
Criaturas inocentes que o medo transformou em demônios
Esqueça os contos de fadas, para muitas culturas, estes animais são a personificação do mal e do azar.
Existem animais que, mesmo sendo completamente inofensivos e inocentes, carregam um peso sombrio nas costas. Ao longo da história, diversas culturas e religiões os rotularam como símbolos do diabo ou mensageiros do mal. Eles se tornaram os vilões da natureza, injustiçados por sua aparência ou comportamento.
Essa visão distorcida é fruto do preconceito e da superstição humana, que transformou criaturas comuns em monstros temidos. Muitas dessas crenças nasceram de lendas antigas, textos religiosos e do simples medo do desconhecido. O resultado é uma herança de desconfiança que perdura até hoje, afetando a forma como vemos esses seres.
Mas quais são esses animais e por que exatamente eles foram demonizados de forma tão intensa? A jornada por trás de cada um revela muito sobre nossos próprios medos e a maneira como projetamos o mal no mundo natural. Prepare-se para descobrir as histórias surpreendentes que mancharam a reputação dessas criaturas para sempre.
Galo

O galo é universalmente conhecido como o despertador da fazenda, seu canto anunciando a chegada de um novo dia. Ele representa a luz, a rotina e a ordem, um símbolo de normalidade na vida rural. No entanto, essa imagem positiva se desfaz completamente quando a noite cai.
Uma antiga superstição diz que o canto de um galo no meio da noite é um sinal terrível. Em vez de anunciar a vida, seu grito na escuridão se torna um prenúncio de morte ou perigo iminente. Essa crença transforma um som familiar em um aviso assustador que quebra o silêncio noturno.
Esse dualismo mostra como o contexto pode mudar tudo, transformando um animal útil em um mensageiro do azar. O mesmo canto que traz conforto pela manhã pode gerar pânico e medo durante a noite. É um exemplo perfeito de como o folclore pode atribuir significados sombrios às coisas mais comuns.
Barata

Poucos insetos causam tanta repulsa quanto a barata, uma criatura frequentemente associada à sujeira e à doença. Em algumas culturas, a aversão vai muito além, acreditando-se que o próprio diabo pode assumir a forma de uma barata. Essa conexão transforma o inseto de uma simples praga em uma manifestação física do mal.
A presença de uma barata em casa é vista como uma ameaça direta, não apenas pela higiene. A capacidade do inseto de contaminar alimentos e se esconder nos cantos mais escuros reforça sua imagem de invasor traiçoeiro. Ela se torna um símbolo da corrupção que entra sorrateiramente em nosso espaço sagrado, o lar.
Essa demonização está ligada à sua incrível resiliência e aparência, que muitos consideram perturbadoras. A barata representa o que é indesejado, persistente e difícil de erradicar, qualidades facilmente transferidas para a figura do diabo. Assim, um simples inseto se torna um portador de uma carga simbólica muito pesada.
Corvo

O corvo, com sua plumagem negra e inteligência aguçada, sempre foi uma figura de mistério e fascínio. No passado, essa ave foi condenada por sua suposta associação com o diabo, e avistá-la era considerado um mau presságio. Sua presença solitária era o suficiente para despertar o medo de que algo ruim estava por vir.
Essa crença foi tão forte que se imortalizou na arte religiosa de forma explícita. Uma obra do século XVII, do escriba etíope Zämänfäs Qeddus, retrata Satanás voando na forma de um corvo. Essa representação visual solidificou a ligação da ave com o mal na mente das pessoas da época.
Ao transformar o corvo em uma das faces do diabo, a arte e a religião criaram um estigma duradouro. O pássaro deixou de ser apenas parte da natureza para se tornar um símbolo vivo do mal. Cada grasnado e cada voo passaram a ser interpretados como uma mensagem vinda diretamente das trevas.
Cobra

Talvez nenhum animal esteja tão ligado ao diabo quanto a cobra, graças a uma das histórias mais famosas da humanidade. A narrativa da serpente no Jardim do Éden é a principal culpada por essa associação duradoura. A criatura é vista como o disfarce que Satanás usou para enganar Eva e introduzir o pecado no mundo.
Desde esse episódio bíblico, as cobras foram eternamente associadas ao poder do mal e à tentação. Elas se tornaram um símbolo universal da traição, do engano e da astúcia usada para corromper a inocência. Sua natureza silenciosa e seu ataque repentino apenas reforçaram essa reputação negativa.
Essa demonização ignora completamente o papel ecológico vital que as cobras desempenham na natureza. Em vez disso, a cultura ocidental as enxerga através do filtro do pecado original, transformando-as em vilãs. Essa herança cultural fez com que o medo de cobras se tornasse quase instintivo para muitas pessoas.
Coruja

As corujas são criaturas da noite, e sua natureza misteriosa sempre despertou desconfiança e admiração. Por muito tempo, elas foram consideradas as mensageiras de feiticeiros e bruxas, cúmplices silenciosas de rituais sombrios. Seus hábitos noturnos e seu pio fantasmagórico eram vistos como uma conexão direta com o mundo oculto.
No simbolismo cristão, a coruja foi ainda mais longe, representando o próprio diabo e sendo considerada um mau presságio. Essa associação foi imortalizada nas obras do pintor holandês Hieronymus Bosch, que viveu numa época em que o diabo era uma ameaça real e palpável. Em suas pinturas, a coruja aparece frequentemente como um observador sinistro, simbolizando a presença do mal.
A arte de Bosch ajudou a solidificar essa imagem negativa, transformando a coruja em um ícone do perigo à espreita na escuridão. A ave, que na verdade é uma caçadora eficiente e vital para o ecossistema, foi injustamente marcada como um arauto da desgraça. Um simples olhar de seus grandes olhos na noite era o suficiente para gelar a espinha de qualquer um.
Morcego

A ligação entre os morcegos e as forças do mal é muito antiga e profundamente enraizada na cultura ocidental. Durante a Europa Medieval, a Igreja via essas criaturas noturnas como a encarnação de espíritos malignos. Sua aparência incomum, um mamífero que voa, e seus hábitos noturnos os tornavam alvos fáceis para a superstição.
Mais tarde, uma lenda folclórica afro-americana reforçou essa ideia, relatando que o diabo poderia aparecer na forma de um morcego. No entanto, foi a literatura que selou seu destino sombrio para sempre. A publicação de ‘Drácula’, de Bram Stoker, em 1897, associou o morcego a vampiros e à morte de uma forma que nunca mais foi esquecida.
Essa conexão foi ainda mais fortalecida com a descoberta do morcego-vampiro nas Américas, que realmente se alimenta de sangue. Até hoje, o mamífero voador permanece injustamente ligado a criaturas sugadoras de sangue e ao terror noturno. Ele se tornou um dos símbolos mais icônicos e temidos do Halloween e do imaginário gótico.
O corvo na literatura e na realeza: Símbolo de mau agouro

Durante a Idade Média, o Cristianismo reforçou a má fama dos corvos, ligando-os diretamente a Satanás, à morte e ao infortúnio. Sua cor negra e seu grasnado rouco eram interpretados como um reflexo da solidão e da escuridão da alma. Essa imagem foi tão poderosa que influenciou a arte e a cultura por séculos.
Em 1845, o escritor Edgar Allan Poe publicou seu famoso poema “O Corvo”, imortalizando a ave como um mensageiro sobrenatural. No poema, o corvo personifica a dor da perda e a melancolia, respondendo a tudo com a palavra “Nunca mais”. A obra de Poe cimentou a imagem do corvo como um símbolo gótico de desespero e mau agouro.
Na Inglaterra, a superstição em torno dos corvos alcançou o nível de assunto de estado. Uma lenda diz que “se os corvos da Torre de Londres se perderem ou voarem para longe, a Coroa cairá e a Grã-Bretanha com ela”. Por causa disso, seis corvos são mantidos oficialmente na torre até hoje, como guardiões místicos do reino.
Aranha

A aranha é uma figura central nas artes ocultas, onde frequentemente simboliza o mal e a escuridão. A forma como tece sua teia, uma armadilha paciente e mortal, é vista como uma metáfora para as artimanhas do diabo. Esse medo profundo, conhecido como aracnofobia, é um dos mais comuns entre os seres humanos.
A reputação da aranha como um símbolo do mal foi fortemente influenciada pela literatura. O romance ‘A Aranha Negra’, de Jeremias Gotthelf, de 1842, transformou lendas antigas em uma alegoria sobre o bem e o mal. A obra ajudou a solidificar a imagem do aracnídeo como uma criatura demoníaca e perigosa.
Essa visão negativa ignora a beleza e a complexidade de suas teias, bem como seu papel crucial no controle de insetos. No entanto, para muitos, a aranha continua sendo um símbolo de pavor e intriga. Sua aparência e seu comportamento predatório a tornam o vilão perfeito no teatro da imaginação humana.
Carneiro

Desde a antiguidade, características como chifres e cascos fendidos foram diretamente ligadas à adoração do diabo. Essa associação tem raízes na mitologia grega, com a figura de Pã. Ele era o deus da natureza, metade homem e metade bode, cujos apetites carnais o tornaram um símbolo do que era proibido e selvagem.
O cristianismo primitivo absorveu essa imagem pagã e a utilizou para construir sua própria representação do diabo. Os chifres em espiral do carneiro, os cascos fendidos e a barba de bode se tornaram características icônicas de Satanás. Assim, um deus da natureza foi transformado na personificação do pecado e do mal.
Essa fusão de imagens criou um arquétipo visual tão poderoso que perdura até hoje. O carneiro, um animal de rebanho comum, acabou emprestando suas características para a figura mais temida da religião ocidental. É um exemplo claro de como crenças antigas foram reinterpretadas para servir a uma nova teologia.
Besouro serra-p a u

Seguindo a mesma lógica dos chifres, o besouro serra-pau também entrou na lista dos suspeitos. Suas antenas excepcionalmente longas e curvadas lembram chifres, o que foi suficiente para associá-lo a demônios. A aparência do inseto foi interpretada como um sinal de sua natureza maligna.
Essa conexão está enraizada na mitologia grega, em uma história sobre orgulho e punição. Segundo a lenda, um pastor chamado Cerambus discutiu com ninfas e, como castigo, foi transformado em um grande besouro com chifres. O nome científico do inseto, Cerambycidae, vem diretamente desse mito trágico.
Assim, o besouro carrega o peso de uma maldição antiga em seu próprio nome. O que é apenas uma característica biológica fascinante, suas antenas, se tornou um símbolo de transformação e castigo divino. É mais um caso de um animal inocente sendo julgado por sua aparência incomum.
Rato

Os ratos carregam uma péssima reputação há séculos, sendo tradicionalmente associados ao mal-estar e ao infortúnio. Eles foram infamemente culpados por espalhar a Peste Negra no século XIV, um evento que dizimou a população da Europa. Essa conexão com a praga selou sua imagem como portadores da morte.
Embora estudos modernos mostrem que os principais vetores da doença eram pulgas e piolhos, a culpa permaneceu com os ratos. Sua reputação como um animal cruel, impuro e parasita persiste até hoje. Eles são vistos como uma personificação do mal que se esgueira pelas sombras e prospera na decadência.
Essa imagem negativa é tão forte que a palavra “rato” é usada como um insulto para descrever traidores e pessoas desprezíveis. O pequeno roedor, que é na verdade um animal inteligente e social, ficou preso a um estigma histórico. Ele continua a ser um dos animais mais difamados do planeta.
Abutre

O apetite do abutre por carniça definitivamente não o ajudou a fazer amigos. Essas aves são imediatamente associadas à morte e à decadência, pois sua presença indica que algo ou alguém pereceu. Eles são os faxineiros da natureza, mas esse papel essencial lhes rendeu uma reputação macabra.
Os abutres também estão ligados à guerra, pois se reúnem nos campos de batalha para se alimentar dos mortos. Essa imagem poderosa os transformou em um símbolo de destruição e desolação. Vê-los circulando no céu é um sinal universal de que a morte está próxima.
Apesar de sua aparência intimidadora e de seus hábitos alimentares, os abutres desempenham um papel ecológico fundamental. Ao limpar as carcaças, eles evitam a propagação de doenças. No entanto, na cultura popular, eles permanecem como um presságio sombrio, os arautos alados do fim.
Sapo

Considerado por muitos como uma das criaturas mais repulsivas da natureza, o sapo teve um passado difícil. Nos tempos medievais, ele era visto como um discípulo do diabo, capaz de cuspir veneno e fogo. Sua aparência verrucosa e seu habitat úmido e escuro contribuíram para essa fama terrível.
A reputação do sapo era tão temível que ele chegou a ser usado como instrumento de tortura. Acreditava-se que sua presença poderia extrair confissões de bruxas e hereges. O simples contato com o anfíbio era visto como uma prova de culpa ou um castigo divino.
Essa demonização transformou um animal inofensivo em um monstro do folclore europeu. O sapo, que na verdade ajuda a controlar pragas de insetos, foi injustamente marcado como um servo das trevas. Sua imagem ficou para sempre ligada a poções de bruxas e a feitiços malignos.
Raposa

A raposa é universalmente retratada como uma trapaceira, um animal astuto que usa sua inteligência para enganar os outros. Embora raramente seja vista como puramente má, as superstições a consideram uma criatura em quem não se pode confiar. Sua fama é a de uma vigarista oportunista e esperta.
Essa reputação vem de sua habilidade notável de enganar caçadores e roubar galinhas de galinheiros. A raposa se tornou um símbolo da malandragem que sempre consegue se safar. No folclore, ela é a personagem que desafia a autoridade e subverte as regras com sua sagacidade.
Curiosamente, essa mesma habilidade de escapar do perigo lhe rendeu um respeito relutante entre seus inimigos. Os caçadores, embora a vejam como uma praga, não podem deixar de admirar sua inteligência e resiliência. A raposa existe nesse espaço ambíguo entre a vilania e a admiração.
Touro

A força e a agressividade do touro o tornaram um símbolo poderoso em muitas culturas, mas nem sempre de forma positiva. Na mitologia grega, essa força foi personificada no temível Minotauro. O monstro de Creta tinha o corpo de um homem e a cabeça e a cauda de um touro.
O Minotauro não nasceu mau, mas sua natureza monstruosa o transformou em uma ameaça para a sociedade grega. Ele vivia em um labirinto e se alimentava de jovens atenienses enviados como tributo. A história do Minotauro associa a imagem do touro a uma força bestial e indomável que ameaça a civilização.
Essa lenda destaca o medo humano do que é primitivo e selvagem, representado pela cabeça do touro. Embora o animal em si não seja mau, sua força e poder foram usados para criar um dos monstros mais famosos da mitologia. Assim, o touro ficou marcado como um símbolo de perigo e brutalidade.
Hiena

Em toda a África, a hiena sempre foi vilanizada por sua astúcia e por seus supostos truques, de forma muito parecida com a raposa na Europa. Seu chamado, que se assemelha a uma risada humana, é frequentemente interpretado como algo sinistro e zombeteiro. Ela é vista como uma criatura traiçoeira e oportunista.
Essa má reputação viajou para a Europa durante a Idade Média. Muitos bestiários, que eram compêndios de animais, adotaram a hiena como um símbolo dos atos sombrios do diabo. Ela foi descrita como uma criatura impura que desenterrava cadáveres para se alimentar, uma imagem profundamente perturbadora para a mentalidade cristã.
Esses textos medievais solidificaram a imagem da hiena como um animal demoníaco no imaginário europeu. Sua reputação como necrófaga e sua “risada” sinistra a tornaram a personificação perfeita da corrupção e do desrespeito aos mortos. Mais uma vez, um comportamento natural foi interpretado da forma mais negativa possível.
Javali

O javali, com sua força bruta e temperamento agressivo, era visto pelos primeiros cristãos como uma criatura vil e rude. Sua natureza selvagem e seu apetite voraz o tornaram um símbolo dos pecados da carne. Ele representava os desejos mais básicos e descontrolados da humanidade.
Em particular, o javali se tornou a expressão máxima do pecado da gula. Sua busca incessante por comida e a forma como devora tudo o que encontra foram vistas como uma metáfora para o excesso e a falta de moderação. Ele era o exemplo perfeito de como os instintos poderiam levar à perdição.
Curiosamente, embora fosse associado a pecados graves, o javali não era considerado necessariamente mau como o diabo. Ele era mais um símbolo da fraqueza humana e da luta contra as tentações terrenas. Sua imagem servia como um alerta contra os perigos de ceder aos apetites carnais.
Melro-preto

O melro-preto é conhecido por possuir um dos cantos mais melódicos e agradáveis do mundo das aves. No entanto, a cor de sua plumagem, um negro profundo e uniforme, ofuscou sua bela voz aos olhos da superstição. Para muitos, essa cor sugeria uma conexão direta com bruxas, místicos e o mundo da magia.
Essa associação sombria encontrou respaldo em textos religiosos, o que piorou ainda mais sua situação. No livro de Levítico, na Bíblia, o melro-preto é mencionado como um animal impuro. Essa classificação o colocou na categoria de criaturas que simbolizam o pecado e o mal.
Assim, um passarinho com um canto encantador foi injustamente marcado por sua aparência. A cor preta, frequentemente associada ao luto e ao mal, foi suficiente para manchar sua reputação. É um lembrete de como os símbolos visuais podem superar qualquer outra qualidade positiva.
Escorpião

O escorpião já tem uma reputação assustadora por natureza, graças ao seu ferrão venenoso. Essa característica mortal o torna uma criatura temida em todas as culturas onde habita. Sua aparência aracnídea e seu ataque rápido e doloroso só contribuem para o pavor que inspira.
Para piorar ainda mais sua imagem, existe uma espécie específica conhecida popularmente como “escorpião do diabo”. Esse nome não ajuda em nada a reputação de uma criatura que já é vista com desconfiança. É como se o próprio nome confirmasse sua natureza maligna aos olhos humanos.
A combinação de seu veneno real com um nome demoníaco cria uma imagem quase insuperável de maldade. O escorpião se torna um símbolo de traição e perigo oculto, a ameaça que pode surgir do nada. Ele personifica o medo de um ataque súbito e letal vindo das sombras.
Mosca

Na Bíblia, as moscas são usadas para representar tudo o que é ruim, impuro e irritante. Elas são frequentemente associadas a pragas e à ira divina, como visto na história das pragas do Egito. Sua presença em massa é um sinal de desordem e punição.
Alguns ensinamentos religiosos foram ainda mais longe, sugerindo que as moscas eram descendentes diretas do diabo. Uma das alcunhas de Satanás, Belzebu, é frequentemente traduzida como “Senhor das Moscas”. Essa conexão linguística solidificou a imagem do inseto como um agente do inferno.
A preferência das moscas por matéria em decomposição e sujeira só piorou sua reputação já desagradável. Elas se tornaram um símbolo vivo da corrupção, da morte e da decadência. Um inseto comum e irritante foi elevado ao status de representante do mal na Terra.
Lobo

O lobo sempre ocupou um lugar ambíguo na imaginação humana, sendo tanto reverenciado quanto temido. No Antigo Egito, ele era visto como um guardião do submundo, uma figura poderosa e respeitada. No entanto, na Europa medieval, sua imagem mudou drasticamente para pior.
Durante a Idade das Trevas, as bruxas foram intimamente associadas a esses caninos, e os lobos foram vistos como seus familiares. Seu uivo triste e penetrante espalhava medo pelas comunidades rurais, sendo interpretado como um mau presságio. A lenda do lobisomem, um humano que se transforma em lobo, surgiu na mitologia grega, mas se enraizou na cultura europeia mais tarde.
Essa crença no lobisomem foi alimentada por uma onda de misteriosos assassinatos em série na França e na Alemanha no século XV. Os crimes horríveis foram atribuídos a essas criaturas, gerando um pânico generalizado. Assim, o lobo se tornou o rosto do terror bestial que se esconde sob uma aparência humana.
Gato Preto

O pobre do gato preto carrega uma das superstições mais famosas e duradouras do mundo ocidental. Acredita-se que o principal responsável por perpetuar esse mito foi o Papa Gregório IX. Em 1233, ele iniciou uma infame inquisição papal contra o que chamava de Luciferianismo na Alemanha.
Nesse decreto, conhecido como “Vox in Rama”, o papa fez uma declaração chocante. Ele afirmou que os gatos pretos eram uma encarnação de Satanás, descrevendo-os como criaturas demoníacas, metade humanas e metade felinas. Essa bula papal deu autoridade religiosa à perseguição desses animais.
A partir desse momento, o destino dos gatos pretos foi selado por séculos. Eles foram caçados e mortos em toda a Europa, vistos como companheiros de bruxas e agentes do diabo. Uma simples cor de pelagem foi suficiente para transformar um animal doméstico em um alvo do fanatismo religioso.
Rã

A rã, assim como seu parente próximo, o sapo, não conseguiu escapar da associação com o mal. Ela também foi ligada ao satanismo e a rituais de magia negra em diversas culturas. Sua pele lisa e úmida e seu coaxar noturno eram vistos com desconfiança.
Essa imagem negativa é fortemente reforçada no livro do Apocalipse, na Bíblia. No texto, as rãs são retratadas de forma explicitamente demoníaca. Elas são descritas como “espíritos impuros dos demônios” que saem da boca do Dragão e da Besta.
Essa passagem bíblica conferiu à rã uma reputação terrível no imaginário cristão. Ela deixou de ser um simples anfíbio para se tornar um símbolo da corrupção e da influência demoníaca. É mais um exemplo de como textos sagrados podem moldar profundamente nossa percepção do mundo natural.
Lesma negra

As lesmas negras são criaturas lentas e viscosas que frequentemente aparecem após a chuva. Sua aparência e textura as tornam sinônimo de mal, morte e carma ruim em muitas superstições. Vê-las em seu caminho é considerado por alguns como um sinal de má sorte iminente.
Sua cor preta, já associada ao luto e ao negativo, reforça ainda mais essa conexão. Elas parecem emergir do submundo úmido, rastejando lentamente e deixando um rastro brilhante para trás. Essa imagem evoca sentimentos de desconforto e repulsa em muitas pessoas.
Apesar de serem completamente inofensivas, as lesmas negras não conseguem se livrar dessa fama. Elas representam o que é lento, pegajoso e indesejado. No folclore, elas são um pequeno, mas potente, lembrete de que a má sorte pode estar em qualquer lugar.
Larva

As larvas, especialmente as de moscas, são universalmente consideradas um sinal de decadência e morte. Sua presença em matéria orgânica indica que o processo de decomposição já começou. Elas são a representação viva da transição da vida para a podridão.
Indo além do físico, as larvas também passaram a representar a corrupção da alma. Elas simbolizam a mortalidade, a fragilidade da vida e o mal que consome o que antes era puro. A imagem de um corpo sendo consumido por larvas é uma das mais perturbadoras do imaginário humano.
Essa associação é tão forte que a palavra “larva” é usada metaforicamente para descrever algo vil e corrupto. Elas nos forçam a confrontar a realidade da morte e do ciclo da matéria. São um lembrete desconfortável de nosso próprio destino biológico.
Cachorro

Pode parecer chocante hoje, mas o melhor amigo do homem já teve uma reputação muito mais sombria. Em tempos antigos, o cachorro foi acusado de ser o animal de estimação do diabo. Essa associação estava muito ligada à morte e ao submundo.
O cão mencionado na Bíblia, por exemplo, não era o animal de estimação fiel que conhecemos. Era mais parecido com uma espécie de lobo errante, um animal selvagem e potencialmente perigoso que vagava em matilhas. Essa imagem de predador de rua contribuiu para sua má fama inicial.
Felizmente, a percepção do cachorro mudou drasticamente ao longo do tempo. Sua lealdade, inteligência e companheirismo o redimiram completamente aos olhos da humanidade. É uma das poucas criaturas desta lista que conseguiu superar completamente seu passado sombrio.
Diabo-espinhoso

Alguns animais parecem ter sido injustiçados desde o momento em que foram batizados. O diabo-espinhoso é um exemplo perfeito, pois seu nome e sua aparência o associam diretamente ao mal. Este lagarto endêmico da Austrália parece uma criatura saída de um pesadelo.
Apesar de seu visual intimidador, coberto de espinhos, ele está longe de ser perigoso para os humanos. Na verdade, é um animal lento e inofensivo que se alimenta exclusivamente de formigas. Sua aparência é apenas um mecanismo de defesa engenhoso contra predadores.
Contrariando sua fama demoníaca, o diabo-espinhoso é um animal representativo importante para o povo aborígene australiano. Para eles, o lagarto tem um significado cultural e espiritual profundo. É um caso clássico de como não se deve julgar um livro, ou um animal, pela capa.
Cavalo sem cor

O cavalo de cor pálida, ou sem cor, não é uma manifestação do mal em si, mas sim um de seus arautos mais famosos. Sua notoriedade vem diretamente do livro do Apocalipse na Bíblia. Ele é o quarto cavalo, e seu cavaleiro tem um nome assustador: Morte.
A imagem do Cavalo Pálido trazendo a morte e a destruição por onde passa é uma das mais poderosas da literatura religiosa. Ele se tornou um símbolo indelével do fim dos tempos e do juízo final. Sua cor desbotada representa a ausência de vida e a palidez de um cadáver.
Essa representação influenciou a arte e a cultura por séculos, aparecendo em inúmeras pinturas, livros e filmes. O cavalo, normalmente um símbolo de força e liberdade, foi transformado em um presságio de aniquilação. Ele nos lembra que, segundo a profecia, a morte virá cavalgando.
Lagartixa-satânica-cauda-de-folha

Se houvesse um prêmio para o nome de animal mais assustador, este aqui certamente seria um forte candidato. A simples menção da “lagartixa-satânica-cauda-de-folha” pode causar arrepios nos mais sensíveis. É um nome que parece ter sido criado especificamente para assustar.
Apesar de sua etimologia demoníaca, esta lagartixa de Madagascar é completamente inofensiva. Seu nome vem da descrição “mítica” feita pelo naturalista belga George Albert Boulenger em 1888. Ele ficou tão impressionado com sua aparência bizarra que lhe deu um nome à altura.
Na realidade, a lagartixa é uma mestra da camuflagem, com uma cauda que imita perfeitamente uma folha em decomposição. Sua aparência “satânica” é apenas uma adaptação incrível para sobreviver na floresta. É o exemplo definitivo de como a ciência, às vezes, pode ser tão dramática quanto a superstição.