Isaac Newton e o ouro extraído por escravizados no Brasil
Pesquisador revela que o cientista teria lucrado com ouro oriundo da exploração de escravizados, conectando ciência e economia colonial.
Isaac Newton, amplamente reconhecido como um dos maiores cientistas da história, também desempenhou um papel significativo na economia britânica ao atuar como mestre da Casa da Moeda por três décadas. Durante esse período, ele supervisionou a cunhagem de moedas, recebendo uma taxa por cada unidade produzida. Segundo novas investigações, parte do ouro utilizado nesse processo teria origem no Brasil, extraído por indivíduos escravizados durante o auge do ciclo do ouro no século XVIII.
A pesquisa conduzida pelo historiador Nick Dyer aponta que Newton, enquanto figura central na Casa da Moeda, beneficiou-se diretamente de um sistema econômico global sustentado pela escravidão. O ouro brasileiro, extraído sob condições desumanas, era exportado para a Europa e integrava o sistema financeiro britânico. Essa conexão lança luz sobre as complexas interações entre ciência, política e exploração colonial na era moderna.
Embora Newton seja celebrado por suas contribuições à física e matemática, como a formulação das leis do movimento e da gravitação universal, sua associação com práticas econômicas envolvendo trabalho escravo revela uma faceta menos conhecida de sua trajetória. Essa descoberta reforça a necessidade de reavaliar figuras históricas sob múltiplas perspectivas.
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A Casa da Moeda e o papel de Newton
Newton assumiu o cargo de mestre da Casa da Moeda em 1696, uma posição estratégica em meio à expansão econômica britânica. Sua função incluía supervisionar a produção de moedas e combater práticas fraudulentas, como falsificação. A remuneração de Newton era baseada em taxas cobradas sobre cada moeda cunhada, o que o tornava diretamente interessado no volume de produção.
Durante sua gestão, o Reino Unido importava grandes quantidades de ouro das colônias americanas e africanas. No caso específico do Brasil, o ouro extraído por escravizados era enviado a Portugal e posteriormente comercializado com outros países europeus. Parte desse metal precioso chegava à Casa da Moeda britânica, onde era transformado em moedas que circulavam pelo império.
Esse fluxo de ouro colonial não apenas sustentava a economia europeia como também financiava avanços científicos e tecnológicos. No entanto, ele estava intrinsecamente ligado à exploração brutal de trabalhadores escravizados nas minas brasileiras, evidenciando a interdependência entre progresso científico e desigualdade social.
O ciclo do ouro no Brasil e suas implicações
O ciclo do ouro no Brasil foi um dos períodos mais marcantes da história colonial portuguesa. Entre os séculos XVII e XVIII, regiões como Minas Gerais tornaram-se centros de intensa atividade mineradora. Essa riqueza mineral foi explorada às custas do trabalho forçado de milhares de africanos escravizados, que enfrentavam condições extremas nas minas.
A mineração aurífera brasileira abastecia não apenas Portugal, mas também outras potências europeias. O ouro era trocado por produtos manufaturados ou utilizado para saldar dívidas internacionais. Nesse contexto, a Inglaterra emergiu como um dos principais beneficiários indiretos dessa riqueza, utilizando-a para fortalecer seu sistema financeiro.
A conexão entre o ouro brasileiro e figuras como Isaac Newton evidencia como a ciência e a economia estavam profundamente enraizadas em estruturas coloniais. Enquanto Newton avançava na formulação de teorias que revolucionariam o entendimento do universo, ele também participava de um sistema econômico que perpetuava desigualdades globais.
Repercussões contemporâneas
A revelação sobre os lucros obtidos por Newton com o ouro extraído por escravizados levanta questões éticas importantes sobre como interpretamos legados históricos. Embora suas contribuições científicas sejam inquestionáveis, é crucial reconhecer as complexidades de sua época e os sistemas nos quais ele estava inserido.
Essa discussão também destaca a importância de revisitar narrativas históricas tradicionais para incluir perspectivas anteriormente marginalizadas. A escravidão foi um pilar fundamental das economias coloniais europeias, financiando tanto guerras quanto avanços culturais e científicos. Reconhecer essa realidade é essencial para compreender plenamente os impactos duradouros do colonialismo.
No caso específico do Brasil, as marcas deixadas pelo ciclo do ouro ainda são visíveis nas desigualdades sociais persistentes. Revisitar essa história sob novas lentes permite não apenas entender melhor o passado, mas também refletir sobre caminhos para um futuro mais justo.
Fonte: Galileu.