sua história. Cada marca no corpo é um capítulo de uma vida dedicada ao crime.

As tatuagens da Yakuza: Um mapa corporal secreto

Membro da Yakuza de costas, mostrando como a tatuagem é desenhada para ser escondida por roupas.
A arte da irezumi é projetada para ser um segredo, visível apenas para aqueles dentro do círculo da Yakuza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

As tatuagens da Yakuza, conhecidas como irezumi, são estrategicamente posicionadas em áreas do corpo que podem ser facilmente escondidas por roupas. Essa prática permite que os membros mantenham uma aparência comum em público, escondendo suas afiliações. É uma forma de viver uma vida dupla, transitando entre o mundo normal e o submundo.

Um espaço de pele geralmente é deixado livre no centro do peito, como um caminho que permite que a camisa seja aberta sem revelar a arte por baixo. Essa escolha não é apenas estética, mas também funcional, reforçando a natureza secreta da organização. A tatuagem é um mapa que apenas os iniciados podem ler.

Esses designs intrincados são muito mais do que decoração; eles simbolizam atributos pessoais, contam a história de vida do membro ou representam sua posição na gangue. Cada imagem tem um significado profundo, tornando a pele uma biografia visual. É um compromisso para toda a vida, gravado de forma indelével no corpo.

Simbologia oculta: O que cada desenho revela

Detalhe de uma tatuagem de carpa koi, que simboliza força e perseverança na cultura Yakuza.
Cada criatura e elemento tatuado no corpo de um membro da Yakuza tem um significado poderoso e específico. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Embora cada tatuagem da Yakuza seja única, existem motivos recorrentes que carregam um simbolismo poderoso. As chamas, por exemplo, são usadas para representar o banimento da energia negativa e a purificação. Já o bambu, que se curva com o vento, mas não quebra, significa resiliência e o desafio às normas sociais.

A carpa koi é um dos símbolos mais populares e representa força, coragem e perseverança. Diz a lenda que a carpa que consegue nadar contra a correnteza e subir uma cachoeira se transforma em um dragão. Essa história reflete a jornada de um membro da Yakuza, superando adversidades para alcançar o poder.

Cada um desses desenhos tece uma narrativa complexa de valores, crenças e da história pessoal do indivíduo dentro do grupo. A tatuagem não é apenas uma marca de pertencimento, mas um amuleto carregado de significado. É a linguagem silenciosa que une todos os membros da organização.

Marca de um pária: O estigma social da tatuagem

Pessoa com tatuagens sendo observada com desconfiança, ilustrando o estigma no Japão.
No Japão, ter o corpo tatuado ainda é visto com preconceito, uma herança da associação com a Yakuza. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

No Japão, a arte da tatuagem carrega um estigma social profundo, e a culpa é da Yakuza. Por séculos, as tatuagens foram associadas quase que exclusivamente ao crime organizado. Essa conexão criou uma forte rejeição na sociedade japonesa, que perdura até hoje.

Muitos estabelecimentos públicos, como piscinas, academias e fontes termais (onsens), proíbem a entrada de pessoas com tatuagens. Essa regra, embora afete turistas e cidadãos comuns, foi criada para manter os membros da Yakuza afastados. A tatuagem se tornou um símbolo de exclusão social.

Ironicamente, essa rejeição social acaba reforçando a identidade da Yakuza como infratores e párias. Ao serem marcados e excluídos, seu desafio simbólico contra a sociedade se torna ainda mais forte. A tatuagem é, ao mesmo tempo, a causa e a consequência de sua marginalização.

Yubitsume: O ritual sangrento para pagar por um erro

Mão com um dedo faltando, coberta por luvas, mostrando a prática do yubitsume.
O ritual de autoamputação era a forma mais extrema de demonstrar arrependimento e lealdade na Yakuza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A autoamputação de um dedo, conhecida como yubitsume, já foi uma marca registrada da cultura Yakuza. Esse ritual brutal era usado para pagar dívidas, expiar erros graves ou como um pedido de desculpas a um superior. Era a prova máxima de arrependimento e lealdade.

No entanto, essa prática está se tornando cada vez menos comum entre os membros mais jovens. O aumento do controle policial e a dificuldade de esconder a deformidade tornaram o ritual arriscado demais. A nova geração da Yakuza está abandonando as tradições mais violentas.

Enquanto isso, os membros mais velhos que passaram pelo ritual frequentemente escondem seus dedos faltando com luvas ou próteses. Eles fazem isso para manter as aparências e evitar chamar a atenção das autoridades. É um sinal de que até as tradições mais sombrias da Yakuza estão mudando com o tempo.

O alcance da Yakuza

Políticos japoneses em uma reunião, sugerindo a infiltração da Yakuza na política.
A influência da Yakuza não se limitava às ruas, chegando aos mais altos escalões do poder no Japão. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A influência da Yakuza se estendeu por todas as facetas da sociedade japonesa, incluindo a poderosa arena da política. Alegações chocantes sugerem que importantes entidades governamentais aceitaram doações de empresas de fachada ligadas à Yakuza. O crime organizado estava financiando o próprio sistema que deveria combatê-lo.

Instituições como o Ministério da Educação e o Partido Liberal Democrático do Japão, que governou o país por décadas, foram implicadas nesses escândalos. Essa conexão mostra o quão profundo era o alcance do grupo. Eles não apenas corrompiam policiais, mas também financiavam partidos e políticos.

Essa infiltração no poder político garantia à Yakuza proteção e impunidade. Era um ciclo vicioso onde o dinheiro do crime limpava a imagem de políticos, que em troca, faziam vista grossa para as atividades ilegais. Um jogo perigoso que comprometeu a democracia japonesa por anos.

O duplo papel da Yakuza

Membros da Yakuza distribuindo ajuda humanitária após um desastre natural no Japão.
Em momentos de crise, a Yakuza surpreendia ao agir como uma força de ajuda, criando uma imagem complexa de heróis e vilões. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Além de suas atividades criminosas, a Yakuza desempenhou, em diversas ocasiões, um papel surpreendentemente positivo na sociedade. Eles foram alguns dos primeiros a fornecer ajuda durante desastres naturais, como o terremoto de Kobe em 1995 e o tsunami de 2011. Sua organização e logística superaram, em alguns casos, a resposta do próprio governo.

Eles também tiveram um papel crucial no apoio à economia do Japão no período pós-Segunda Guerra Mundial. Suas empresas de construção ajudaram a reerguer o país, mesmo que com dinheiro de origem duvidosa. Essa dualidade entre crime e ajuda humanitária cria uma imagem moralmente complexa.

Apesar de sua condição de marginalizados, eles sempre mantiveram uma posição de poder e influência significativos. Eram, ao mesmo tempo, temidos como criminosos e, por vezes, respeitados como benfeitores. Essa contradição é uma das características mais fascinantes e perturbadoras da Yakuza.

Oyabun-Kobun: A estrutura familiar do crime

Um chefe da Yakuza (oyabun) cercado por seus subordinados (kobun), demonstrando a hierarquia rígida.
A estrutura da Yakuza imita a de uma família tradicional, com o chefe sendo o ‘pai’ e os membros, seus ‘filhos’. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A Yakuza opera sob uma rígida hierarquia conhecida como oyabun-kobun, um sistema que espelha a dinâmica familiar tradicional japonesa. O oyabun, que se traduz como “status de pai”, é o chefe absoluto do clã. Sua palavra é lei e sua autoridade é inquestionável.

Abaixo dele estão os kobun, que significa “status de filho”, e que são os subordinados leais. Eles devem obediência e lealdade totais ao seu oyabun, tratando-o com o mesmo respeito que um filho trataria seu pai. Essa relação cria uma estrutura organizacional fortemente unida e disciplinada.

Essa estrutura patriarcal é o que dá à Yakuza sua força e coesão. A lealdade não é apenas uma regra, mas um valor sagrado que sustenta todo o sistema. Quebrar essa confiança é o pior crime que um membro pode cometer.

O código de honra: Lealdade ou morte

Símbolos japoneses representando o código de honra Ninkyo, seguido pela Yakuza.
O código Ninkyo dita as regras de comportamento, onde a honra e o respeito são mais importantes que a própria vida. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

No coração da hierarquia da Yakuza está o oyabun, o chefe, seguido de perto pelo wakagashira, seu conselheiro e segundo em comando. Logo abaixo vem o shatei, que cuida das operações do dia a dia. Todos os membros, independentemente de sua posição, devem seguir o ninkyo, um código de honra rigoroso.

Esse código enfatiza valores como justiça, dever, respeito, lealdade e honra. É um conjunto de regras não escritas que governa o comportamento de cada membro. Seguir o ninkyo é o que diferencia um Yakuza de um criminoso comum, pelo menos na visão deles.

Violar esse código de conduta pode levar a punições severas, que variam desde a expulsão até o ritual do yubitsume. Em casos extremos de traição, a punição pode ser a morte. Na Yakuza, a desonra é um destino pior do que o fim da vida.

Yamaguchi-gumi: O clã mais poderoso do Japão

Sede do clã Yamaguchi-gumi em Kobe, um prédio discreto que esconde um imenso poder.
Fundado em Kobe, o Yamaguchi-gumi cresceu e se tornou o maior e mais temido sindicato da Yakuza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Fundado na cidade portuária de Kobe em 1915, o Yamaguchi-gumi cresceu de um pequeno grupo de trabalhadores portuários para se tornar o maior sindicato da Yakuza no Japão. Sua história é marcada por violência, traições e uma expansão implacável. Eles são a realeza do crime organizado japonês.

Embora sua influência tenha se deslocado para Tóquio, o coração financeiro do país, o clã se destaca por ser o mais conectado internacionalmente. Eles estabeleceram redes criminosas em toda a Ásia, Europa e Américas. O Yamaguchi-gumi exerce um controle significativo sobre crimes econômicos globais, como lavagem de dinheiro e fraude.

Seu poder é tão grande que, em seu auge, a revista Fortune os listou como uma das organizações criminosas mais ricas do mundo. Eles não são apenas uma gangue, mas uma corporação multinacional do crime. O nome Yamaguchi-gumi inspira medo e respeito no submundo global.

O plano global: A expansão internacional do clã

Shinobu Tsukasa, o atual líder do Yamaguchi-gumi, uma figura poderosa e enigmática.
Sob a liderança de Shinobu Tsukasa, o Yamaguchi-gumi busca ativamente expandir sua influência para além das fronteiras do Japão. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Mesmo mantendo uma fachada de negócios legítimos, como empresas de entretenimento e construção, o Yamaguchi-gumi continua profundamente envolvido em atividades ilegais. Tráfico de drogas, extorsão e jogos de azar ainda são o pão de cada dia do clã. A fachada serve apenas para lavar o dinheiro sujo.

Em 2025, estima-se que o sindicato seja composto por aproximadamente 3.500 membros, um número menor que no passado, mas ainda assim formidável. O atual líder, Shinobu Tsukasa, conhecido como o “sexto chefe”, é uma figura estratégica e implacável. Ele está ativamente impulsionando os esforços para expandir a influência internacional do clã.

O foco na expansão global é uma resposta direta à repressão do governo japonês. Com as operações domésticas se tornando mais difíceis, o clã busca novos mercados e oportunidades no exterior. O Yamaguchi-gumi está se adaptando para sobreviver e prosperar no século XXI.

Sumiyoshi-kai: Os rivais descentralizados de Tóquio

Brasão do clã Sumiyoshi-kai, simbolizando sua estrutura e poder na capital japonesa.
O Sumiyoshi-kai se diferencia por uma estrutura mais frouxa, o que o torna um adversário imprevisível. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Operando diretamente de Tóquio, o segundo maior sindicato da Yakuza no Japão, o Sumiyoshi-kai, apresenta uma abordagem organizacional muito diferente. Eles se distinguem por uma estrutura descentralizada, rejeitando as hierarquias rígidas de seus rivais. Isso os torna mais flexíveis e adaptáveis.

Essa rede frouxa concede aos membros e grupos afiliados uma autonomia significativa em suas operações. Cada facção pode agir de forma independente, o que torna difícil para a polícia rastrear e desmantelar a organização como um todo. É como lutar contra uma hidra de várias cabeças.

Essa capacidade de adaptação os tornou uma força distinta e resiliente no submundo do crime japonês. Enquanto outros clãs sofrem com disputas internas de poder, o Sumiyoshi-kai mantém sua coesão através de alianças flexíveis. Eles são um exemplo de como a anarquia organizada pode ser eficaz.

Negócios e crimes: A dupla face da organização

Membros do Sumiyoshi-kai em uma reunião, misturando a aparência de empresários com a de criminosos.
Com forte presença na região de Kansai, o Sumiyoshi-kai equilibra negócios legítimos com esquemas de proteção. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Fundado em 1958, o sindicato Sumiyoshi-kai opera habilmente com frentes comerciais legítimas, principalmente nos setores imobiliário e de entretenimento. Ao mesmo tempo, eles se envolvem pesadamente em atividades criminosas clássicas, como os esquemas de proteção, conhecidos como “mikajime-ryo”. Eles oferecem “proteção” a bares e restaurantes em troca de uma taxa mensal.

Com aproximadamente 2.200 membros em 2025, eles exercem uma influência significativa, especialmente na vibrante região de Kansai, que inclui cidades como Osaka e Kyoto. Sua presença é uma sombra constante sobre a vida noturna e os negócios locais. Negar a “proteção” deles não é uma opção viável para muitos comerciantes.

Essa dualidade entre o empresário e o gangster é a chave para o seu sucesso. Eles conseguem se infiltrar na economia formal enquanto mantêm seu poder no submundo. O Sumiyoshi-kai é um mestre na arte de operar nas sombras.

Inagawa-kai: A terceira força do submundo japonês

Símbolo do clã Inagawa-kai, representando sua posição como o terceiro maior grupo da Yakuza.
Apesar de ser o terceiro em tamanho, o Inagawa-kai possui uma estrutura rígida e um poder considerável. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Fundado em 1949, o Inagawa-kai completa o trio dos maiores sindicatos da Yakuza no Japão. Eles mantêm uma estrutura hierárquica rígida, onde os chefes exercem uma autoridade quase absoluta sobre seus subordinados. A disciplina e a obediência são valores centrais para o clã.

Ainda assim, eles são conhecidos por serem um pouco menos rígidos em comparação com o todo-poderoso Yamaguchi-gumi. Isso não significa que sejam menos perigosos, mas sua abordagem interna permite um pouco mais de flexibilidade. Essa característica os ajudou a sobreviver a décadas de guerras de gangues e repressão policial.

O Inagawa-kai se consolidou como uma força a ser reconhecida no submundo. Eles podem não ter os números do Yamaguchi-gumi ou a descentralização do Sumiyoshi-kai, mas sua organização e disciplina os tornam um adversário formidável. São a terceira potência de um triumvirato do crime.

O poder dos chefes: Equilíbrio entre negócios e extorsão

Membros do Inagawa-kai em uma cerimônia, demonstrando respeito à hierarquia e tradição do clã.
O número oficial de membros pode ser enganoso, pois a influência real do Inagawa-kai é provavelmente muito maior. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Inagawa-kai, assim como seus rivais, equilibra habilmente frentes comerciais legítimas com operações ilegais. Seu portfólio criminoso inclui extorsão, jogos de azar e tráfico de drogas. Eles são particularmente ativos na região de Kanto, que engloba Tóquio e Yokohama.

Em 2025, a filiação do clã é estimada em aproximadamente 1.700 membros, de acordo com os dados da polícia japonesa. No entanto, todos no Japão sabem que o número real de associados e simpatizantes é provavelmente muito maior. A Yakuza opera através de uma vasta rede de contatos que não aparecem nos registros oficiais.

Essa discrepância entre os números oficiais e a realidade mostra a dificuldade de medir a verdadeira influência da Yakuza. O Inagawa-kai pode parecer menor no papel, mas seu poder de intimidação e sua capacidade de mobilização continuam imensos. Eles são uma força oculta que ainda molda a economia subterrânea do Japão.

Declínio da Yakuza

Um membro mais velho da Yakuza, com o rosto marcado pelo tempo, simbolizando o declínio da organização.
Anos de repressão governamental e a mudança dos tempos enfraqueceram o poder outrora inabalável da Yakuza. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Décadas de legislação específica e uma repressão cada vez mais intensa por parte do governo japonês enfraqueceram significativamente as operações da Yakuza. As leis que punem não apenas os membros, mas também qualquer pessoa que faça negócios com eles, foram particularmente eficazes. A sociedade japonesa está finalmente se virando contra eles.

Como resultado, o número de membros tem diminuído constantemente nos últimos anos, atingindo o nível mais baixo já registrado. Muitos jovens não veem mais futuro em uma vida de crime que oferece mais riscos do que recompensas. O glamour da Yakuza está desaparecendo rapidamente.

Este declínio reflete o impacto dos esforços sustentados do governo para desmantelar o crime organizado. A Yakuza, que já foi uma instituição poderosa e temida, está se tornando uma sombra de si mesma. O império está ruindo, mas ainda não está completamente destruído.

A nova face do crime

Jovens criminosos de rua, conhecidos como Hangure, representando a nova ameaça no Japão.
Com o declínio da Yakuza, um novo tipo de criminoso, mais desorganizado e imprevisível, tomou as ruas. (Fonte da Imagem: Getty Images)

À medida que a influência da Yakuza diminui, um vácuo de poder foi criado no submundo, e a natureza, como se sabe, odeia o vácuo. Grupos criminosos menos organizados, conhecidos como Hangure, surgiram para preencher esse espaço. Eles são mais jovens, mais impulsivos e não seguem nenhum código de honra.

A ascensão desses criminosos adaptáveis e de baixo nível se tornou uma preocupação crescente para a polícia. Ironicamente, a Yakuza costumava suprimir o crime de rua para manter a ordem em seus territórios. Com eles enfraquecidos, o caos está voltando às ruas.

Os Hangure são mais difíceis de monitorar e prender, pois não possuem a estrutura hierárquica da Yakuza. Eles representam uma nova face do crime no Japão, mais descentralizada e talvez até mais perigosa em sua imprevisibilidade. A guerra contra o crime ganhou um novo e inesperado campo de batalha.

A persistência da Yakuza

Takeshi Ebisawa sendo preso por agentes dos EUA, em uma operação que chocou o mundo.
A prisão de Ebisawa provou que, apesar do declínio, a Yakuza ainda está envolvida em crimes de alto nível e alcance global. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Apesar de todos os sinais de declínio, seria um erro declarar a morte da Yakuza. Um evento chocante em 9 de janeiro de 2025 provou que a organização ainda é uma ameaça global. Naquele dia, a polícia dos EUA prendeu Takeshi Ebisawa, um membro de alto escalão da Yakuza, durante uma operação secreta.

Ebisawa mais tarde se declarou culpado de uma acusação estarrecedora: tentar vender materiais nucleares, incluindo plutônio e urânio. Ele pretendia trocá-los por mísseis terra-ar para um grupo rebelde em Mianmar. O caso revelou as ambições aterrorizantes da Yakuza moderna.

Essa prisão destacou que a Yakuza continua perigosamente ativa, mesmo com seu poder diminuído no Japão. Eles estão se adaptando, buscando novas fontes de renda e formando alianças internacionais. A velha serpente pode estar ferida, mas seu veneno ainda é letal.

O jogo global da Yakuza

Membro da Yakuza usando um smartphone, simbolizando a modernização e o recrutamento online.
Para sobreviver, a Yakuza está abraçando a tecnologia e buscando recrutas mais jovens nas redes sociais. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Com sua influência diminuindo no Japão, a Yakuza está cada vez mais focada na expansão internacional. Eles permanecem ativos em negócios do mercado negro, como tráfico de armas e drogas, buscando novos lucros além das fronteiras japonesas. O futuro da Yakuza parece ser global.

Em uma reviravolta surpreendente, eles também se voltaram para as mídias sociais para rejuvenescer suas fileiras. Contas no TikTok e Instagram são usadas para recrutar jovens desiludidos, mostrando um estilo de vida de luxo e poder. É uma tentativa desesperada de repor suas hierarquias envelhecidas.

Essa adaptação mostra que a Yakuza não está disposta a desaparecer silenciosamente. Eles estão misturando seus métodos antigos com estratégias modernas para garantir sua sobrevivência. O jogo mudou, e a Yakuza está tentando aprender as novas regras.

Heróis ou vilões?

Imagem que contrasta a face criminosa da Yakuza com seus atos de ajuda humanitária.
A complexa história da Yakuza torna difícil classificá-los simplesmente como heróis ou vilões. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O duplo papel da Yakuza na história do Japão cria um quadro moralmente complexo e desconfortável. Por um lado, eles contrabandearam itens essenciais durante crises e ajudaram na reconstrução do país. Por outro, seu legado é construído sobre violência, extorsão e sofrimento.

Enquanto alguns ainda os veem como protetores improváveis em tempos desesperadores, essa visão romântica se desfaz rapidamente. A reputação geral da Yakuza hoje é amplamente negativa, especialmente no contexto global. Seus crimes recentes, como a tentativa de tráfico nuclear, apagam qualquer vestígio de heroísmo.

No final, a questão de serem heróis ou vilões talvez seja a errada. Eles são um produto de seu tempo e de uma sociedade que os marginalizou. Mas suas ações, independentemente da motivação, deixaram cicatrizes profundas no Japão e no mundo.

A influência duradoura da Yakuza

Paisagem urbana de Tóquio, com a sombra da Yakuza pairando sobre a política, os negócios e a cultura.
Mesmo enfraquecida, a marca deixada pela Yakuza na sociedade japonesa é inegável e duradoura. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Após décadas de esforços do governo japonês e de organizações internacionais para combater o crime organizado, a Yakuza deixou uma marca indelével. Sua influência na política, nos negócios e na cultura japonesa é inegável. Eles se infiltraram em quase todos os aspectos da vida no Japão.

Desde o envolvimento em grandes projetos de construção e no mercado imobiliário até o domínio completo do submundo do crime, seu alcance foi tão audacioso quanto duradouro. Eles ajudaram a construir o Japão moderno, ao mesmo tempo em que o corrompiam por dentro. Essa é a grande contradição da sua história.

Hoje, a Yakuza pode estar em declínio, mas seu legado persiste. Eles mudaram a forma como o Japão lida com o crime, a política e até mesmo a arte. A história do Japão moderno não pode ser contada sem mencionar o nome da Yakuza.

Tyler James Mitchell
  • Tyler James Mitchell é o jornalista e autor por trás do blog Curiosão, apaixonado por desvendar temas de história e ciência. Sua missão é transformar o conhecimento complexo em narrativas acessíveis e fascinantes para o público.