Curiosão

Mundos ocultos que realmente existiram sob a terra

Prepare-se para uma viagem a lugares que parecem saídos da ficção, mas que abrigaram milhares de pessoas e hoje são Patrimônios da Humanidade.

Você já imaginou como seria viver em uma cidade inteiramente construída debaixo da terra? Com entradas secretas, túneis misteriosos e capelas escondidas, esses lugares guardam as histórias fascinantes de povos antigos. É uma realidade que supera qualquer fantasia que a gente possa ter visto nos cinemas.

Pode parecer um roteiro de filme, mas muitas pessoas realmente tiveram uma vida completa nesses complexos subterrâneos. E o mais incrível é que alguns desses locais serviram de inspiração e cenário para grandes produções de Hollywood e até novelas brasileiras. Agora, vamos embarcar juntos nessa jornada para desvendar essas maravilhas da engenharia e da sobrevivência humana.

Nesta lista, vamos explorar sete cidades subterrâneas surpreendentes que um dia foram o lar de milhares de pessoas. Cada uma delas tem uma história única, cheia de desafios, criatividade e mistérios. Prepare-se para conhecer um mundo que floresceu longe da luz do sol.

Capadócia: O império subterrâneo da Turquia

Balões de ar quente sobrevoando as formações rochosas da Capadócia.
A paisagem única da Capadócia esconde um vasto mundo subterrâneo, um verdadeiro feito da engenharia antiga. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Bem no coração da Turquia, a famosa região da Capadócia esconde um segredo monumental sob sua superfície. Estamos falando de um complexo com nada menos que 36 cidades subterrâneas interligadas. Entre todas elas, Derinkuyu se destaca como a mais impressionante e profunda.

Imagine descer 85 metros abaixo do nível do solo para encontrar uma cidade completa. Derinkuyu é uma verdadeira obra-prima da engenhosidade, cavada na rocha para proteger seus habitantes. Sua escala e complexidade são um testemunho da capacidade humana de se adaptar e sobreviver.

Essa cidade vertical é um convite para explorar um passado distante e entender como civilizações inteiras prosperaram em um ambiente tão inusitado. É uma viagem no tempo que nos mostra como a necessidade pode gerar soluções arquitetônicas absolutamente geniais. A cada nível que descemos, um novo capítulo da história se revela.

Derinkuyu: Uma metrópole para 20 mil pessoas

Interior de uma passagem estreita de pedra na cidade subterrânea de Derinkuyu.
Com sete níveis, Derinkuyu foi projetada para ser autossuficiente e proteger milhares de vidas. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Você consegue imaginar uma cidade subterrânea abrigando uma população de até 20 mil pessoas? Derinkuyu não era apenas um abrigo, mas uma verdadeira metrópole oculta, distribuída em sete níveis. Cada andar foi meticulosamente planejado para sustentar uma comunidade vibrante e segura.

A vida pulsava em seus corredores de pedra, que conectavam residências, espaços comuns e áreas de trabalho. Era um ecossistema completo, onde famílias inteiras nasciam, cresciam e viviam protegidas das ameaças do mundo exterior. A organização social necessária para manter tudo funcionando é algo simplesmente impressionante de se pensar.

Essa capacidade de abrigar tanta gente demonstra um nível de planejamento urbano sofisticadíssimo para a época. Derinkuyu não era um simples esconderijo temporário, mas um lar permanente e funcional para milhares de almas. A cidade é a prova de que a vida sempre encontra um caminho, mesmo nas profundezas da terra.

Infraestrutura completa sob a terra

Um cômodo amplo escavado na rocha, parte da cidade subterrânea da Capadócia.
Nada faltava aos moradores, que tinham acesso a tudo que precisavam para uma vida normal. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Uma cidade não é feita apenas de casas, e os construtores de Derinkuyu sabiam muito bem disso. Eles criaram uma infraestrutura completa que atendia a todas as necessidades de sua civilização. Havia lojas para comércio, escolas para a educação das crianças e alojamentos comunitários.

Para garantir a qualidade de vida, a cidade contava com engenhosos dutos de ventilação, poços de água fresca e cozinhas comunitárias. Além disso, eles tinham banheiros, depósitos para armazenar alimentos e até vinícolas primitivas para produzir sua própria bebida. Nada foi deixado ao acaso, mostrando um planejamento detalhado e eficiente.

Essa organização revela o quão avançada era essa sociedade, capaz de recriar todos os aspectos da vida da superfície em um ambiente subterrâneo. A existência de vinícolas, por exemplo, sugere que eles não apenas sobreviviam, mas também cultivavam momentos de lazer e celebração. Era uma vida completa, escondida sob camadas de rocha.

Um refúgio que remonta ao século VIII a.C.

Corredores e salas interligadas na cidade subterrânea, mostrando a complexidade da construção.
Essa fortaleza subterrânea foi a salvação de seu povo contra inúmeras invasões ao longo dos séculos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A história deste lugar impressionante nos leva de volta ao século VIII a.C., um período de muitos conflitos e instabilidade. A cidade foi concebida como uma fortaleza, uma defesa formidável contra ataques e invasões. Sua localização subterrânea a tornava praticamente invisível e impenetrável para os inimigos.

A principal função de Derinkuyu era servir como um refúgio seguro, onde a população podia se abrigar durante tempos de guerra. A estrutura foi projetada para resistir a longos cercos, garantindo a sobrevivência de seu povo. Essa estratégia de defesa foi crucial para a continuidade daquela cultura.

Ao caminhar por seus túneis, é possível sentir a tensão e a esperança que um dia preencheram aqueles espaços. A cidade não é apenas uma maravilha arquitetônica, mas um símbolo de resistência e da busca incansável pela paz. É um monumento vivo à resiliência humana diante da adversidade.

Engenharia de defesa: Portas de pedra gigantes

Uma enorme porta de pedra circular que servia para selar as passagens da cidade subterrânea.
Cada nível podia ser isolado com essas portas monolíticas, um sistema de segurança genial. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A segurança dos habitantes era a prioridade máxima, e o sistema de defesa de Derinkuyu era simplesmente genial. Em caso de qualquer ameaça externa, cada um dos níveis da cidade subterrânea podia ser completamente isolado. Isso era feito por meio de portas de pedra monolíticas, verdadeiros escudos contra invasores.

Essas portas circulares, com toneladas de peso, eram roladas para fechar as passagens, tornando quase impossível a entrada de inimigos. Apenas quem estava do lado de dentro conseguia movê-las, graças a um mecanismo inteligente. Era uma forma de garantir que, mesmo que um nível fosse comprometido, os outros permaneceriam seguros.

Esse sistema de bloqueio em camadas transformava a cidade em um labirinto mortal para qualquer exército que tentasse conquistá-la. A engenhosidade dessas portas de pedra é mais uma prova do planejamento meticuloso por trás de Derinkuyu. A segurança era, sem dúvida, uma obra de arte.

Um centro de fé e espiritualidade

Interior de uma igreja escavada na rocha na Capadócia, com afrescos e colunas.
A vida religiosa era intensa, com cerca de 150 igrejas e mosteiros espalhados pela região. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A vida em Derinkuyu não era apenas sobre sobrevivência material, mas também sobre uma rica vida espiritual. A cidade abriga a única igreja subterrânea conhecida com uma planta em formato de cruz, um detalhe arquitetônico de grande significado religioso. Isso mostra a importância da fé para os seus habitantes.

Embora essa igreja cruciforme seja única, a fé florescia por toda a região da Capadócia. Estima-se que existam cerca de 150 igrejas e vários mosteiros espalhados por todo o complexo subterrâneo. A religião era um pilar central da comunidade, um refúgio para a alma.

Esses locais de culto, escavados com a mesma dedicação das casas e túneis, eram o coração da vida social e espiritual. Eles ofereciam conforto e esperança em um mundo que, muitas vezes, era hostil na superfície. A fé, assim como as pessoas, encontrou um lar nas profundezas da terra.

A descoberta acidental de um mundo perdido

Turistas explorando os túneis e câmaras da cidade subterrânea de Derinkuyu.
O mundo só conheceu Derinkuyu em 1963, quando um morador local a encontrou por acaso. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A incrível cidade de Derinkuyu permaneceu escondida do mundo moderno até 1963, quando foi redescoberta de forma totalmente acidental. A história conta que um morador da região encontrou alguns túneis misteriosos enquanto fazia uma reforma em sua própria casa. Mal sabia ele que estava prestes a revelar uma das maiores maravilhas arqueológicas do mundo.

A notícia se espalhou rapidamente e, apenas dois anos depois, a cidade subterrânea foi aberta ao público. Desde então, ela fascina visitantes de todos os cantos do planeta, ansiosos por explorar seus segredos. É uma redescoberta que nos conecta diretamente a um passado que pensávamos estar perdido para sempre.

Apesar de sua fama, é importante saber que menos da metade de Derinkuyu está realmente acessível aos turistas. Grande parte da cidade ainda permanece um mistério, aguardando futuras escavações para revelar ainda mais sobre sua história. O que já conhecemos é fascinante, mas o que ainda está por vir pode ser ainda mais surpreendente.

Matera: Das cavernas pré-históricas à joia da Itália

Vista geral de Sassi di Matera, com casas de pedra construídas na encosta de um desfiladeiro.
Conhecida como ‘as pedras de Matera’, esta cidade é um Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1993. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

No sul da Itália, encontramos a cidade de Matera, um lugar que parece ter parado no tempo. A sua área mais famosa é conhecida como Sassi di Matera, que se traduz como “as pedras de Matera”. Este local é composto por habitações rupestres pré-históricas, esculpidas diretamente na rocha.

O valor histórico e cultural de Matera é tão imenso que foi reconhecido como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1993. É uma cidade que conta a história da ocupação humana de uma forma única e visualmente deslumbrante. Passear por suas ruas é como caminhar por um museu a céu aberto.

Matera nos mostra uma forma de viver em total harmonia com a paisagem natural, transformando a própria rocha em lar. A cidade é um exemplo impressionante de como a arquitetura pode se adaptar ao ambiente. É uma lição de história que podemos ver, tocar e sentir.

Um dos primeiros assentamentos da Itália

Uma rua estreita e sinuosa em Matera, com edifícios de pedra antigos.
A ocupação subterrânea de Matera remonta a cerca de 10.000 a.C., uma história de milênios. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A história de Matera é incrivelmente longa, sendo um dos primeiros assentamentos humanos em toda a Itália. As evidências arqueológicas indicam que a habitação subterrânea na região remonta a 10.000 a.C. Isso significa que pessoas vivem neste local há mais de doze milênios.

Essa continuidade de ocupação faz de Matera um dos lugares habitados mais antigos do mundo. A cidade testemunhou a ascensão e queda de impérios, mantendo-se como um lar para gerações e gerações. É um verdadeiro elo vivo com o nosso passado mais remoto.

Cada pedra e cada caverna de Matera contam uma parte dessa longa jornada humana. A cidade não é apenas um sítio arqueológico, mas um testamento da persistência e da capacidade de adaptação do ser humano. Viver em Matera é fazer parte de uma história milenar.

Casas cavadas na rocha calcária

Réplica histórica do interior de uma casa-caverna em Matera, com móveis simples.
Esta réplica mostra como as famílias viviam, em moradias escavadas na própria paisagem rochosa. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A arquitetura de Matera é definida por sua matéria-prima: a própria rocha calcária da região. As casas, como podemos ver em réplicas históricas, não eram construídas, mas sim cavadas diretamente na pedra. Cada moradia era um espaço esculpido na paisagem, criando uma integração perfeita entre natureza e habitação.

Essa técnica, conhecida como trogloditismo, permitia que as pessoas aproveitassem as formações rochosas naturais como abrigo. As famílias expandiam cavernas existentes ou criavam novas, adaptando o espaço às suas necessidades. Era uma forma de construção sustentável e engenhosa, muito antes de o termo existir.

Visitar uma dessas casas-caverna é uma experiência fascinante que nos transporta para outra época. É possível entender como era a vida cotidiana, com suas simplicidades e desafios. A cidade é um exemplo vivo de como a criatividade humana pode transformar uma montanha em um lar.

Uma vida difícil no século XX

Uma viela em Matera com roupas penduradas para secar, mostrando a vida contínua na cidade histórica.
Mesmo no século XX, pessoas ainda viviam nessas cavernas sem acesso a confortos modernos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

De forma surpreendente, as cavernas de Matera continuaram a ser habitadas ao longo de todo o século XX. Enquanto o resto do mundo se modernizava, muitas famílias ainda viviam em condições pré-históricas. Elas não tinham acesso a comodidades básicas e o acesso à luz do sol era extremamente raro.

Essa falta de infraestrutura e saneamento básico transformou a vida em um desafio diário. As condições eram insalubres, com pouca ventilação e umidade constante. A sobrevivência nessas cavernas tornou-se um símbolo da pobreza extrema no sul da Itália.

A persistência dessas habitações até uma era tão recente nos choca e nos faz refletir. Mostra as disparidades sociais e o esquecimento que certas comunidades enfrentaram. A história de Matera no século XX é um lembrete sombrio das dificuldades que seu povo enfrentou.

A ‘vergonha nacional’ da Itália

Uma vista mais ampla de Matera, mostrando a densidade das construções em camadas.
As péssimas condições de vida levaram Matera a ser vista como um símbolo da pobreza na Itália. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

As condições de vida em Matera se deterioraram tanto que a cidade ganhou um apelido doloroso. Os baixos níveis de luz solar e a alta concentração de doenças criaram um ambiente de favela. Os moradores lutavam diariamente para sobreviver à pobreza e ao abandono.

Por causa dessa situação precária, Matera chegou a ser conhecida como a “vergonha nacional” da Itália. A existência de pessoas vivendo em cavernas em pleno século XX era vista como um atestado do fracasso do governo em cuidar de sua população. A cidade se tornou um problema social que precisava de uma solução urgente.

Esse título, embora duro, foi fundamental para chamar a atenção para a situação dos habitantes de Sassi. Foi o ponto de virada que impulsionou a mudança e a revitalização da cidade. A “vergonha” acabou se tornando o catalisador para a transformação de Matera.

O renascimento de Matera

Matera iluminada à noite, parecendo um presépio vivo e mágico.
Após a realocação dos moradores, a cidade renasceu como um destino turístico e artístico. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

O governo italiano finalmente agiu para mudar a realidade de Matera entre os anos de 1953 e 1968. Os habitantes das cavernas foram gradualmente transferidos para habitações modernas, com melhores condições de vida. Foi um processo complexo, que visava dar dignidade a essas famílias.

Com o esvaziamento das cavernas, um novo capítulo começou para a cidade. O turismo começou a crescer, atraído pela paisagem única e pela história fascinante de Matera. Ao mesmo tempo, uma vibrante comunidade artística começou a se formar, trazendo nova vida aos antigos Sassi.

Hoje, Matera é um destino exótico e próspero, que se recuperou de seu passado difícil. A cidade que já foi uma vergonha se tornou um orgulho, mostrando que a renovação é possível. A história de Matera é, acima de tudo, uma história de resiliência e renascimento.

Petra: O tesouro esculpido nas montanhas da Jordânia

A icônica fachada do Tesouro (Al-Khazneh) em Petra, vista através de um desfiladeiro estreito.
Esta antiga cidade de caravanas chegou a abrigar 40 mil pessoas em seu auge, há dois mil anos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Escondida nas montanhas rochosas do sul da Jordânia, encontramos a lendária cidade de Petra. Antigamente, este era um movimentado centro de caravanas, um ponto crucial nas rotas comerciais do Oriente. Em seu apogeu, há cerca de dois mil anos, Petra pode ter abrigado uma população de até 40 mil pessoas.

A cidade é um testemunho da riqueza e do poder que o comércio de especiarias, seda e incenso trouxe para a região. Sua localização estratégica, protegida por desfiladeiros e montanhas, a tornava um oásis seguro para os comerciantes. Petra era uma metrópole vibrante, pulsando com vida e negócios.

Hoje, caminhar por suas ruínas é ser transportado para essa era de ouro do comércio antigo. A grandiosidade de suas construções nos dá uma pequena amostra de quão próspera e importante essa cidade foi. Petra não é apenas uma ruína, mas um eco vivo de um passado glorioso.

O legado dos Nabateus

Tumbas e templos esculpidos nas encostas de arenito rosa de Petra.
Os nabateus transformaram a paisagem em uma coleção impressionante de salas, tumbas e templos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A construção de Petra é obra dos antigos nabateus, um povo árabe que dominava as rotas comerciais da região. Eles eram mestres em engenharia e escultura, e aprimoraram as encostas de arenito de forma espetacular. O resultado foi uma impressionante coleção de salas, tumbas, salões e templos esculpidos na rocha.

A cor rosada do arenito deu a Petra o apelido de “cidade rosa”, um espetáculo que muda de tonalidade com a luz do sol. Os nabateus não apenas construíram uma cidade, mas criaram uma obra de arte em escala monumental. Cada fachada e cada coluna refletem a habilidade e a sensibilidade artística desse povo.

O legado dos nabateus está gravado em cada centímetro de Petra, desde as tumbas mais simples até os templos mais elaborados. Eles transformaram uma paisagem inóspita em uma das cidades mais belas e sofisticadas da antiguidade. Petra é a maior herança que esse povo fascinante deixou para o mundo.

Al-Khazneh: O icônico Tesouro de Petra

Close-up da fachada ornamental de Al-Khazneh, 'O Tesouro', esculpida na rocha.
Com uma fachada de 40 metros de altura, esta é uma das esculturas mais requintadas do mundo antigo. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Sem dúvida, a estrutura mais famosa de Petra é o Al-Khazneh, popularmente conhecido como “O Tesouro”. Esta é uma das esculturas mais requintadas e bem preservadas de toda a cidade. Sua fachada ornamental, com 40 metros de altura, foi inteiramente escavada na parede de arenito.

Acredita-se que Al-Khazneh tenha sido o mausoléu de um importante rei nabateu, embora seu nome venha de lendas locais sobre um tesouro escondido. A precisão dos detalhes e a grandiosidade da construção são de tirar o fôlego. É a primeira grande estrutura que os visitantes veem ao sair do Siq, o desfiladeiro que leva à cidade.

O Tesouro se tornou o símbolo máximo de Petra e uma das imagens mais icônicas da Jordânia. Ele representa o auge da habilidade dos nabateus e continua a fascinar arqueólogos e turistas. Ficar diante de Al-Khazneh é uma experiência que nos conecta com a genialidade do mundo antigo.

Uma cidade redescoberta e cheia de mistérios

Visão ampla de Petra, com o Mosteiro (Ad-Deir) no topo de uma montanha.
Abandonada no século VII, Petra só foi redescoberta por europeus no século XIX e muito ainda está sob a terra. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Por razões ainda debatidas, a magnífica cidade subterrânea foi gradualmente abandonada por volta do século VII. Petra ficou perdida para o mundo ocidental por mais de mil anos, conhecida apenas pelos beduínos locais. Sua redescoberta por exploradores europeus só aconteceu no século XIX.

Desde então, arqueólogos trabalham incansavelmente para desvendar os segredos da cidade rosa. As escavações revelaram uma complexa rede de canais de água, teatros e templos. No entanto, o trabalho está longe de terminar, pois muito de Petra ainda está por ser descoberto.

Os escavadores acreditam que a maior parte das ruínas da cidade ainda pode estar escondida no subsolo. Isso significa que a Petra que vemos hoje é apenas a ponta do iceberg de uma civilização ainda mais vasta. Cada nova descoberta promete reescrever o que sabemos sobre este lugar mágico.

Palco de Hollywood e novelas brasileiras

O desfiladeiro Siq, a entrada natural para a cidade de Petra, com suas paredes altas de arenito.
O local ficou mundialmente famoso como o templo do Santo Graal em ‘Indiana Jones e a Última Cruzada’. (Fonte da Imagem: NL Beeld)

A beleza estonteante de Petra não passou despercebida pela indústria do entretenimento. Você se lembra da bela cidade secular que serviu de locação para o filme ‘Indiana Jones e a Última Cruzada’ (1989)? Foi lá que o herói encontrou o templo que guardava o Santo Graal.

Essa aparição em um dos filmes mais famosos de Hollywood colocou Petra no imaginário popular de todo o mundo. A cidade se tornou um destino dos sonhos para milhões de fãs de aventura e história. A magia do cinema ajudou a imortalizar a magia real do lugar.

Mas Petra também brilhou nas telas brasileiras, servindo como cenário para a novela da Globo ‘Viver a Vida’. A personagem Helena, interpretada por Taís Araújo em uma trama de Manoel Carlos, viveu momentos marcantes neste cenário espetacular. A cidade rosa, mais uma vez, provou seu poder de encantar audiências de todas as culturas.

Matmata: A cidade troglodita que virou cenário de Star Wars

Pátio central de uma habitação troglodita em Matmata, com portas para os cômodos escavados ao redor.
No sul da Tunísia, esta cidade é formada por estruturas únicas, conhecidas como ‘trogloditas’. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Viajando para o sul da Tunísia, encontramos a pequena e fascinante cidade de Matmata. Este lugar é conhecido por suas construções de estruturas chamadas de “trogloditas”, que significa “habitantes das cavernas”. É uma arquitetura única, moldada pela necessidade e pela tradição.

As casas aqui não são construídas para cima, mas sim cavadas para baixo, criando pátios a céu aberto no subsolo. A partir desses pátios centrais, os cômodos são escavados nas paredes de terra. É uma solução inteligente para se proteger do calor escaldante do deserto.

Matmata oferece um vislumbre de um estilo de vida que permaneceu praticamente inalterado por séculos. A cidade é um exemplo vivo da engenhosidade do povo berbere, que encontrou uma maneira de prosperar em um ambiente hostil. É uma joia escondida no coração da Tunísia.

Mais de dois mil habitantes vivem no subsolo

Um homem berbere em trajes tradicionais na entrada de sua casa subterrânea em Matmata.
Diferente de outras cidades antigas, Matmata ainda é o lar de uma comunidade vibrante. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Ao contrário de muitas cidades antigas que hoje são apenas ruínas, Matmata ainda pulsa com vida. Atualmente, mais de dois mil habitantes vivem na cidade subterrânea. Eles mantêm vivas as tradições de seus ancestrais, adaptando-as ao mundo moderno.

Essa comunidade continua a utilizar as moradias trogloditas, que oferecem um isolamento térmico natural e eficiente. No verão, as casas são frescas, e no inverno, retêm o calor. É uma prova de que a sabedoria antiga ainda tem muito a nos ensinar sobre sustentabilidade.

Viver em Matmata é fazer parte de uma comunidade unida, que compartilha uma herança cultural rica e única. A cidade não é um museu, mas um lar real para milhares de pessoas. Isso a torna um dos destinos mais autênticos e fascinantes que se pode visitar.

A arquitetura de cavar buracos

Vista aérea de um pátio troglodita, mostrando o grande buraco cavado e as entradas para os cômodos.
As casas são criadas cavando um grande buraco e esculpindo cavernas artificiais nas paredes. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

O método de construção em Matmata é tão simples quanto engenhoso. As moradias são criadas primeiro cavando um grande buraco circular no chão, que funcionará como um pátio central. Este poço a céu aberto se torna o coração da casa, fornecendo luz e ventilação.

A partir deste pátio, os cômodos são então escavados horizontalmente nas paredes de argila. Salas, cozinhas e quartos são esculpidos como cavernas artificiais, interligadas por túneis. O resultado é uma casa de vários cômodos, totalmente subterrânea e protegida.

Essa técnica de construção é perfeitamente adaptada ao clima e ao solo da região. Ela demonstra uma profunda compreensão do ambiente e dos materiais disponíveis. A arquitetura de Matmata é um exemplo brilhante de como a forma segue a função de maneira bela e eficaz.

Redescoberta e fama crescente

Uma mulher local trabalhando em um tear dentro de uma casa-caverna em Matmata.
O complexo subterrâneo só foi redescoberto em 1967, mas sua fama cresceu rapidamente. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Assim como outras cidades subterrâneas, Matmata permaneceu relativamente desconhecida para o mundo exterior por muito tempo. Embora o complexo subterrâneo sempre tenha sido habitado, ele só foi “redescoberto” e documentado oficialmente em 1967. A partir daí, a curiosidade sobre este lugar único começou a crescer.

A redescoberta trouxe um novo fluxo de visitantes e interesse para a região. Os moradores, antes isolados, passaram a compartilhar sua cultura e estilo de vida com o mundo. A cidade começou a se adaptar a essa nova realidade, sem perder sua essência.

Hoje, Matmata está se tornando cada vez mais famosa, atraindo turistas que buscam experiências autênticas. A cidade conseguiu encontrar um equilíbrio entre preservar seu patrimônio e se abrir para o turismo. Sua fama é um reconhecimento merecido à sua história e originalidade.

O lar de infância de Luke Skywalker

Interior do Hotel Sidi Driss em Matmata, local de filmagem de Star Wars.
O Hotel Sidi Driss foi usado como a casa de Luke Skywalker no planeta Tatooine. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A fama de Matmata explodiu mundialmente graças a uma galáxia muito, muito distante. O Hotel Sidi Driss, uma das construções trogloditas da cidade, foi escolhido como locação para o filme ‘Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança’ (1977). A arquitetura única do lugar era perfeita para representar um mundo alienígena.

Na saga, a construção se tornou a casa de infância do herói Luke Skywalker em seu planeta natal, Tatooine. Os fãs de Star Wars imediatamente reconhecerão o pátio central e os cômodos que apareceram no filme. Matmata se tornou, para sempre, parte do universo Star Wars.

Visitar o Hotel Sidi Driss hoje é como entrar no set de filmagem. Muitos dos adereços e decorações foram preservados, tornando a experiência ainda mais imersiva. É um ponto de peregrinação obrigatório para qualquer fã da saga, unindo a história da Tunísia com a da ficção científica.

Retorno à galáxia de Star Wars

Um dos pátios do Hotel Sidi Driss, famoso por ser o lar de Luke Skywalker.
A cidade voltou a ser cenário da franquia em ‘Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones’. (Fonte da Imagem: NL Beeld)

O sucesso da locação foi tanto que a equipe de produção de Star Wars não resistiu em voltar. A cidade subterrânea de Matmata foi novamente usada como cenário na franquia. Desta vez, foi no filme ‘Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones’ (2002).

Neste filme, a casa de Lars, onde Luke cresceu, foi novamente mostrada, reforçando a conexão de Matmata com a saga. A cidade se consolidou como o rosto de Tatooine para uma nova geração de fãs. Sua paisagem atemporal provou ser perfeita para representar um planeta desértico.

Essa associação duradoura com Star Wars trouxe um fluxo constante de turismo para Matmata. A cidade soube aproveitar essa fama, oferecendo aos visitantes a chance de dormir em um hotel “intergaláctico”. É um exemplo fascinante de como o cinema pode transformar o destino de um lugar.

Coober Pedy: A capital mundial da opala sob o deserto

Placa de boas-vindas a Coober Pedy, mostrando um mineiro de opala.
Esta pequena cidade no deserto australiano é conhecida como a ‘capital da opala’ do mundo. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

No meio do vasto e árido Outback, na Austrália do Sul, existe uma pequena cidade subterrânea bastante peculiar. Bem-vindo a Coober Pedy, um lugar conhecido mundialmente como a “capital da opala”. A cidade abriga cerca de 1.600 moradores, a maioria dos quais vive e trabalha no subsolo.

O nome da cidade vem de um termo aborígene que significa “homem branco em um buraco”, uma descrição perfeita da vida local. Tudo em Coober Pedy gira em torno da mineração de opala, a pedra preciosa que fez sua fama. É uma cidade construída pela febre da mineração e adaptada ao clima extremo.

A paisagem é pontilhada por montes de terra e poços de ventilação, indicando a existência de um mundo movimentado logo abaixo. Coober Pedy é um lugar único, onde a busca por riquezas levou as pessoas a criarem um lar nas entranhas da terra. É a fronteira australiana em sua forma mais autêntica.

Uma cidade subterrânea completa

Interior de uma casa subterrânea moderna em Coober Pedy, com paredes de rocha natural.
Aqui, minas e abrigos coexistem com lojas, restaurantes, hotéis e até um pub subterrâneo. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A vida em Coober Pedy acontece majoritariamente debaixo da terra, e a infraestrutura reflete isso. Os abrigos subterrâneos, chamados de “dugouts”, existem ao lado de minas ativas. Mas a cidade oferece muito mais do que apenas moradias e locais de trabalho.

Você pode encontrar de tudo no subsolo: casas confortáveis, lojas, restaurantes, hotéis, museus e igrejas. Para o lazer, há um cassino, uma loja de presentes e até mesmo um pub local, tudo escavado na rocha. É uma comunidade totalmente funcional, escondida do calor implacável da superfície.

Essa adaptação é simplesmente impressionante, não é mesmo? A cidade prova que é possível ter uma vida moderna e confortável em um ambiente subterrâneo. Coober Pedy redefiniu o conceito de lar, transformando o subsolo em um refúgio acolhedor.

A fonte de 80% das opalas do mundo

Interior de uma igreja subterrânea em Coober Pedy, com um altar e bancos.
Esta cidade, que possui uma das poucas igrejas subterrâneas do mundo, é a maior produtora de opalas do planeta. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A razão de ser de Coober Pedy é a opala, e a cidade leva seu título a sério. Estima-se que a região produza mais de 80% de todas as opalas do planeta. A cidade é, literalmente, uma mina de tesouros coloridos.

Além da mineração, a fé também tem seu espaço no subsolo, e a cidade orgulha-se de ter uma das poucas igrejas subterrâneas do mundo. É um lugar de paz e reflexão, esculpido na mesma rocha que guarda as pedras preciosas. A vida espiritual e a busca por riqueza coexistem lado a lado.

A importância de Coober Pedy para o mercado de gemas é inegável. A cidade atrai mineiros e compradores de todo o mundo, todos em busca da opala perfeita. É um lugar onde o trabalho duro pode, literalmente, desenterrar uma fortuna.

Proteção contra o calor e os dingos

Entrada de uma casa subterrânea em Coober Pedy, com um carro estacionado do lado de fora.
As casas foram construídas no subsolo para escapar do calor escaldante e se proteger dos dingos. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A vida subterrânea em Coober Pedy não é apenas uma questão de tradição, mas de pura necessidade. As casas, além de estarem próximas às minas de opala, foram construídas no subsolo por duas razões principais. A primeira é escapar do calor escaldante do deserto, que pode ser insuportável na superfície.

A segunda razão é se esconder dos dingos, os canídeos selvagens australianos que vagueiam pela área. Viver no subsolo oferece uma proteção segura contra as temperaturas extremas e a vida selvagem. É uma solução prática e inteligente para os desafios do Outback.

Essa forma de vida mostra a incrível capacidade de adaptação dos moradores de Coober Pedy. Eles não apenas encontraram uma maneira de sobreviver, mas de prosperar em um dos ambientes mais hostis do planeta. A vida subterrânea é a chave para o conforto e a segurança nesta cidade única.

Uma comunidade acolhedora e amigável

Uma loja de opalas em Coober Pedy, com joias e pedras preciosas em exibição.
Apesar da reputação de trabalho duro, a cidade mineira é um lugar acolhedor para se viver. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Apesar de sua reputação de ser um lugar de trabalho duro e poeira, Coober Pedy tem outra faceta. A cidade mineira é também conhecida por ser um lugar acolhedor e amigável para se viver. A comunidade é formada por pessoas de diversas nacionalidades, unidas pela busca da opala.

A vida no subsolo cria um forte senso de comunidade e camaradagem entre os moradores. Eles compartilham os desafios e as alegrias da vida no deserto, criando laços fortes. A cidade tem uma atmosfera única, onde todos se conhecem e se ajudam.

Para os visitantes, essa hospitalidade é uma grata surpresa. É possível conversar com os mineiros, ouvir suas histórias e aprender sobre a vida na capital da opala. Coober Pedy pode ser dura na superfície, mas tem um coração quente e acolhedor em seu subsolo.

Naours: O refúgio medieval escondido na França

Túneis de calcário iluminados na cidade subterrânea de Naours, na França.
Este complexo foi construído por volta do século III d.C. como parte de uma pedreira romana. (Fonte da Imagem: Getty Images)

No norte da França, sob um planalto florestal, existe uma vasta rede de túneis e salas subterrâneas. Estamos falando da cidade subterrânea de Naours, um complexo com cerca de três quilômetros de galerias e mais de 300 salas feitas pelo homem. A estrutura fica, em média, a 30 metros de profundidade.

A origem deste lugar remonta ao século III d.C., quando começou como parte de uma pedreira romana. Com o tempo, o local foi expandido e transformado em uma verdadeira vila subterrânea. Essa mudança ocorreu quando os habitantes locais começaram a usá-lo como um esconderijo seguro durante as guerras da Idade Média.

Naours é um exemplo fascinante de como uma estrutura pode evoluir e ganhar novos propósitos ao longo dos séculos. De uma simples pedreira, tornou-se um refúgio vital para a sobrevivência de toda uma comunidade. É um labirinto de história, esperando para ser explorado.

Um abrigo para três mil pessoas

Uma sala maior dentro das cavernas de Naours, mostrando a escala da escavação.
Em seu auge, Naours tinha capacidade para abrigar três mil moradores e tinha capela, estábulos e padarias. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Durante seu período mais ativo, a cidade de Naours atingiu uma capacidade impressionante. Estima-se que o complexo poderia abrigar até três mil moradores em tempos de crise. Era uma verdadeira cidade-refúgio, pronta para proteger sua população.

Para sustentar tanta gente, Naours era equipada com toda a infraestrutura necessária. A vila subterrânea dispunha de uma capela para as práticas religiosas, estábulos para os animais e poços para o fornecimento de água. Havia até mesmo padarias para garantir o pão de cada dia.

Essa autossuficiência era crucial para que a comunidade pudesse resistir a longos períodos de cerco. A organização de Naours mostra um planejamento cuidadoso, visando a sobrevivência a longo prazo. Era um microcosmo da vida da superfície, recriado nas profundezas da terra para garantir a paz.

De refúgio de guerra a atração turística

Um guia apontando para inscrições antigas nas paredes das cavernas de Naours.
As cavernas foram fechadas por décadas antes de reabrirem no século XIX como um destino turístico. (Fonte da Imagem: iStock)

Após o fim dos grandes conflitos medievais, a necessidade de um refúgio como Naours diminuiu. As cavernas acabaram sendo fechadas e esquecidas por várias décadas. O labirinto subterrâneo mergulhou em um longo silêncio, guardando suas histórias.

A redescoberta aconteceu no século XIX, quando o interesse por antiguidades e locais históricos estava em alta. As cavernas foram então reabertas, mas com um novo propósito. Deixaram de ser um esconderijo para se tornarem uma fascinante atração turística.

Hoje, os visitantes podem percorrer os mesmos túneis que um dia abrigaram famílias em fuga. É uma viagem no tempo que nos permite tocar um pedaço da história medieval francesa. Naours se transformou de um símbolo de medo e guerra em um local de descoberta e admiração.

Pequim: A grande muralha subterrânea de Mao Zedong

Um túnel de concreto abandonado na cidade subterrânea de Pequim, com pichações nas paredes.
Este abrigo nuclear foi construído em 1969 sob as ordens do líder chinês Mao Zedong. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Em 1969, em plena Guerra Fria, o então líder chinês Mao Zedong tomou uma decisão drástica. Ele ordenou a construção de uma gigantesca rede de bunkers abaixo da capital, Pequim. O objetivo era proteger a população caso a cidade fosse alvo de um bombardeio nuclear.

Este enorme complexo subterrâneo, conhecido como Dixia Cheng, foi projetado para ser uma cidade autossuficiente. O lugar contava com residências, escolas, hospitais e um enorme armazém de grãos. Para o lazer, havia até uma sala de cinema com capacidade para mil pessoas e uma pista de patinação.

A escala do projeto era monumental, refletindo os medos e as tensões daquela época. A cidade subterrânea de Pequim é um monumento da Guerra Fria, um lembrete físico de um mundo que vivia sob a constante ameaça da aniquilação. É uma cápsula do tempo de um período de grande incerteza global.

Uma rota de fuga para cada casa

Mapa da rede de túneis da cidade subterrânea de Pequim, mostrando sua complexidade.
Boatos dizem que cada casa tinha um alçapão secreto para acesso rápido aos túneis em caso de ataque. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A principal função da cidade subterrânea era a defesa, e o planejamento refletia essa urgência. Como o complexo foi construído principalmente para proteção, há um boato persistente e fascinante sobre seu projeto. Acredita-se que cada casa na superfície incluía um alçapão ou um buraco escondido.

Esse acesso secreto permitiria que os moradores chegassem ao centro de comando subterrâneo com segurança e rapidez em caso de um ataque. Seria uma rede de evacuação sem precedentes, conectando diretamente os lares ao abrigo. A cidade inteira estaria preparada para desaparecer sob a terra em questão de minutos.

Embora seja difícil confirmar a veracidade desse boato, ele ilustra a mentalidade por trás da construção. A prioridade era a sobrevivência em massa, e cada detalhe foi pensado para maximizar as chances do povo chinês. A cidade era uma fortaleza projetada para proteger seus cidadãos a qualquer custo.

A ‘Grande Muralha Subterrânea’

Entrada discreta para a cidade subterrânea de Pequim, localizada em uma loja comum.
Com quase 100 entradas escondidas, o complexo poderia proteger um milhão de pessoas por até quatro meses. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O complexo subterrâneo de Pequim era tão vasto e intrincado que ganhou um apelido poderoso. Ele ficou conhecido como a “Grande Muralha Subterrânea”, uma referência à famosa estrutura defensiva da China. A cidade contava com uma extensa rede de quase 100 entradas escondidas, espalhadas por toda Pequim.

A capacidade de abrigo deste lugar era simplesmente impressionante. Supostamente, o complexo teria a capacidade de proteger cerca de um milhão de pessoas. Além disso, foi projetado para ser autossuficiente por até quatro meses, com estoques de comida, água e suprimentos.

Essa cidade-bunker era a apólice de seguro de Mao Zedong contra uma guerra nuclear. Ela representa um dos maiores projetos de engenharia civil defensiva já realizados. A “Grande Muralha Subterrânea” é um testamento da determinação chinesa em se proteger a qualquer custo.

Do abandono à moradia ilegal

Um túnel escuro e úmido na cidade subterrânea de Pequim, hoje abandonado.
O abrigo nunca foi usado, mas seus túneis foram brevemente uma atração turística e até moradia ilegal. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

Felizmente para o mundo, o enorme abrigo subterrâneo nunca precisou ser usado para seu propósito original. A ameaça de um ataque nuclear diminuiu, e o complexo foi gradualmente abandonado. Seus túneis em decomposição, no entanto, ainda existem hoje sob a movimentada capital chinesa.

Com o tempo, os túneis ganharam um novo e inesperado propósito. Devido ao aumento vertiginoso dos custos de aluguel em Pequim, algumas pessoas começaram a viver ilegalmente no complexo até 2014. A cidade-bunker se tornou um refúgio para os mais pobres, em uma reviravolta irônica da história.

A maioria das entradas hoje está fechada, mas a cidade escondida foi brevemente aberta como uma atração turística no início dos anos 2000. Ela ofereceu um vislumbre raro de um capítulo sombrio da história moderna, um mundo construído pelo medo que acabou servindo de abrigo para os desfavorecidos. Sua história continua a evoluir, mesmo no abandono.

Tyler James Mitchell
  • Tyler James Mitchell é o jornalista e autor por trás do blog Curiosão, apaixonado por desvendar temas de história e ciência. Sua missão é transformar o conhecimento complexo em narrativas acessíveis e fascinantes para o público.