Round 6 enfrenta críticas por escolha de ator cis para papel trans

Round 6 enfrenta críticas por escolha de ator cis para papel trans

A segunda temporada de “Round 6” gera polêmica ao escalar um ator cisgênero para interpretar uma personagem trans, reacendendo debates sobre representatividade na Coreia do Sul.

A estreia da nova temporada de “Round 6” trouxe à tona uma intensa discussão sobre representatividade LGBTQIA+ no entretenimento. A polêmica gira em torno da escalação do ator cisgênero Park Sung-hoon para interpretar Hyun-ju, a primeira personagem trans da série. A decisão gerou reações mistas, com críticas nas redes sociais e questionamentos sobre a inclusão de atores trans no mercado audiovisual sul-coreano.

Hyun-ju, apresentada como a Jogadora Número 120, é uma mulher trans que ingressa nos jogos mortais para arrecadar dinheiro para sua cirurgia de redesignação sexual. Apesar do arco narrativo da personagem ter conquistado parte do público, muitos apontaram a escolha do elenco como uma oportunidade perdida de dar visibilidade a atrizes trans, especialmente em um contexto onde a comunidade LGBTQIA+ enfrenta marginalização.

Essa prática, conhecida como “transfake”, tem sido amplamente criticada por não apenas excluir atores trans das produções, mas também perpetuar estereótipos prejudiciais. Especialistas destacam que a escolha de atores cis para papéis trans pode reforçar preconceitos e dificultar a aceitação social dessas identidades.

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Criador da série justifica escolha do elenco

Hwang Dong-hyuk, diretor e criador de “Round 6”, defendeu a escalação de Park Sung-hoon em entrevistas recentes. Ele explicou que encontrou dificuldades em encontrar atores abertamente trans na Coreia do Sul, um país onde a comunidade LGBTQIA+ ainda enfrenta forte discriminação. Segundo Hwang, essa realidade limitou as opções disponíveis para o papel.

O diretor afirmou que sua intenção era incluir personagens que representassem setores marginalizados da sociedade. “Os participantes dos jogos são pessoas negligenciadas ou marginalizadas, não apenas financeiramente, mas também socialmente”, disse ele. Hwang espera que a presença de Hyun-ju na série ajude a aumentar a conscientização sobre os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no país.

No entanto, críticos argumentam que o esforço por inclusão seria mais autêntico se o papel tivesse sido interpretado por uma atriz trans. Eles destacam que essa abordagem não apenas aumentaria a representatividade, mas também ofereceria uma perspectiva mais genuína à personagem.

Round 6 enfrenta críticas por escolha de ator cis para papel trans
A polêmica em torno de Hyun-ju reacende debates sobre representatividade LGBTQIA+ no entretenimento sul-coreano. (Imagem: Reprodução/Divulgação)

A prática do “transfake” e suas implicações

A prática de escalar atores cisgêneros para interpretar personagens trans tem sido amplamente debatida em diversas produções ao redor do mundo. Documentários como “Revelação”, disponível na Netflix, exploram como essa escolha pode impactar negativamente a percepção pública sobre pessoas trans. Especialistas apontam que essa abordagem reforça estereótipos prejudiciais e dificulta o acesso de atores trans ao mercado de trabalho.

No caso específico da Coreia do Sul, onde as produções audiovisuais são fortemente influenciadas por normas culturais conservadoras, o desafio é ainda maior. A ausência de artistas abertamente LGBTQIA+ reflete as barreiras sociais enfrentadas por esses indivíduos no país. Assim, enquanto Hwang Dong-hyuk defende sua decisão como uma limitação prática, críticos veem nela uma perpetuação das dificuldades enfrentadas pela comunidade.

A inclusão de Hyun-ju em “Round 6” foi vista por alguns como um avanço simbólico, mas insuficiente para promover mudanças significativas no cenário cultural sul-coreano. A escolha do elenco acabou ofuscando o impacto positivo que a personagem poderia ter tido na luta por visibilidade e aceitação.

Impacto nas redes sociais e na audiência

A reação do público à polêmica foi intensa nas redes sociais. Enquanto alguns elogiaram o esforço da série em abordar questões relacionadas à diversidade, outros criticaram duramente a produção pela falta de autenticidade na escalação do elenco. Termos como “transfake” e debates sobre representatividade dominaram discussões online.

Além disso, analistas destacam que o caso reflete um dilema mais amplo enfrentado pela indústria do entretenimento: equilibrar demandas por inclusão com as limitações impostas por contextos culturais específicos. No caso de “Round 6”, a controvérsia pode servir como um ponto de partida para discussões mais amplas sobre diversidade e inclusão na mídia asiática.

No entanto, é evidente que há um longo caminho a ser percorrido para garantir que personagens LGBTQIA+ sejam representados com autenticidade e respeito. Produções futuras terão a oportunidade de aprender com os erros e acertos dessa temporada de “Round 6”, promovendo mudanças significativas no setor.

Fonte: UOL.