Neandertais colecionavam fósseis e revelam pensamento avançado
Estudo revela que neandertais reuniam objetos simbólicos, mostrando traços sofisticados de cognição e cultura.
Os neandertais, frequentemente vistos como ancestrais rústicos dos humanos modernos, surpreendem mais uma vez a comunidade científica. Descobertas recentes na Caverna Prado Vargas, no norte da Espanha, revelaram uma coleção de 15 fósseis marinhos datados de 39,8 a 54,6 mil anos atrás. Esses objetos, sem utilidade prática aparente, indicam que esses hominídeos possuíam um comportamento simbólico e uma capacidade de pensamento abstrato muito mais complexa do que se imaginava.
A coleção inclui fósseis de moluscos e caracóis marinhos primitivos, transportados de formações geológicas localizadas a mais de 30 quilômetros da caverna. Segundo os pesquisadores, apenas um dos fósseis apresenta sinais de uso como ferramenta, sugerindo que o restante foi reunido por razões estéticas ou simbólicas. Essa descoberta reforça a ideia de que os neandertais atribuíam valor especial a certos objetos, muito antes da chegada dos Homo sapiens.
Os especialistas acreditam que esses fósseis podem ter sido usados como ornamentos, presentes ou até mesmo brinquedos infantis. A presença de crianças no local sugere que o fascínio pelos objetos pode ter sido compartilhado por todas as idades, destacando um lado lúdico e social desses ancestrais.
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Uma nova perspectiva sobre os neandertais
Essas descobertas desafiam a visão tradicional dos neandertais como seres exclusivamente focados na sobrevivência. Estudos anteriores já apontavam para comportamentos culturais e religiosos entre eles, mas esta é a primeira vez que uma coleção tão extensa é identificada. A análise dos fósseis sugere que os neandertais tinham um senso estético e uma curiosidade que transcendem o funcional.
Além disso, os pesquisadores destacam que o ato de colecionar pode ter desempenhado um papel importante na construção da identidade cultural desses grupos. A coleta desses fósseis exigia planejamento e colaboração, indicando um nível avançado de organização social. Isso também sugere que os neandertais possuíam uma percepção do mundo ao seu redor que ia além do imediato.
A motivação exata para essa prática ainda é incerta. Hipóteses incluem desde competição e altruísmo até um senso de continuidade ou mesmo práticas mágico-religiosas. Independentemente da razão específica, o comportamento evidencia uma sofisticação cognitiva notável.
Comparações com os humanos modernos
A descoberta também lança luz sobre as semelhanças entre neandertais e humanos modernos. Estudos genéticos mostram que ambas as espécies compartilharam genes e características culturais em períodos de coexistência na Europa e Ásia. No entanto, essa coleção na Caverna Prado Vargas parece ser uma prática desenvolvida independentemente pelos neandertais, sem influência direta dos humanos modernos.
A capacidade craniana maior dos neandertais em comparação com os humanos modernos pode ter contribuído para esse comportamento simbólico. Além disso, suas adaptações ao clima frio e sua organização social complexa sugerem que eles eram muito mais do que simples caçadores-coletores. Essas descobertas continuam a desmistificar a ideia de que os neandertais eram menos inteligentes ou culturalmente inferiores.
Os pesquisadores também apontam para outras evidências arqueológicas que indicam comportamentos semelhantes em diferentes locais ocupados por neandertais. Isso inclui o uso de pigmentos para decoração corporal e a coleta de cristais e conchas marinhas por seu apelo visual.
O legado cultural dos neandertais
A análise dessa coleção não apenas amplia nosso entendimento sobre os neandertais, mas também nos aproxima das origens do comportamento humano moderno. O desejo de colecionar objetos simbólicos parece ser uma característica profundamente enraizada na evolução humana, compartilhada tanto por nossos ancestrais quanto por nós.
A descoberta na Caverna Prado Vargas destaca a importância da curiosidade e do apreço pelo desconhecido como traços fundamentais da humanidade. Assim como nós colecionamos itens por razões emocionais ou estéticas, os neandertais podem ter encontrado significado em suas coleções de fósseis. Isso nos lembra que as fronteiras entre “nós” e “eles” são muito mais tênues do que imaginávamos.
No final das contas, esses achados reforçam a ideia de que os Homo neanderthalensis, extintos há cerca de 40 mil anos, eram seres reflexivos e criativos, capazes de atribuir valor simbólico ao mundo ao seu redor. Eles não apenas sobreviveram em ambientes desafiadores, mas também deixaram um legado cultural que continua a nos fascinar até hoje.
Fonte: Revista Galileu.