Personagem real que inspirou Round 6 critica impacto da série
Ativista sul-coreano, cujas experiências deram origem ao protagonista de Round 6, revela frustração com a falta de mudanças sociais impulsionadas pelo sucesso da produção.
O fenômeno global Round 6, conhecido por sua crítica contundente às desigualdades sociais, foi inspirado em eventos reais vividos por trabalhadores na Coreia do Sul. Entretanto, o ativista que serviu de base para o protagonista expressou sentimentos de vazio e frustração diante da repercussão da série. Ele acredita que, apesar do sucesso, a produção não gerou transformações significativas nas condições trabalhistas do país.
A série, criada por Hwang Dong-hyuk, retrata um jogo mortal no qual pessoas endividadas competem por uma fortuna. As experiências do personagem principal, Seong Gi-hun, foram inspiradas na greve de trabalhadores da fábrica Ssangyong em 2009. Na época, mais de 2.600 funcionários enfrentaram demissões em massa e protestaram contra as condições impostas pela empresa. O confronto resultou em episódios violentos que marcaram a história recente da Coreia do Sul.
O ativista envolvido na greve destacou que a narrativa de Round 6 capturou a essência das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores. No entanto, ele lamenta que o impacto cultural da série tenha se limitado ao entretenimento, sem provocar mudanças estruturais nas relações trabalhistas ou na desigualdade social no país.
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A greve na Ssangyong e suas conexões com Round 6
A greve de 2009 na fábrica da Ssangyong foi um marco na luta dos trabalhadores sul-coreanos. Durante meses, os grevistas ocuparam o local em protesto contra as demissões em massa. A resposta das autoridades incluiu o uso de força policial e táticas como gás lacrimogêneo e tasers, resultando em cenas de violência amplamente divulgadas pela mídia.
Esses eventos inspiraram Hwang Dong-hyuk a criar uma história que evidenciasse como qualquer pessoa pode ser empurrada ao limite em um sistema econômico opressor. Segundo o diretor, o objetivo era mostrar que “qualquer indivíduo da classe média pode colapsar e cair para o fundo da escala social da noite para o dia”.
No entanto, para o ativista que viveu esses acontecimentos, a série falhou em traduzir a profundidade do sofrimento dos trabalhadores para além das telas. Ele afirmou sentir que sua história foi transformada em um “produto descartável”, sem impacto prático nas condições sociais ou econômicas.
A crítica social por trás do sucesso global
Round 6 conquistou o público mundial ao explorar temas universais como desigualdade social e exploração econômica. A série se tornou um símbolo da “onda coreana”, ao lado de produções como “Parasita” e grupos de K-pop como BTS. Com mais de 265 milhões de visualizações na Netflix, é considerada uma das produções mais assistidas da plataforma.
A primeira temporada apresentou personagens lutando por sobrevivência em jogos infantis transformados em desafios mortais. O protagonista Gi-hun emerge como uma figura complexa: um homem endividado e viciado em apostas que tenta preservar sua dignidade enquanto enfrenta dilemas morais extremos.
No entanto, críticos apontam que o sucesso comercial da série pode ter diluído sua mensagem original. Para muitos espectadores, Round 6 tornou-se apenas mais uma produção de entretenimento violento, sem provocar reflexões profundas ou mudanças sociais significativas.
O legado controverso de Round 6
Embora tenha gerado debates sobre desigualdade e exploração econômica, Round 6 também enfrenta críticas por não abordar soluções concretas para os problemas que expõe. O ativista sul-coreano destacou que as condições trabalhistas no país permanecem precárias e as tensões entre empregados e empresas continuam intensas.
A segunda temporada da série trouxe novos personagens e cenários, mas manteve seu foco nas críticas ao sistema capitalista. Ainda assim, muitos questionam se a narrativa conseguirá transcender seu apelo comercial e influenciar mudanças reais no mundo fora das telas.
Para o diretor Hwang Dong-hyuk, Round 6 é um reflexo sombrio da sociedade atual: “Coisas que eram bizarras e irreais uma década atrás infelizmente se tornaram muito realistas agora”. Apesar disso, tanto ele quanto os críticos reconhecem as limitações de uma obra ficcional em promover transformações estruturais.
Fonte: Estado de Minas.