Curiosão

A vida secreta dos santos que ninguém ousou te contar

Pode acreditar, existe um santo venerado que tirou a vida dos próprios pais.

Quando pensamos em santos, a primeira imagem que vem à mente é de pessoas puras e bondosas, não é verdade? A gente imagina figuras perfeitas, que viveram vidas sem cometer um único deslize. Mas a verdade por trás da canonização pode ser muito mais complexa e chocante do que parece.

Ser transformado em santo não significa, de forma alguma, que a pessoa foi um poço de virtudes desde o nascimento. Na realidade, muitas vezes o que acontece é justamente o contrário, com jornadas marcadas por redenção após atos terríveis. O que realmente importa é que, no fim das contas, eles fizeram algo bom o suficiente para conquistar a admiração do povo.

Nesta jornada pelos segredos da Igreja, vamos desvendar as histórias de santos que tiveram vidas bastante pecaminosas. Prepare-se para conhecer os atos perturbadores e questionáveis que eles cometeram. Será que você já acendeu uma vela para algum deles sem saber de seu passado sombrio?

São Paulo: De perseguidor a pilar da fé

Pintura de São Paulo, o Apóstolo, segurando uma espada e um livro.
Paulo, antes conhecido como Saulo, foi uma figura central na perseguição aos primeiros cristãos. (Fonte da Imagem: Getty Images)

São Paulo é, sem dúvida, uma das figuras mais importantes na história do Cristianismo, responsável por espalhar o Evangelho pelo mundo. Contudo, ele nem sempre foi o homem de fé que conhecemos e celebramos hoje. Antes de sua conversão, o Apóstolo Paulo representava exatamente o oposto de tudo o que viria a pregar.

A vida pregressa dele é um lembrete poderoso de que as pessoas podem mudar de forma radical e inesperada. Sua jornada de transformação é tão impressionante que se tornou um dos pilares da teologia cristã. É a prova de que mesmo os maiores pecadores podem encontrar um caminho de redenção.

Essa dualidade entre o homem que ele foi e o santo que se tornou fascina e inspira milhões de pessoas. A história de Paulo nos mostra que a santidade não é ausência de pecado, mas a superação dele. É uma narrativa sobre como um grande inimigo da fé se tornou seu maior defensor.

A cruzada contra os primeiros cristãos

Representação de Saulo de Tarso liderando a perseguição aos cristãos.
Conhecido como Saulo de Tarso, ele liderou uma campanha implacável contra os seguidores de Jesus. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Entre os anos 30 e 33 depois de Cristo, a história era bem diferente para o futuro santo. Naquela época, ele era conhecido como Saulo de Tarso, um nome que causava medo entre os primeiros cristãos. Ele liderou uma verdadeira cruzada para erradicar a fé que estava apenas começando a florescer.

Sua missão era clara e ele a perseguia com uma ferocidade impressionante. Saulo não apenas discordava dos ensinamentos de Cristo, mas caçava ativamente seus seguidores. Ele acreditava piamente que estava defendendo a tradição e a lei ao tentar silenciar esse novo movimento.

Essa fase de sua vida o coloca como um dos maiores antagonistas do início do Cristianismo. É irônico pensar que o homem que escreveu tantas cartas de encorajamento para as igrejas começou sua jornada tentando destruí-las. Essa contradição é o que torna sua história tão poderosa e digna de ser contada.

O momento que mudou tudo no caminho para Damasco

A conversão de Saulo a caminho de Damasco, com uma luz divina brilhando sobre ele.
A aparição de Cristo em Damasco foi o ponto de virada que transformou Saulo em Paulo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Toda essa perseguição teve um fim abrupto durante uma viagem para a cidade de Damasco. Foi lá que Saulo teve um encontro que mudaria não apenas sua vida, mas o curso da história. Cristo apareceu para ele em uma visão, questionando suas ações e o deixando cego por três dias.

Esse evento sobrenatural o fez repensar toda a sua existência e suas convicções mais profundas. A partir daquele momento, ele se converteu e começou a pregar fervorosamente sobre Jesus. Aquele que antes caçava os cristãos, agora se tornava um deles, para o choque de todos.

Foi assim que Saulo se tornou Paulo, um nome que simboliza sua completa transformação. A história completa dessa virada espetacular pode ser encontrada no livro de Atos, capítulo 9. Sua jornada é um testemunho fascinante de como uma única experiência pode redefinir um destino.

São Cristóvão: O gigante que serviu ao diabo

São Cristóvão carregando o menino Jesus nos ombros através de um rio.
O padroeiro dos viajantes é famoso por carregar Cristo, mas sua devoção nem sempre foi a Deus. (Fonte da Imagem: Getty Images)

São Cristóvão é amplamente conhecido como o santo padroeiro dos viajantes, frequentemente retratado como um homem forte carregando o menino Jesus. No entanto, sua vida antes da santidade estava longe de ser devota a Cristo. De acordo com o historiador Daniel Peterson, ele servia a um mestre muito mais sombrio.

A história conta que ele buscava servir ao rei mais poderoso que existisse e, por um tempo, acreditou que esse rei era Satanás. Ele se dedicou a essa figura, vivendo uma vida de pecado e rejeição a tudo que era divino. Sua jornada para a fé foi tortuosa e cheia de reviravoltas inesperadas.

Esse passado surpreendente mostra que até mesmo aqueles que andaram por caminhos sombrios podem encontrar a luz. A imagem popular de São Cristóvão esconde uma narrativa de busca e conversão. Ele precisou conhecer o mal para finalmente entender o poder do bem.

A conversão por medo e poder

Uma estátua de São Cristóvão em uma pose de força e determinação.
Seu nome original, Reprobus, significa “rejeitado”, refletindo seu passado sombrio. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O nome de batismo de São Cristóvão era Reprobus, que pode ser traduzido como “rejeitado” ou “condenado”. Ele era um devoto adorador de satanás, mas tudo mudou quando ele conheceu um bandido. Este criminoso, apesar de sua maldade, tinha pavor de se aproximar de qualquer crucifixo.

Reprobus ficou intrigado com o medo que o símbolo cristão causava em seu companheiro. Ele percebeu que, se o diabo e seus seguidores temiam a cruz, então Cristo devia ser muito mais poderoso. Essa constatação plantou uma semente de dúvida em sua mente.

Convencido de que o Cristianismo detinha um poder superior, ele abandonou seu antigo mestre. Foi assim que Reprobus decidiu se tornar cristão, iniciando uma nova vida de serviço. Sua conversão não nasceu do amor, mas do reconhecimento de uma força maior que a do mal.

Olga de Kiev: A santa vingativa

Pintura de Olga de Kiev, rainha regente com um olhar severo e poderoso.
Olga é uma heroína na Ucrânia, mas sua vingança pela morte do marido foi assustadoramente brutal. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Olga de Kiev é uma das figuras mais emblemáticas e reverenciadas da história da Ucrânia. Sua vida foi marcada por uma tragédia quando seu marido, o príncipe Igor, foi assassinado de forma brutal. Os responsáveis pelo crime, em um ato de audácia, tentaram forçá-la a se casar com o líder deles.

A proposta não era apenas um insulto, mas uma tentativa de tomar o poder que por direito pertencia a ela e seu filho. Olga, no entanto, não era uma mulher que se deixava intimidar ou manipular. Sua resposta à afronta entraria para a história como um dos atos de vingança mais calculados e cruéis.

A imagem de santa que ela adquiriu posteriormente contrasta violentamente com a fúria que demonstrou nesse período. Sua história é um lembrete de que a santidade pode surgir das cinzas de uma vingança implacável. Olga provou ser uma governante formidável antes de se tornar uma figura religiosa.

A vingança enterrada viva

Uma ilustração mostrando barcos sendo enterrados em uma vala com homens dentro.
Sua recusa ao casamento foi seguida por um plano macabro que selou o destino dos mensageiros. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Olga fingiu aceitar a proposta e disse aos assassinos de seu marido para retornarem aos seus barcos com orgulho. O que eles não sabiam era que os barcos haviam sido colocados no fundo de uma vala profunda. Quando eles foram resgatar as embarcações, o destino deles já estava selado.

Sem qualquer piedade, Olga ordenou que seus homens enterrassem os mensageiros vivos junto com seus barcos. A armadilha funcionou perfeitamente, eliminando os primeiros que ousaram desafiá-la. Mas a sede de vingança da rainha estava longe de ser saciada com esse ato.

Logo em seguida, ela convidou cerca de 5.000 pessoas da tribo inimiga para a festa fúnebre do Príncipe Igor. Durante a cerimônia, enquanto os convidados estavam bêbados e desarmados, ela ordenou um massacre. Ninguém foi poupado na fúria de Olga.

A paz incendiária e a conversão

Ilustração de pássaros com fogo amarrado voando sobre uma cidade de madeira.
O acordo de paz de Olga foi, na verdade, sua cartada final para destruir a cidade inimiga. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Após os massacres, Olga finalmente propôs um acordo de paz com a cidade de Korosten. Ela pediu um tributo aparentemente inofensivo como símbolo de reconciliação. O acordo exigia que cada casa lhe desse três pombos e três pardais como presente.

Os moradores, aliviados, concordaram sem hesitar, mas mal sabiam da armadilha mortal que estava por vir. Olga então mandou amarrar panos com enxofre em cada um dos pássaros. Ao anoitecer, ela ateou fogo nos panos e soltou os animais.

Os pássaros, em pânico, voaram de volta para seus ninhos nas casas de madeira, incendiando a cidade inteira. Anos mais tarde, Olga foi batizada pelo Imperador Constantino e, por seus esforços em cristianizar a nação, foi canonizada. Sua história mostra uma das transformações mais extremas de vingadora para santa.

Santo Olavo: O rei viking que se tornou santo

Retrato de Santo Olavo, rei da Noruega, com coroa e armadura.
Olavo II da Noruega é celebrado como o santo que cristianizou o país, mas seu passado era de um guerreiro viking. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Olavo II Haraldsson, mais conhecido como Santo Olavo, reinou na Noruega de 1015 a 1028. Ele é creditado como o monarca que finalmente converteu o país ao Cristianismo. Sua figura é central na identidade religiosa e nacional da Noruega até hoje.

No entanto, antes de se tornar um rei cristão, Olavo era um viking em todos os sentidos da palavra. Sua juventude foi marcada por ataques violentos e pilhagens, como era comum entre os guerreiros nórdicos. Ele viveu a vida de um invasor antes de ter sua própria epifania.

A transformação aconteceu após ele ter uma visão enquanto se dirigia para Jerusalém. Esse momento mudou completamente o rumo de sua vida e de seu futuro reinado. Ele retornou ao seu país não mais como um saqueador, mas com uma nova e fervorosa missão divina.

A conversão forçada da Noruega

Estátua de Santo Olavo em batalha, empunhando uma arma.
Sua missão de converter a Noruega foi marcada pela intolerância e perseguição aos pagãos. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Ao se tornar rei, Olavo iniciou uma campanha implacável para converter toda a Noruega ao Cristianismo. Sua missão, no entanto, não foi pacífica ou baseada na persuasão. Ele usou a força e a intimidação para impor a nova fé a seu povo.

Qualquer pessoa que fosse pega celebrando rituais pagãos, como os tradicionais festivais de colheita, era severamente perseguida. Essa abordagem brutal o tornou extremamente impopular entre muitos nobres e cidadãos noruegueses. A resistência ao seu governo cresceu rapidamente devido à sua intolerância religiosa.

Apesar do ressentimento que causou em vida, a Igreja o canonizou apenas um ano após sua morte em batalha. Sua santidade foi construída sobre um legado de violência e conversão forçada. É um caso complexo onde os fins parecem ter justificado os meios aos olhos da instituição religiosa.

Vladimir, o Grande: O príncipe fratricida

Pintura de Vladimir, o Grande, com vestes reais e uma expressão séria.
Vladimir unificou seu povo sob o cristianismo, mas chegou ao poder de forma sangrenta. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Vladimir era o caçula de três irmãos e filho do Grão-Príncipe de Kiev. Após a morte de seu pai, uma feroz disputa pelo poder começou entre os herdeiros. Para escapar do conflito, Vladimir inicialmente fugiu do país, deixando o caminho livre para seus irmãos.

No entanto, seu exílio foi breve e estratégico, pois ele não tinha intenção de abandonar suas ambições. Ele retornou com um exército mercenário, determinado a tomar o que acreditava ser seu. Sua volta marcou o início de um capítulo sangrento na história da família.

A paz foi quebrada quando Vladimir marchou contra seu irmão Yaropolk, que governava em Kiev. Ele não apenas o derrotou, mas o matou para garantir o trono para si. Sua ascensão ao poder foi consolidada sobre o sangue de seu próprio irmão.

Um reinado de pecado e poder

Ilustração de Vladimir, o Grande, com suas muitas esposas e concubinas.
Além de matar o irmão, Vladimir forçou a viúva dele a se tornar uma de suas concubinas. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Como se matar o próprio irmão não fosse um pecado grave o suficiente, Vladimir foi ainda mais longe. Ele forçou a viúva de Yaropolk, uma ex-freira grega, a se tornar uma de suas muitas concubinas. Esse ato demonstrava seu poder absoluto e seu desprezo pelas regras.

Seu reinado inicial foi marcado por um estilo de vida pagão e hedonista. Ele mantinha centenas de concubinas e promovia ativamente a adoração de ídolos pagãos. Então, como um homem com um histórico tão pecaminoso pôde se tornar um santo?

A resposta está em sua posterior e dramática conversão, que redefiniu completamente seu legado. Sua transformação é um dos eventos mais significativos da história da Europa Oriental. A questão que fica é o que levou a uma mudança tão profunda.

A conversão que mudou uma nação

Vladimir, o Grande, sendo batizado, um marco na história russa.
Após seu batismo em 988, Vladimir dedicou sua vida a cristianizar seu povo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Tudo mudou depois que Vladimir foi batizado no ano de 988. Após essa experiência, ele se dedicou a espalhar o Cristianismo com o mesmo fervor que antes dedicava aos seus prazeres. Sua conversão não foi apenas pessoal, mas um projeto para toda a sua nação.

Ele iniciou uma forte campanha para converter seu povo, muitas vezes usando a força. Vladimir ordenou a construção de igrejas e a destruição sistemática de todos os ídolos e templos pagãos. O antigo promotor do paganismo se tornou seu maior inimigo.

Por seus esforços em estabelecer o Cristianismo como a religião oficial de seu reino, ele foi canonizado. Seu legado é duplo: o de um governante cruel que tomou o poder à força e o de um santo que unificou seu povo sob uma nova fé. A história de Vladimir é um paradoxo de violência e devoção.

São Columba: O santo que iniciou uma guerra por direitos autorais

Ilustração de São Columba, monge irlandês, escrevendo em um mosteiro.
São Columba é um dos padroeiros da Irlanda, mas seu orgulho o levou a um conflito sangrento. (Fonte da Imagem: Public Domain)

São Columba é um dos três principais santos padroeiros da Irlanda, uma figura de grande importância na história cristã do país. Durante sua vida como monge, ele se dedicou a copiar um livro de Salmos. No entanto, ele realizou essa tarefa sem a permissão de seu professor, o que gerou um grande conflito.

A disputa se intensificou tanto que o caso foi levado ao Rei, que decidiu a favor do professor. A decisão afirmava que a cópia pertencia ao dono do livro original, uma das primeiras decisões sobre propriedade intelectual. Mas São Columba não aceitou o veredito de forma pacífica.

Movido pelo orgulho e pela sensação de injustiça, ele se recusou a aceitar que estava errado. Em vez de se submeter, ele tomou uma atitude drástica e chocante. Ele decidiu iniciar uma guerra por causa de uma cópia de um livro.

A Batalha de Cúl Dreimhne

Representação de uma batalha medieval, com guerreiros em combate.
A batalha instigada por São Columba é considerada um dos primeiros conflitos sobre direitos autorais da história. (Fonte da Imagem: Public Domain)

São Columba usou sua influência para instigar a Batalha de Cúl Dreimhne. Este confronto ficou conhecido como um dos primeiros conflitos sobre direitos autorais de todos os tempos. O que começou como uma disputa monástica escalou para uma guerra em grande escala.

O resultado da batalha foi trágico, com milhares de pessoas perdendo a vida. Tudo isso por causa do orgulho de um monge que não queria admitir seu erro. O peso da culpa por tantas mortes finalmente caiu sobre os ombros de São Columba.

Como forma de se redimir por seus pecados, ele dedicou o resto de sua vida a uma nova missão. Ele viajou para a Escócia para converter o maior número de pessoas possível ao Cristianismo. Sua penitência foi tentar salvar tantas almas quanto as que foram perdidas por sua causa.

Junípero Serra: O missionário controverso

Estátua de Junípero Serra, monge franciscano espanhol.
Serra foi canonizado por seu trabalho missionário, mas seu legado é acusado de genocídio cultural. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O monge franciscano espanhol Junípero Serra chegou à Califórnia em 1769 com um propósito declarado. Sua missão era proteger os povos nativos dos abusos cometidos pelos militares e colonizadores espanhóis. Ele se tornou uma figura central no estabelecimento de missões católicas na região.

Seu trabalho inspirou a fundação de inúmeras missões ao longo da costa da Califórnia. A imagem oficial é a de um homem devoto que levou a fé e a civilização aos povos indígenas. No entanto, uma visão mais crítica revela uma realidade muito mais sombria.

De acordo com o historiador Carey McWilliams, essas missões eram, na verdade, “uma série de ossuários pitorescos”. A santidade de Serra é hoje um dos tópicos mais controversos e debatidos. A canonização dele pelo Papa Francisco em 2015 gerou protestos e reacendeu a polêmica.

O lado sombrio das missões

Nativos americanos trabalhando sob a supervisão de missionários espanhóis.
As missões forçaram a separação de famílias nativas e impuseram trabalho escravo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Dentro dessas missões, a realidade para os nativos americanos era desoladora. As famílias eram frequentemente separadas, quebrando as estruturas sociais e culturais dos povos indígenas. A vida que eles conheciam foi destruída em nome da evangelização.

Os nativos foram forçados a viver em condições precárias e submetidos a trabalho escravo. Eles também foram expostos a doenças europeias contra as quais não tinham imunidade. As missões se tornaram focos de epidemias que dizimaram grande parte da população local.

Por causa dessas práticas, Junípero Serra e outros missionários foram acusados de “genocídio cultural”. Eles são responsabilizados pela destruição de línguas, tradições e modos de vida de inúmeras tribos. A herança das missões é uma ferida aberta na história da Califórnia.

São Moisés, o Negro: De ladrão a mártir

Ícone religioso de São Moisés, o Negro, com uma expressão pacífica.
Moisés, o Etíope, foi um criminoso violento antes de se tornar um exemplo de não-violência. (Fonte da Imagem: Public Domain)

São Moisés, o Negro, também conhecido como Moisés, o Etíope, começou sua vida de uma forma muito difícil. Ele era um homem escravizado, mas seu comportamento era tão violento e corrupto que seu próprio mestre o expulsou. Livre, mas sem rumo, ele encontrou um novo caminho no crime.

Ele se juntou a uma notória gangue de bandidos e rapidamente se tornou seu líder. Juntos, eles cometeram inúmeros crimes terríveis, incluindo assaltos e até assassinatos. Moisés era temido por sua força física e sua crueldade implacável.

Sua vida parecia destinada à violência e à perdição, mas o destino tinha outros planos. Uma série de eventos inesperados o levaria a um lugar que mudaria sua vida para sempre. O criminoso estava prestes a iniciar uma jornada de redenção que ninguém poderia prever.

A conversão no mosteiro

Ilustração de monges em um mosteiro no deserto, vivendo em comunidade.
Escondendo-se da lei, Moisés encontrou refúgio e uma nova vida em um mosteiro. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Um dia, enquanto fugia das autoridades, Moisés procurou refúgio em um mosteiro no deserto. Lá, ele conheceu os monges e ficou profundamente impressionado com a paz e a dedicação deles. A tranquilidade da vida monástica contrastava fortemente com a violência de seu passado.

Inspirado pelo exemplo deles, ele decidiu abandonar sua vida de crimes e se tornar um deles. Não satisfeito em mudar apenas a si mesmo, ele também convenceu os membros de sua antiga gangue a se converterem. O bando de ladrões se tornou uma comunidade de monges dedicados.

Anos mais tarde, o mosteiro foi atacado por ladrões, e Moisés se recusou a revidar, mantendo seu voto de não-violência. Ele foi morto durante o ataque e, por seu sacrifício e transformação, tornou-se um mártir. Hoje, ele é venerado como um dos santos padroeiros da não-violência.

Santo Agostinho de Hipona: O filósofo mulherengo

Retrato de Santo Agostinho de Hipona, um dos mais importantes teólogos da Igreja.
Agostinho é um gigante da teologia, mas sua juventude foi marcada por uma vida de prazeres e luxúria. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Agostinho de Hipona é uma figura monumental na história do pensamento ocidental. Ele foi um teólogo, filósofo e escritor cujas obras moldaram a doutrina cristã por séculos. Suas “Confissões” são uma das autobiografias mais famosas e influentes já escritas.

No entanto, antes de se tornar um pilar da Igreja, Agostinho levou uma vida bastante hedonista. Em sua juventude, ele era conhecido por ser um pouco mulherengo, buscando prazeres carnais. Sua busca por satisfação pessoal o levou a caminhos distantes da santidade.

Ele mesmo detalhou suas lutas internas e seus pecados em seus escritos, oferecendo uma visão honesta de sua jornada. Essa transparência é parte do que o torna tão humano e acessível. A história de Agostinho é a de uma mente brilhante lutando para encontrar a verdade em meio às tentações do mundo.

Pecados da juventude e a paternidade

Pintura representando Santo Agostinho com sua mãe, Santa Mônica, que rezou por sua conversão.
O santo teve um filho fora do casamento e se recusou a casar com a mãe da criança. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Um dos episódios mais conhecidos de sua juventude foi seu longo relacionamento com uma concubina. Com ela, Santo Agostinho teve um filho chamado Adeodato, mas ele se recusou a se casar com a mãe da criança. Ter um filho fora do casamento era um grande escândalo e um pecado grave na época.

Ele se envolveu com muitas mulheres e levou uma vida que sua mãe, Santa Mônica, desaprovava profundamente. Ela rezou incansavelmente por sua conversão, esperando que seu filho abandonasse seu estilo de vida pecaminoso. A jornada de Agostinho para a fé foi longa e cheia de desvios.

Sua eventual conversão ao Cristianismo foi um processo intelectual e emocional complexo. Ele abandonou sua antiga vida e se tornou um dos mais eloquentes defensores da fé. Sua história é um exemplo clássico de redenção e da graça divina transformando um pecador em santo.

São Juliano, o Hospitalário: O santo que matou os pais

Ilustração de São Juliano em uma cena de caça, antes da tragédia.
Juliano fugiu de casa para escapar de uma maldição, mas o destino o encontrou de forma trágica. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A história de São Juliano, o Hospitalário, é uma das mais trágicas e perturbadoras entre os santos. Nascido em uma família nobre, ele descobriu em sua juventude que uma maldição pesava sobre ele. Foi profetizado que ele estava destinado a matar seus próprios pais.

Aterrorizado com essa previsão, Juliano decidiu fugir de casa para tentar escapar de seu terrível destino. Ele viajou para longe, casou-se e construiu uma nova vida, acreditando ter deixado a maldição para trás. No entanto, o destino, como em uma tragédia grega, é implacável.

Enquanto isso, seus pais, com o coração partido, nunca desistiram de procurá-lo. Após muitos anos de busca, eles finalmente encontraram o castelo onde seu filho vivia. O reencontro, no entanto, levaria a uma confusão fatal com consequências devastadoras.

O erro fatal e a redenção

Representação de São Juliano e sua esposa cuidando de doentes em um albergue.
Após cometer o parricídio por engano, Juliano dedicou a vida a ajudar os necessitados. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Quando os pais de Juliano chegaram, ele não estava em casa, e sua esposa os acolheu calorosamente. Ela ofereceu sua própria cama para que os sogros pudessem descansar da longa viagem. Ao retornar de uma caçada, Juliano encontrou duas pessoas dormindo em sua cama e presumiu o pior.

Cego pelo ciúme, ele acreditou ter encontrado sua esposa com um amante e, em um acesso de fúria, matou os dois. Apenas ao sair do quarto e encontrar sua esposa é que ele percebeu o erro terrível que havia cometido. A profecia, de forma trágica e irônica, havia se cumprido.

Destroçado pela culpa, Juliano e sua esposa abandonaram tudo para buscar o perdão. Eles abriram um albergue perto de um rio perigoso para ajudar viajantes e doentes. Ele dedicou o resto de sua vida a servir aos outros como penitência pelo seu crime hediondo.

Beato Bartolo Longo: O sacerdote satânico que encontrou a fé

Fotografia antiga de Bartolo Longo, um homem de aparência séria e devota.
Bartolo Longo foi beatificado, mas em sua juventude ele chegou a ser um sacerdote satânico. (Fonte da Imagem: Public Domain)

Bartolo Longo nasceu em 1841 e foi criado em uma família católica devota. No entanto, após a morte de seu pai, a fé de Longo tomou um rumo completamente diferente. Sua jornada espiritual o levou para caminhos extremamente sombrios e perigosos.

Ao se matricular na Universidade de Nápoles, Longo mergulhou de cabeça no espiritismo e no ocultismo. Ele se envolveu profundamente com práticas anticristãs e chegou a alegar estar possuído por um demônio. Sua busca por poder espiritual o levou ao extremo do satanismo.

Ele se tornou um sacerdote satânico completo, participando de rituais e pregando contra a Igreja. Sua vida era uma antítese completa de sua criação católica. Parecia que ele estava perdido para sempre nas trevas que havia abraçado.

O retorno a Deus

Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, restaurado por Bartolo Longo.
Ouvir a voz de seu falecido pai o fez abandonar o satanismo e dedicar-se à Virgem Maria. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Seus caminhos diabólicos chegaram a um fim repentino quando ele teve uma experiência transformadora. Bartolo Longo afirmou ter ouvido a voz de seu falecido pai lhe dizendo para “voltar a Deus!”. Esse chamado o abalou profundamente e o fez questionar tudo.

Com a ajuda de um padre dominicano, ele começou seu longo e difícil caminho de volta à fé. Longo renunciou ao satanismo e se tornou um irmão leigo da Ordem Terceira de São Domingos. Sua conversão foi tão sincera quanto sua anterior devoção ao mal.

Ele dedicou o resto de sua vida a promover a devoção ao Rosário. Sua maior obra foi a restauração e expansão do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Aquele que fora um sacerdote de satanás se tornou um dos maiores apóstolos da Virgem Maria.

Tyler James Mitchell
  • Tyler James Mitchell é o jornalista e autor por trás do blog Curiosão, apaixonado por desvendar temas de história e ciência. Sua missão é transformar o conhecimento complexo em narrativas acessíveis e fascinantes para o público.