Jogo de tabuleiro perdido há 4 mil anos tem regras recriadas

Jogo de tabuleiro perdido há 4 mil anos tem regras recriadas

Pesquisadores desvendam as possíveis regras de um jogo milenar encontrado no Irã, permitindo que ele seja jogado novamente após milhares de anos.

Um jogo de tabuleiro com mais de 4 mil anos, descoberto em escavações no sudeste do Irã, teve suas regras recriadas por pesquisadores. O tabuleiro foi encontrado em 1977 na antiga cidade de Shahr-i Sokhta, enterrado em uma sepultura datada entre 2600 e 2400 a.C. Sem um manual de instruções, o artefato permaneceu um mistério por décadas, até que especialistas propuseram um conjunto de regras inspirado em jogos semelhantes da Mesopotâmia.

A proposta recriada descreve o jogo como uma corrida estratégica, onde os jogadores devem retirar todas as suas peças do tabuleiro antes do adversário. Peças inimigas podem ser atacadas e forçadas a reiniciar o percurso, tornando a dinâmica semelhante ao gamão moderno. Essa reconstrução foi testada com 50 jogadores experientes e descrita como intrigante e jogável.

A inspiração para as regras veio do “Jogo Real de Ur”, outro passatempo milenar cujas instruções foram parcialmente decifradas em tabuletas cuneiformes. Embora as regras originais do jogo iraniano permaneçam desconhecidas, a recriação oferece uma visão fascinante da cultura lúdica das civilizações antigas.

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A descoberta arqueológica de Shahr-i Sokhta

O tabuleiro foi desenterrado durante escavações conduzidas por arqueólogos italianos e iranianos em Shahr-i Sokhta, uma cidade histórica conhecida por sua riqueza cultural. A sepultura onde o jogo foi encontrado também continha outros artefatos, indicando sua importância simbólica ou recreativa na sociedade da época.

Sem um manual ou referência direta, os pesquisadores enfrentaram o desafio de interpretar o propósito e as regras do jogo. Estudos comparativos com outros jogos antigos ajudaram a preencher as lacunas. O “Jogo Real de Ur”, popular na Mesopotâmia no mesmo período, serviu como base para entender as mecânicas do tabuleiro iraniano.

Os especialistas destacam que jogos como este não eram apenas formas de entretenimento, mas também refletiam aspectos sociais e culturais das civilizações antigas. Eles podiam simbolizar disputas estratégicas, rituais religiosos ou até mesmo práticas educacionais.

Jogo de tabuleiro perdido há 4 mil anos tem regras recriadas
Tabuleiro milenar encontrado no Irã revela detalhes sobre os jogos das civilizações antigas (Imagem: Reprodução/Divulgação).

A recriação das regras e sua jogabilidade

A reconstrução das regras foi publicada em um estudo preliminar no site SocArXiv e posteriormente aceita pelo Journal of the British Institute of Persian Studies. Segundo os autores, o jogo é uma corrida estratégica com elementos de bloqueio. As peças dos jogadores podem impedir o avanço do adversário, mas sem atacar diretamente os bloqueadores inimigos.

Cada partida envolve a movimentação de dez peças por jogador, com o objetivo de retirá-las do tabuleiro antes do oponente. A possibilidade de atacar peças inimigas adiciona um elemento tático ao jogo, exigindo planejamento e antecipação dos movimentos adversários. Essa dinâmica foi comparada ao gamão, mas com características únicas que refletem sua origem milenar.

A recriação foi testada com jogadores modernos para avaliar sua jogabilidade e consistência lógica. Apesar das limitações impostas pela ausência de um manual original, o sistema proposto foi bem recebido e considerado fiel ao contexto histórico do artefato.

A relevância cultural dos jogos antigos

Jogos como o encontrado em Shahr-i Sokhta são mais do que simples passatempos; eles oferecem uma janela para as práticas sociais e culturais das civilizações antigas. Assim como o “Jogo Real de Ur” na Mesopotâmia ou o Senet no Egito, esses tabuleiros eram frequentemente associados a rituais religiosos ou simbolismos espirituais.

No caso específico do jogo iraniano, sua presença em uma sepultura sugere um significado além do entretenimento. Ele pode ter sido usado como parte de rituais funerários ou representado uma metáfora para a jornada da vida após a morte. Essa interpretação é consistente com outros achados arqueológicos da região.

A recriação das regras também contribui para o estudo da evolução dos jogos, destacando como elementos como competição, estratégia e cooperação já estavam presentes em práticas lúdicas há milhares de anos. Esses aspectos continuam sendo explorados em jogos modernos, mostrando a continuidade e relevância desse legado cultural.

A recriação permite entender melhor a importância dos jogos na antiguidade (Imagem: Reprodução/Divulgação).

Fonte: Mega Curioso.