Rãs de Chernobyl evoluíram para resistir à radiação

Rãs de Chernobyl evoluíram para resistir à radiação

Estudo revela que as rãs da zona de exclusão desenvolveram adaptações surpreendentes, desafiando os impactos esperados da radiação nuclear.

Quase quatro décadas após o desastre nuclear de Chernobyl, cientistas descobriram que as rãs orientais da região apresentam colorações mais escuras, uma característica associada à melanina, pigmento que oferece proteção contra os efeitos nocivos da radiação. Essa adaptação é vista como um exemplo de evolução rápida, em que indivíduos com maior resistência sobreviveram e perpetuaram essas características.

A pesquisa revelou que a coloração escura não foi causada diretamente pela radiação, mas sim favorecida por ela. As rãs mais escuras, presentes em menor número antes do acidente, foram protegidas pela melanina e tiveram maior sucesso reprodutivo. Esse processo seletivo permitiu que a população da espécie mudasse drasticamente ao longo de gerações.

Além disso, estudos indicam que os níveis atuais de radiação na região não são mais suficientes para causar danos crônicos às rãs. Isso reforça a ideia de que a seleção natural desempenhou um papel crucial na sobrevivência desses anfíbios em um ambiente hostil.

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A importância da melanina na proteção contra a radiação

A melanina, conhecida principalmente por determinar a pigmentação em organismos, possui propriedades protetoras contra radiação ionizante. Em Chernobyl, essa característica foi essencial para as rãs orientais, cuja coloração escura absorve e dissipa parte da energia radioativa, reduzindo danos celulares.

Pesquisadores analisaram mais de 200 rãs entre 2017 e 2019, observando que as populações dentro da zona contaminada eram significativamente mais escuras do que aquelas fora dela. Essa diferença não está relacionada aos níveis atuais de radiação, mas sim à exposição inicial intensa após o acidente nuclear.

A melanina também neutraliza moléculas reativas dentro das células, protegendo o material genético dos anfíbios. Essa capacidade foi crucial para a sobrevivência das rãs em um ambiente tão extremo, destacando o papel desse pigmento na evolução adaptativa.

Rãs de Chernobyl evoluíram para resistir à radiação
A coloração escura das rãs de Chernobyl é um exemplo fascinante de evolução adaptativa em resposta à radiação (Imagem: Reprodução/Divulgação).

Efeitos da radiação no envelhecimento das rãs

Contrariando expectativas iniciais, estudos recentes mostram que a radiação não acelerou o envelhecimento das rãs de Chernobyl. Pesquisadores mediram o comprimento dos telômeros – marcadores biológicos associados ao envelhecimento – e não encontraram diferenças significativas entre indivíduos expostos a altos níveis de radiação e aqueles de áreas não contaminadas.

A idade média das rãs estudadas foi de 3,6 anos, consistente com populações fora da zona de exclusão. Além disso, os níveis hormonais relacionados ao estresse também permaneceram estáveis, indicando que esses anfíbios não sofrem impactos fisiológicos severos devido à exposição prolongada à radiação.

Esses resultados desafiam suposições anteriores sobre os efeitos devastadores da radiação na fauna local e sugerem que as rãs desenvolveram uma resiliência notável ao ambiente radioativo.

Implicações para a ciência e conservação

A adaptação das rãs de Chernobyl oferece insights valiosos sobre como espécies podem responder a condições ambientais extremas. O estudo dessas populações abre caminho para aplicações práticas em áreas como gestão de resíduos nucleares e exploração espacial, onde a proteção contra radiação é essencial.

A pesquisa também destaca a importância da conservação na zona de exclusão de Chernobyl. Quase 40 anos após o desastre, a região se tornou um refúgio para diversas espécies, incluindo lobos e linces. Entender como essas espécies se adaptam pode ajudar na preservação da biodiversidade em ambientes impactados por atividades humanas.

Dessa forma, as rãs de Chernobyl não apenas desafiam as expectativas científicas sobre os efeitos da radiação, mas também oferecem um exemplo inspirador do poder da natureza em superar adversidades extremas.

Fonte: Galileu.