
O superpoder secreto que seu filho tem quando parece distraído
Uma descoberta científica surpreendente pode mudar para sempre a forma como vemos a atenção e o aprendizado dos pequenos.
Você já se frustrou ao ver seu filho olhando para o teto enquanto você tenta ensinar algo importante? A cena é clássica e muitas vezes nos leva a pensar que a informação não está sendo absorvida. No entanto, uma nova pesquisa da Universidade de Toronto está virando essa crença de cabeça para baixo.
O estudo revela que o cérebro infantil pode ser muito mais poderoso do que imaginamos, captando conhecimento mesmo sem um foco aparente. Essa capacidade de aprendizado difuso sugere que a distração não é necessariamente inimiga da absorção de conteúdo. Na verdade, pode ser apenas uma maneira diferente de processar o mundo.
Essa descoberta tem o potencial de transformar a maneira como educamos e compreendemos transtornos como o TDAH. Estamos diante de uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento infantil, que valoriza a forma única como as crianças interagem com o ambiente. O que antes víamos como falta de atenção, a ciência agora sugere que pode ser uma forma de superabsorção.
O eterno desafio de manter uma criança focada

Qualquer pessoa que convive com crianças, seja como pai, mãe ou professor, conhece bem essa luta diária. Manter uma criança engajada em uma única atividade parece, por vezes, uma missão impossível. A energia e a curiosidade naturais dos pequenos frequentemente entram em conflito com a necessidade de concentração.
A dificuldade se intensifica quando a tarefa exige silêncio, imobilidade ou um foco prolongado em um assunto específico. Essas exigências vão contra o instinto infantil de explorar e se movimentar constantemente. É nesse ponto que a paciência dos adultos é testada ao limite.
Seja na hora da lição de casa, durante uma leitura ou em uma explicação na sala de aula, a mente da criança parece voar para longe. Esse comportamento, embora comum, sempre gerou dúvidas e preocupações sobre o aprendizado. Agora, a ciência nos convida a olhar para essa “distração” com outros olhos.
Quando a distração vira um diagnóstico preocupante

Antigamente, uma criança inquieta ou com a cabeça nas nuvens era vista como algo perfeitamente normal da idade. Era apenas parte do processo de ser criança, com sua imaginação fértil e energia inesgotável. Essa percepção, no entanto, mudou drasticamente nos últimos anos.
Hoje, esse mesmo comportamento frequentemente acende um alerta para pais e educadores, levando a uma busca por respostas médicas. O que era típico passou a ser visto como um sintoma potencial de distúrbios comportamentais e neurológicos. O diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido como TDAH, tornou-se cada vez mais comum.
Essa tendência levanta uma questão importante sobre a possibilidade de diagnósticos equivocados e a medicalização excessiva da infância. A linha entre um comportamento infantil natural e um transtorno real tornou-se tênue. É um cenário que gera angústia e incerteza para muitas famílias.
O TDAH em números: Uma realidade crescente

Para entender a dimensão dessa mudança, basta olhar para os números, que são impressionantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o TDAH se consolidou como o distúrbio comportamental mais frequentemente diagnosticado em menores de 18 anos. Esse dado, por si só, já demonstra a magnitude do fenômeno.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), uma das principais autoridades de saúde do país, trazem dados ainda mais concretos. A agência relata que mais de 4,5 milhões de crianças e adolescentes receberam esse diagnóstico. É um número que reflete uma mudança cultural e médica profunda na abordagem da saúde mental infantil.
Essa estatística não apenas quantifica o problema, mas também nos faz questionar as razões por trás desse aumento exponencial. Será que as crianças de hoje são fundamentalmente diferentes, ou nossa forma de avaliá-las é que mudou? É um debate complexo que está no centro das discussões sobre educação e saúde.
Uma nova perspectiva que desafia o senso comum

Uma pesquisa inovadora do Departamento de Psicologia da Universidade de Toronto veio para abalar nossas certezas. Ela questiona frontalmente a crença de que as crianças precisam estar 100% focadas para conseguir aprender. Os resultados apresentados contradizem diretamente essa ideia tão enraizada em nossa cultura.
Imagine que tudo o que pensávamos sobre a necessidade de atenção absoluta pode estar equivocado. O estudo sugere que o cérebro infantil opera de uma maneira muito mais ampla e flexível. Essa nova visão pode revolucionar as práticas pedagógicas e a forma como os pais lidam com seus filhos.
Estamos diante de uma mudança de paradigma que nos convida a repensar o próprio conceito de atenção. Em vez de ver a distração como uma falha, talvez devêssemos encará-la como uma característica inerente ao poderoso motor de aprendizagem infantil. É uma ideia que pode aliviar muita pressão sobre crianças e adultos.
O cérebro infantil absorve informação de todos os lados

Os resultados, publicados na prestigiada revista Psychological Science, são claros e diretos. Eles mostram que as crianças conseguem absorver a mesma quantidade de informações, não importa se estão tentando ativamente ou não. É como se seus cérebros estivessem sempre ligados no modo de gravação.
Essa constatação é fascinante, pois sugere que o esforço consciente para prestar atenção não é o fator decisivo para o aprendizado na infância. A mente dos pequenos parece capturar dados do ambiente de forma passiva e contínua. Essa é uma habilidade que nós, adultos, parecemos ter perdido ao longo do caminho.
Essa descoberta valida a intuição de muitos pais que já perceberam que seus filhos aprendem coisas que eles nem imaginavam que estavam prestando atenção. A ciência agora confirma que essa “audição periférica” é uma ferramenta de aprendizado extremamente eficaz. O cérebro da criança é, de fato, uma máquina de absorção constante.
Adultos: Especialistas no foco seletivo

O estudo também analisou o comportamento dos adultos, e os resultados não foram surpreendentes. Como já era esperado, os adultos são mestres em focar em uma tarefa específica. Nós desenvolvemos uma habilidade notável para direcionar nossa atenção para um único ponto.
Essa capacidade de foco nos permite ignorar com sucesso as informações que nos são ditas para desconsiderar. Se estamos lendo um relatório, conseguimos abafar o barulho da rua ou a conversa ao lado. É um mecanismo de filtro que se aprimora com a idade e a experiência.
Essa eficiência, no entanto, tem um custo: perdemos a capacidade de absorver informações periféricas com a mesma facilidade que as crianças. Nosso cérebro se torna mais orientado a objetivos, priorizando o que é relevante para a tarefa imediata. O foco de laser dos adultos é, portanto, uma faca de dois gumes.
Crianças: As verdadeiras mestras da absorção total

Em total contraste com os adultos, as crianças demonstraram uma tendência fascinante no mesmo experimento. Elas tendem a absorver todas as informações secundárias que deveriam ignorar. O filtro que os adultos usam parece simplesmente não existir ou funcionar da mesma maneira nelas.
Essa informação, que seria descartada pela mente adulta, é processada e armazenada no cérebro infantil. É como se cada detalhe do ambiente, relevante ou não para a tarefa principal, fosse considerado digno de atenção. Essa é a essência do seu superpoder de aprendizado.
Isso explica por que uma criança pode se lembrar de um detalhe aleatório de uma conversa que os adultos nem notaram. Seu cérebro está constantemente coletando dados, construindo um mapa mental do mundo muito mais rico e detalhado. A distração é, na verdade, um estado de atenção distribuída.
Não é falta de foco, é uma forma diferente de atenção

Amy Finn, a autora sênior do estudo, faz questão de esclarecer um ponto crucial. Ela explica que esses resultados não significam que as crianças têm problemas de concentração ou que não conseguem filtrar distrações. A questão é muito mais complexa e interessante do que isso.
O que a pesquisa sugere é que a própria arquitetura do cérebro infantil é projetada de outra forma. Eles não estão “falhando” em focar, mas sim “sucedendo” em manter um campo de atenção muito mais vasto. É uma diferença fundamental de processamento, não uma deficiência.
Essa nova interpretação nos força a abandonar a ideia de que existe apenas uma forma correta de prestar atenção. O cérebro da criança está otimizado para a exploração e a descoberta ampla. O foco seletivo é uma habilidade que se desenvolve mais tarde, quando a exploração dá lugar à especialização.
O cérebro infantil está programado para ser um radar

Segundo a professora Finn, o estudo indica que o cérebro das crianças foi projetado para ser extremamente responsivo a todos os tipos de informação. Não há uma hierarquia clara entre o que é “relevante” e o que “não é” para a tarefa em questão. Tudo é potencialmente importante para o aprendizado.
Isso significa, em suas palavras, que “as crianças são mais sensíveis a mais informações”. Elas operam como um radar de 360 graus, captando sinais que os adultos, com seus focos direcionados, simplesmente não percebem. Essa sensibilidade aguçada é a chave para a sua rápida aquisição de conhecimento.
Essa característica é uma vantagem evolutiva gigantesca durante os primeiros anos de vida. Permite que as crianças aprendam sobre o mundo, a linguagem e as regras sociais de forma incrivelmente rápida e intuitiva. Elas constroem seu entendimento do universo absorvendo tudo ao seu redor, sem julgamento prévio.
A ciência comprova o ditado das ‘pequenas esponjas’

Essa descoberta científica vem para apoiar algo que pais, educadores e cuidadores já observavam na prática há gerações. A capacidade de aprendizado das crianças sempre pareceu quase mágica, como se elas simplesmente absorvessem o conhecimento do ar. Agora sabemos que isso é mais literal do que imaginávamos.
O famoso ditado de que “crianças são como esponjas” deixa de ser apenas uma metáfora popular. Ele ganha o selo de aprovação da ciência, descrevendo com precisão um mecanismo neurológico real. Elas realmente sugam informações do ambiente de forma contínua e sem esforço aparente.
Essa validação é importante porque nos dá mais confiança para criar ambientes de aprendizado ricos e estimulantes. Saber que cada conversa, cada música e cada experiência visual está sendo processada reforça o valor de um lar e de uma escola cheios de estímulos positivos. Cada momento é uma oportunidade de aprendizado.
Como o estudo foi conduzido?

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores elaboraram um experimento cuidadoso com dois grupos distintos. O estudo contou com a participação de 24 adultos, com idade média de 23 anos, e 26 crianças, com idade média de 8 anos. A comparação direta entre esses dois grupos foi a chave para a descoberta.
Os cientistas testaram o quanto cada participante aprendeu sobre desenhos de objetos do dia a dia. A avaliação foi feita após eles participarem de dois experimentos diferentes, com instruções opostas. O objetivo era medir como a atenção direcionada afetava a retenção de informações em cada faixa etária.
Essa metodologia permitiu isolar a variável da atenção e observar seu impacto real no cérebro. Ao comparar um grupo com o cérebro totalmente desenvolvido com outro em pleno desenvolvimento, os pesquisadores puderam mapear as diferenças fundamentais em seus processos de aprendizagem. Foi um design experimental elegante e revelador.
O Experimento: Foco total contra distração intencional

No primeiro experimento, os participantes receberam uma instrução muito clara e direta. Eles foram orientados a se concentrar totalmente nos desenhos que seriam exibidos. A tarefa exigia atenção voluntária e direcionada para memorizar os objetos.
Já no segundo cenário, a instrução foi o exato oposto, criando um teste de atenção dividida. Os participantes foram instruídos a ignorar os desenhos e se concentrar em uma tarefa completamente diferente que acontecia simultaneamente. A ideia era ver o que o cérebro captava quando a atenção estava oficialmente em outro lugar.
Após a exposição a cada um desses cenários, todos os participantes foram submetidos a um teste rápido. Eles precisavam identificar fragmentos dos desenhos que tinham acabado de ver, mesmo aqueles que deveriam ter ignorado. Esse teste final revelaria o que realmente ficou gravado na memória de cada um.
Analisando o Cérebro: A tecnologia por trás da descoberta

Para tornar a pesquisa ainda mais robusta, todo o processo foi realizado dentro de uma máquina de Ressonância Magnética Funcional (fMRI). Essa tecnologia poderosa permite que os cientistas observem a atividade cerebral em tempo real. Não se tratava apenas de medir o comportamento, mas de ver o que acontecia dentro da cabeça dos participantes.
Enquanto as crianças e os adultos realizavam as tarefas, o aparelho de ressonância magnética escaneava seus cérebros. A máquina captava as mudanças no fluxo sanguíneo em diferentes áreas cerebrais, indicando quais regiões estavam mais ativas. Isso ofereceu um mapa detalhado da atividade neural durante o processo.
Essa abordagem revelou como a atenção influencia diretamente o que é representado no cérebro de cada um. Os cientistas puderam ver, literalmente, se as informações “ignoradas” ainda assim geravam uma resposta neural. Foi essa janela para o cérebro que permitiu a descoberta tão surpreendente.
A descoberta surpreendente sobre o aprendizado infantil

Os pesquisadores descobriram algo que virou a mesa das expectativas sobre o aprendizado. As crianças aprenderam sobre os desenhos com a mesma eficácia em ambos os cenários. Não importava se lhes era dito para focar ou para ignorar, a informação era absorvida da mesma forma.
Em contrapartida, os adultos se comportaram exatamente como o previsto pela teoria clássica da atenção. Eles retiveram muito mais informações quando foram instruídos a se concentrar nos desenhos. Quando a instrução era ignorar, a capacidade de memorização caía drasticamente.
Essa diferença gritante entre os dois grupos foi o “momento aha!” da pesquisa. Ficou claro que o mecanismo de aprendizado das crianças opera sob regras diferentes. A atenção direcionada, tão crucial para os adultos, parece ser apenas opcional para os pequenos aprendizes.
Aprendizado Inabalável: A atenção não afetou as crianças

Colocando de uma forma bem simples, o aprendizado das crianças não foi prejudicado quando elas não estavam prestando atenção ativamente. A informação que elas deveriam ignorar foi captada e processada com a mesma eficiência da informação focada. É uma demonstração impressionante da plasticidade e da capacidade do cérebro jovem.
Isso sugere que, para uma criança, todo o ambiente é uma sala de aula contínua. Não existe um botão de “ligar/desligar” para o aprendizado como parece existir nos adultos. O cérebro está perpetuamente no modo de aquisição de dados, independentemente da tarefa principal.
Essa resiliência do aprendizado infantil é uma notícia fantástica para pais e educadores. Significa que mesmo em momentos de aparente distração, o cérebro da criança está trabalhando e construindo conhecimento. A aprendizagem acontece nos momentos mais inesperados e de formas que só agora começamos a entender.
Reavaliando o que sabemos sobre o cérebro em desenvolvimento

Os pesquisadores destacam que a diferença na capacidade de foco entre crianças e adultos não é exatamente uma novidade. Qualquer um que já tentou ter uma conversa séria com uma criança de cinco anos sabe disso. O que era um mistério, no entanto, era como essa diferença realmente impactava o cérebro.
Os especialistas não tinham certeza de como essa discrepância afetava a maneira como o cérebro infantil processa e retém informações. A suposição geral era que a falta de foco prejudicava o aprendizado. Era visto como uma imaturidade do cérebro que precisava ser superada.
Este estudo vem preencher exatamente essa lacuna de conhecimento, trazendo uma resposta surpreendente. A atenção “fraca” não é um defeito, mas uma característica funcional. É um design inteligente que serve a um propósito específico durante a fase mais intensa de aprendizado da vida humana.
Desmascarando o mito do cérebro adulto ‘superior’

Yaelan Jung, uma pesquisadora de pós-doutorado que contribuiu para o estudo, ressalta a importância dessa nova visão. Ela enfatiza que a pesquisa revela que a atenção aparentemente mais fraca das crianças na verdade lhes permite absorver mais do mundo. É uma vantagem, não uma desvantagem, em muitos contextos.
Este estudo desafia nossa compreensão convencional sobre o desenvolvimento cerebral, segundo Jung. Muitas vezes presumimos que os cérebros adultos, por estarem totalmente desenvolvidos, são inerentemente mais eficientes. Isso nos leva a nos ver como naturalmente mais capazes ou inteligentes que as crianças.
No entanto, a realidade parece ser muito mais sutil e complexa do que isso. Em vez de uma simples hierarquia de “melhor” ou “pior”, estamos falando de especializações diferentes. Crianças e adultos têm cérebros otimizados para tarefas distintas, ambos brilhantes em suas respectivas funções.
Cérebros diferentes para fases diferentes da vida

A pesquisa sugere uma história completamente diferente daquela que costumávamos contar. Embora os cérebros dos adultos possam ser mais eficientes em tarefas específicas que exigem foco, eles não são universalmente superiores. Em certos aspectos, o cérebro infantil tem uma capacidade que o adulto já perdeu.
Jung explica que “os cérebros das crianças podem funcionar de maneira diferente dos adultos e, como resultado, às vezes podem processar mais informações”. É uma questão de amplitude versus profundidade. As crianças se destacam na amplitude, enquanto os adultos se destacam na profundidade focada.
Essa visão celebra a singularidade da cognição infantil em vez de tratá-la como uma versão incompleta da cognição adulta. Cada fase do desenvolvimento tem suas próprias forças e habilidades. O cérebro infantil é uma maravilha da engenharia evolutiva, perfeitamente sintonizado para a sua missão de aprender o mundo.
Mentes abertas para um mundo complexo

A professora Finn acrescenta que essa sintonia com um ambiente mais amplo pode ter benefícios inesperados. Não se concentrar em detalhes específicos pode ser vantajoso para entender sistemas complexos. É uma forma de ver a floresta em vez de focar apenas em uma única árvore.
Essa capacidade de processamento holístico pode ajudar as crianças a desenvolver uma compreensão mais profunda e integrada do mundo. Elas são mais capazes de perceber conexões sutis entre diferentes elementos do ambiente. É uma habilidade crucial para o pensamento criativo e a resolução de problemas complexos mais tarde na vida.
Ao absorver tudo, as crianças estão construindo uma base de conhecimento vasta e interconectada. Essa base servirá de alicerce para todo o aprendizado futuro. O que parece distração é, na verdade, a coleta de dados para um mapa mental rico e multifacetado.
A atenção seletiva é uma habilidade que leva tempo

Os pesquisadores observam que a atenção seletiva das crianças não é algo que aparece da noite para o dia. A habilidade de focar em uma tarefa específica enquanto bloqueia ativamente as distrações se desenvolve gradualmente. É um processo lento de maturação neurológica.
Esse desenvolvimento não está totalmente completo até o início da idade adulta. Isso significa que exigir o mesmo nível de foco de uma criança de 8 anos e de um adulto de 25 é neurologicamente irrealista. Seus cérebros simplesmente não estão no mesmo estágio de desenvolvimento atencional.
Compreender essa linha do tempo de desenvolvimento é fundamental para ajustar nossas expectativas. Ajuda-nos a ser mais pacientes e a criar estratégias de ensino que se alinhem com a capacidade real da criança. A paciência é a chave para acompanhar esse processo natural de amadurecimento.
A infância prolongada dos humanos tem um propósito

“Dependendo de como você define a infância, os humanos são crianças por cerca de oito ou nove anos”, diz a professora Finn. Em comparação com a maioria das outras espécies, este é um período extraordinariamente longo. Essa infância prolongada sempre intrigou os cientistas.
Uma das principais razões para essa fase estendida é que os seres humanos têm uma quantidade imensa de coisas para aprender. Precisamos dominar a linguagem, as complexas regras sociais, e uma vasta gama de habilidades para sobreviver e prosperar. Esse aprendizado massivo simplesmente não pode acontecer rapidamente.
A atenção difusa das crianças é, portanto, a ferramenta perfeita para esta fase da vida. Ela permite a absorção massiva de dados necessária para construir o complexo software mental de um ser humano. A infância longa e o cérebro “esponja” são duas faces da mesma moeda evolutiva.
Construindo as fundações para uma vida inteira

Este intenso período de aprendizado durante a infância serve para construir a base para todas as habilidades cognitivas ao longo da vida. Não é apenas sobre memorizar fatos, mas sobre desenvolver os próprios circuitos cerebrais. Cada nova informação ajuda a fortalecer e a criar novas conexões neurais.
Ao absorver uma quantidade tão vasta de estímulos, as crianças estão, na verdade, esculpindo seus cérebros. Elas estão desenvolvendo os caminhos neurais que serão necessários para processar e entender o mundo complexo ao seu redor. É um trabalho de construção fundamental para o futuro.
Essa base sólida, construída durante os primeiros anos, é o que permitirá o desenvolvimento de habilidades mais sofisticadas mais tarde. O pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de resolver problemas dependem da riqueza dessa fundação inicial. A “distração” de hoje é o alicerce da inteligência de amanhã.
Aprendizes rápidos e a aquisição da linguagem

Pesquisas anteriores já haviam mostrado um fenômeno semelhante que agora faz ainda mais sentido. Ao contrário dos adultos, o cérebro de uma criança processa tanto as coisas em que ela é solicitada a focar quanto as que deveria ignorar de maneiras muito parecidas. Não há uma grande distinção neural entre os dois tipos de estímulo.
Essa falta de filtragem pode ajudar a explicar um dos maiores feitos da cognição humana: a aquisição da linguagem. As crianças são incrivelmente hábeis em aprender as línguas faladas ao seu redor, sem aulas formais. Elas simplesmente absorvem os padrões de som, ritmo e gramática do ambiente.
Essa habilidade parece ser um resultado direto de seu estado de atenção aberta. Elas não estão tentando “aprender” a língua, elas estão simplesmente vivendo nela e absorvendo cada nuance. É o exemplo perfeito do poder do aprendizado difuso em ação.
Adultos são guiados por objetivos e crianças pela curiosidade

Marlie Tandoc, um membro da equipe de pesquisa, resume a diferença de forma brilhante. Os adultos filtram o que estão aprendendo com base em seus objetivos e nas exigências de uma tarefa específica. Nosso aprendizado é pragmático e direcionado, sempre com um propósito em mente.
As crianças, por outro lado, “absorvem tudo, independentemente disso”, explica Tandoc. O aprendizado delas não é guiado por uma meta externa, mas por uma curiosidade interna e insaciável. Elas aprendem pelo simples prazer de descobrir.
O mais impressionante é que essa absorção massiva acontece “aparentemente sem nem tentar”. É um processo tão natural e integrado ao seu ser que não exige esforço consciente. Essa é a beleza e a eficiência do cérebro em sua fase de exploração máxima.
O filtro da atenção e o aprendizado adulto

Embora a ideia de um aprendizado infantil sem esforço seja encantadora, a pesquisa não descarta o valor da atenção. A atenção seletiva desempenha, de fato, um papel fundamental na melhoria do aprendizado dos adultos. Nós, adultos, precisamos desse filtro para sermos eficientes.
Em outras palavras, os adultos tendem a aprender de forma mais eficaz quando são claramente orientados. Saber quais informações são as mais importantes nos ajuda a direcionar nossos recursos cognitivos limitados. Sem essa orientação, podemos nos sentir sobrecarregados e reter menos informações.
Essa é uma lição importante para a educação de adultos, conhecida como andragogia. A clareza de objetivos e a relevância da informação são essenciais para engajar a mente adulta. Nosso cérebro amadurecido prospera com estrutura e propósito.
Implicações práticas para a educação infantil

Esta pesquisa tem o poder de moldar a forma como pais, professores e pedagogos abordam a educação. As descobertas reforçam o imenso valor da brincadeira livre e do aprendizado imersivo para as crianças. É nesses momentos de exploração que a mágica da absorção acontece.
Ambientes ricos em estímulos, onde as crianças podem interagir e descobrir por si mesmas, são ideais. Em vez de focar excessivamente em instruções diretas e foco forçado, podemos confiar mais na capacidade natural da criança de aprender. Devemos criar o cenário e permitir que elas explorem.
Isso não significa abandonar a estrutura, mas equilibrá-la com oportunidades de aprendizado aberto. A pesquisa nos convida a valorizar os momentos de “distração” como parte do processo. É um chamado para uma pedagogia mais confiante na natureza da criança.
Lições para o aprendizado de adultos

Para os adultos, a lição é igualmente clara, embora diferente. Iniciar qualquer aula, treinamento ou workshop definindo claramente os objetivos de aprendizagem é fundamental. Essa clareza inicial funciona como um mapa para o nosso cérebro focado.
Quando um adulto sabe o que se espera que ele aprenda, seu cérebro pode ativar seu poderoso filtro de atenção. Ele começa a procurar ativamente pelas informações relevantes e a descartar o que é secundário. Isso otimiza o processo e aumenta a retenção.
Portanto, tanto para quem ensina quanto para quem aprende na vida adulta, o segredo é a intencionalidade. Definir metas, fazer anotações e buscar a relevância prática do conteúdo são estratégias que se alinham perfeitamente com o funcionamento do cérebro maduro. O foco é a nossa maior ferramenta de aprendizado.
Uma mensagem final para pais e cuidadores

Além de todas as descobertas científicas, os pesquisadores oferecem um conselho prático e reconfortante. “Não fique chateado com o garotinho fazendo polichinelos enquanto lê um livro”, diz a professora Finn. É um convite para respirar fundo e mudar nossa perspectiva.
A probabilidade é que ele ainda esteja ouvindo e aprendendo, mesmo que não pareça. A atividade física pode até estar ajudando seu cérebro a processar a informação de uma forma que funciona para ele. A aparência externa de atenção não corresponde necessariamente à atividade interna de aprendizado.
Essa conclusão é um alívio para a pressão que muitos pais sentem para que seus filhos se encaixem em um molde específico de “bom aluno”. A ciência nos dá permissão para confiar mais na incrível e misteriosa capacidade do cérebro infantil. Eles estão aprendendo, sempre, à sua maneira única e maravilhosa.