Curiosão

Os nomes secretos dos anônimos mais famosos da Bíblia

Muitos nomes que você achava perdidos foram, na verdade, registrados em textos antigos e surpreendentes.

As páginas da Bíblia estão repletas de personagens fascinantes que marcaram a história, não é mesmo? A gente se lembra dos grandes protagonistas, mas existem muitas figuras que, apesar de importantes, nunca são chamadas pelo nome. Isso sempre deixa uma pulga atrás da orelha, gerando um ar de mistério em torno dessas pessoas.

Você já parou para pensar qual seria o nome da filha do faraó que resgatou Moisés do rio? Ou quem era o homem que ofereceu vinagre a Jesus durante a crucificação, em um gesto que ecoa até hoje? Essas são apenas algumas das identidades que parecem perdidas no tempo, mas que desempenharam papéis cruciais.

A grande surpresa é que muitos desses nomes não estão perdidos para sempre, mas sim guardados em textos apócrifos. Sim, evangelhos e outros escritos não canônicos trazem à luz a identidade de muitas dessas figuras enigmáticas. Essa jornada nos leva para além do que conhecemos, revelando segredos incríveis sobre as narrativas bíblicas.

O mistério da esposa de Caim

Pintura de Caim olhando para o lado, com uma expressão sombria, ao lado de uma mulher.
A identidade da mulher de Caim é um dos maiores quebra-cabeças do Gênesis. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A história de Caim em Gênesis 4:17 menciona que ele teve uma esposa, mas deixa sua identidade em aberto. Este detalhe é um verdadeiro quebra-cabeça para muita gente, afinal, a narrativa sugere que existiam apenas quatro pessoas na Terra. Com Abel assassinado, quem poderia ser essa mulher misteriosa?

O cenário era composto por Adão, Eva e Caim, o que torna a questão ainda mais intrigante. A Bíblia não oferece uma resposta direta, deixando espaço para inúmeras teorias e debates ao longo dos séculos. Essa lacuna na história sempre alimentou a curiosidade de estudiosos e leitores.

A falta de uma explicação clara nos textos canônicos nos força a olhar para outras fontes. É exatamente aí que a história começa a ficar ainda mais interessante. Os textos apócrifos surgem como uma chave para desvendar esse enigma familiar.

Awan: A irmã que se tornou esposa

Representação artística de Caim e sua esposa, Awan, em um cenário primitivo.
Textos antigos sugerem que a esposa de Caim era, na verdade, sua própria irmã. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Para solucionar o mistério, podemos recorrer ao apócrifo Livro dos Jubileus, um texto antigo e cheio de detalhes. Segundo essa fonte, a esposa de Caim era ninguém menos que sua irmã mais nova, chamada Awan. Essa revelação muda completamente a forma como entendemos a primeira família da humanidade.

Essa não é a única pista que temos sobre a identidade dela, o que torna tudo ainda mais complexo. Uma coleção de textos de 1290, conhecida como A Lenda Dourada, apresenta outros nomes para a mesma personagem. Nela, a esposa de Caim é chamada de Aclima ou Delbora.

Essas diferentes tradições mostram como a busca por respostas continuou por muito tempo após a escrita dos textos originais. Cada nome adiciona uma nova camada de profundidade à história, tentando preencher as lacunas deixadas pelo Gênesis. Fica claro que a curiosidade sobre essa mulher nunca desapareceu.

Quem era a esposa de Noé?

Noé e sua esposa olhando para a arca, com animais ao fundo.
A mulher que esteve ao lado de Noé durante o dilúvio tem nomes diferentes em tradições distintas. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A esposa de Noé é uma figura central na história da arca, mencionada em Gênesis 7, mas seu nome nunca é revelado. Ela esteve ao lado de Noé durante a construção da arca e sobreviveu ao dilúvio com sua família. Mas, afinal, como ela se chamava?

Mais uma vez, a resposta pode estar nos textos apócrifos, que se aprofundam onde a Bíblia canônica é mais sucinta. O antigo texto judaico conhecido como Livro dos Jubileus nos dá uma pista valiosa. Ele a identifica como Emzara, trazendo um nome para essa matriarca silenciosa.

No entanto, essa não é a única versão da história, mostrando como as tradições podem variar. Outro texto judaico não canônico, o Gênesis Rabbah, oferece um nome diferente para ela. Nessa fonte, a esposa de Noé é chamada de Naamah, adicionando mais um elemento ao mistério.

A princesa que salvou Moisés das águas

A filha do Faraó encontra o bebê Moisés em uma cesta no rio Nilo.
O ato de compaixão da filha do Faraó mudou o destino do povo hebreu para sempre. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A história de Moisés começa com um ato de coragem e compaixão, narrado em Êxodo 2. Um bebê hebreu, condenado à morte, é colocado em uma cesta no rio Nilo e encontrado pela filha do faraó. Ela decide adotá-lo como seu próprio filho, mudando o curso da história.

Essa mulher desafiou as ordens de seu próprio pai para salvar uma vida inocente. Sua decisão não apenas poupou Moisés, mas também permitiu que ele crescesse dentro da corte egípcia. Apesar de seu papel fundamental, seu nome não é mencionado nos textos bíblicos.

O silêncio sobre sua identidade nos deixa imaginando quem era essa princesa de coração nobre. Ela é uma verdadeira heroína anônima, cujo gesto teve consequências monumentais. Felizmente, textos posteriores se dedicaram a resgatar seu nome da obscuridade.

Os vários nomes da mãe adotiva de Moisés

Moisés sendo apresentado à sua mãe adotiva, a filha do Faraó, na corte egípcia.
Diferentes fontes históricas atribuem nomes como Bithiah, Merris e Thermutis à princesa egípcia. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O nome da madrasta de Moisés aparece em diversas fontes históricas e religiosas, cada uma com sua própria tradição. No antigo texto judaico Levítico Rabbah, por exemplo, a filha do faraó é chamada de Bithiah ou Bitya. Esse nome a conecta diretamente à tradição hebraica.

Outras fontes antigas também tentaram preencher essa lacuna, oferecendo nomes diferentes. O livro Praeparatio Evangelica, escrito no século IV por Eusébio de Cesareia, a identifica como Merris. Já o famoso historiador Flávio Josefo, em seus escritos, a chama de Thermutis.

Essa variedade de nomes mostra o quanto essa personagem era importante para diferentes culturas. Cada nome carrega um pedaço da história e da interpretação de seu ato corajoso. Bithiah, Merris ou Thermutis, o que importa é que sua história de compaixão nunca foi esquecida.

A enigmática Rainha de Sabá

A Rainha de Sabá chegando para encontrar o Rei Salomão, com sua comitiva trazendo presentes.
A visita da Rainha de Sabá a Salomão é um dos episódios mais célebres do Antigo Testamento. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A Rainha de Sabá é uma das figuras mais fascinantes do Antigo Testamento, mencionada em 1 Reis 10 e 2 Crônicas 9. Ela viajou de seu reino, que se acredita ser onde hoje ficam o Iêmen e a Etiópia, para conhecer a sabedoria do rei Salomão. Sua jornada e os presentes que trouxe se tornaram lendários.

Ela não apenas testou a sabedoria de Salomão com perguntas difíceis, mas também estabeleceu uma relação de admiração mútua. A história conta que ela voltou para casa grávida, carregando o filho do rei israelita. Apesar de toda a sua fama, a Bíblia não revela seu nome.

Esse mistério apenas aumentou o fascínio em torno dela, transformando-a em um ícone de poder e inteligência. Sua identidade permaneceu um segredo nos textos canônicos, mas não em outras tradições. Várias culturas se encarregaram de dar um nome a essa rainha tão poderosa.

Makeda, Bilqis ou Nicaule: Qual o seu verdadeiro nome?

Representação artística da Rainha de Sabá, com vestes reais e olhar imponente.
Seu nome varia conforme a tradição, sendo Makeda na Etiópia e Bilqis no Islã. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A tradição etíope tem um lugar especial para a Rainha de Sabá, nomeando-a como Makeda. Para eles, ela é a matriarca de uma dinastia que se estende até os tempos modernos. Essa conexão torna sua história ainda mais rica e significativa para a cultura etíope.

Já nas tradições islâmicas, a Rainha de Sabá é conhecida por outro nome: Bilqis. O Alcorão também narra seu encontro com o profeta Salomão, destacando sua conversão e sabedoria. Esse nome é amplamente reconhecido no mundo muçulmano.

Como se não bastasse, o historiador romano-judeu Flávio Josefo também oferece uma terceira opção. Ele menciona o nome Nicaule ao se referir a ela, adicionando mais uma camada de complexidade à sua identidade. Cada nome revela uma faceta diferente dessa mulher lendária.

Os pastores que testemunharam o nascimento de Jesus

Pastores maravilhados ao verem o anjo que anuncia o nascimento de Jesus.
Os humildes pastores foram os primeiros a receber a notícia do nascimento do Messias. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Evangelho de Lucas nos conta que, na noite do nascimento de Jesus, havia pastores nos campos cuidando de seus rebanhos. Foram eles os primeiros a receber a notícia do nascimento do Messias, através de um anjo. No entanto, o texto bíblico não nos diz quem eram esses homens.

Apesar de seu papel crucial como as primeiras testemunhas do evento, suas identidades permaneceram anônimas nas escrituras. Eles representam a humildade e a simplicidade, sendo escolhidos para receber a boa-nova antes de reis e sábios. O mistério sobre seus nomes apenas engrandece seu simbolismo.

Mas, como em outros casos, textos posteriores buscaram dar nomes a esses personagens. O Livro da Abelha, uma coleção de textos teológicos e históricos do século XIII, se aprofunda nessa questão. Ele nos revela os nomes de seis pastores: Aser, Barshabba, Joseph, Justus, Nicodemus e Zebulun.

Os Reis Magos e seus presentes valiosos

Os Três Reis Magos seguindo a estrela de Belém em seus camelos.
A jornada dos Magos em busca do recém-nascido rei tornou-se um símbolo do Natal. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Os Magos do Oriente, popularmente conhecidos como os Três Reis Magos, são figuras icônicas da Natividade. Eles seguiram uma estrela até Belém para adorar o menino Jesus, trazendo presentes simbólicos de grande valor. Ouro, incenso e mirra foram as ofertas que se tornaram famosas em todo o mundo.

A tradição ocidental popularizou os nomes Baltasar, Gaspar e Melchior para esses sábios. Esses nomes se tornaram tão conhecidos que hoje é difícil imaginar a história sem eles. No entanto, a Bíblia não os menciona, e outras tradições têm versões bem diferentes.

A verdade é que o número e os nomes dos magos variam muito dependendo da fonte. A imagem dos “três reis” é uma construção posterior, baseada nos três presentes oferecidos. Outros textos nos contam histórias bem diferentes sobre esses visitantes misteriosos.

Mais que três: As diferentes identidades dos Magos

Representação dos Magos oferecendo seus presentes ao menino Jesus.
Diferentes textos apócrifos sugerem que poderiam ser até doze Magos, com nomes variados. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Livro da Abelha, por exemplo, sugere que não eram três, mas sim doze sábios que visitaram Jesus. Um texto chamado Excerpta Latina Barbari também apresenta nomes diferentes dos que conhecemos. Ele os chama de Bithisarea, Melichior e Gathaspa, mostrando uma clara variação.

As surpresas não param por aí, pois outras culturas têm suas próprias listas de nomes. O Livro de Adão, um texto apócrifo etíope, os nomeia como Basanater, Hor e Karsudan. Essa diversidade mostra como a história foi adaptada e enriquecida em diferentes partes do mundo.

Além disso, o folclore cristão siríaco nos apresenta mais um trio de nomes. Neles, os magos são chamados de Larvandad, Hormisdas e Gushnasaph. Essa multiplicidade de identidades revela o quão rica e complexa é a tradição em torno desses personagens.

As crianças anônimas dos Evangelhos

Jesus abraçando uma criança para ensinar uma lição aos seus discípulos.
A criança que Jesus usou como exemplo de humildade mais tarde se tornou uma figura importante da Igreja. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Os evangelhos mencionam várias crianças que interagiram com Jesus, mas quase sempre sem revelar seus nomes. Em Mateus 18:2, por exemplo, Jesus chama uma criança para perto de si para ensinar uma lição sobre humildade. Essa criança se torna um símbolo poderoso, mas sua identidade fica no anonimato.

Para a surpresa de muitos, o Livro da Abelha mais uma vez preenche essa lacuna histórica. O texto identifica essa criança como Inácio, que teria uma jornada incrível pela frente. Essa informação conecta um momento singelo dos evangelhos a uma figura histórica de grande relevância.

De acordo com a tradição, esse mesmo Inácio mais tarde se tornou o bispo de Antioquia. Ele é conhecido hoje como Santo Inácio de Antioquia, um dos pais da Igreja primitiva. Saber que ele pode ter sido a criança do evangelho dá uma nova dimensão à sua história.

Timóteo e Tito: Os meninos abençoados por Jesus

Jesus abençoando as crianças que se aproximam dele, enquanto os discípulos observam.
Os meninos que Jesus abençoou também teriam se tornado figuras notáveis no cristianismo primitivo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Em outra passagem famosa, registrada em Marcos 10:13-14, Jesus repreende seus discípulos por afastarem as crianças. Ele então diz a célebre frase “Deixai vir a mim os pequeninos”, abençoando-os. Novamente, os nomes dessas crianças não são mencionados no texto bíblico.

O Livro da Abelha, sempre detalhista, também nos dá nomes para alguns desses meninos. Segundo o texto, dois dos meninos abençoados por Jesus naquele dia eram Timóteo e Tito. Esses nomes são muito familiares para quem conhece as cartas do apóstolo Paulo.

Assim como Inácio, Timóteo e Tito se tornaram figuras proeminentes no cristianismo primitivo. Eles foram companheiros leais de Paulo em suas viagens missionárias e destinatários de epístolas que hoje fazem parte do Novo Testamento. A conexão com essa passagem da infância torna suas histórias ainda mais especiais.

A parábola do homem rico e Lázaro

O homem rico em seu banquete, ignorando o pobre Lázaro à sua porta.
A história do rico egoísta e do pobre Lázaro é uma poderosa lição sobre compaixão e justiça divina. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A parábola do homem rico e do mendigo Lázaro, encontrada em Lucas 16:19-31, é uma das mais impactantes de Jesus. Ela conta a história de um homem rico que vivia no luxo e ignorava o pobre Lázaro, que sofria à sua porta. Após a morte, seus destinos são drasticamente invertidos.

Curiosamente, na parábola, o mendigo tem um nome, Lázaro, mas o homem rico permanece anônimo. Ele é simplesmente chamado de “o homem rico”, o que reforça sua falta de identidade espiritual. Na tradição ocidental, a história é frequentemente chamada de ‘O Rico e o Lázaro’.

Essa ausência de nome para o rico é proposital, simbolizando como sua identidade estava ligada apenas às suas posses terrenas. No entanto, a curiosidade humana sempre busca dar um nome a cada rosto. E, como esperado, o folclore e textos antigos tentaram preencher essa lacuna.

Nínive ou Phineas: A identidade do rico sem nome

Ilustração do homem rico sofrendo no Hades, enquanto Lázaro está no seio de Abraão.
O folclore popular tentou dar um nome ao personagem rico, sendo Nínive uma das opções. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O folclore popular, especialmente durante a Idade Média, deu ao homem rico o nome de Nínive. Esse nome aparece em várias representações artísticas e peças teatrais da época. É uma forma de dar uma identidade mais concreta a esse personagem arquetípico.

No entanto, existe outra tradição que oferece um nome diferente e mais antigo. Um texto conhecido como pseudo-cipriano De Pascha Computus o chama de Phineas. Essa fonte, embora menos conhecida, mostra que a busca por seu nome é bem antiga.

Seja Nínive ou Phineas, o importante é a lição moral que a parábola ensina. Dar um nome ao rico é mais um exercício de curiosidade do que uma necessidade teológica. A força da história reside justamente no contraste entre o nomeado Lázaro e o anônimo abastado.

A mulher samaritana que encontrou Jesus no poço

Jesus conversando com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó.
O encontro de Jesus com a mulher samaritana quebrou barreiras sociais e religiosas da época. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Evangelho de João, no capítulo 4, narra um dos diálogos mais profundos de Jesus, travado com uma mulher samaritana. O encontro acontece junto a um poço, e a conversa entre eles quebra diversas barreiras sociais e religiosas da época. A mulher fica tão impactada que se torna uma evangelista em sua própria cidade.

Apesar de seu papel central nessa história transformadora, seu nome não é mencionado no evangelho. Ela é lembrada como “a mulher samaritana”, o que destaca sua origem e o preconceito que enfrentava. Sua identidade pessoal, no entanto, é deixada de lado na narrativa bíblica.

Contudo, a tradição da Igreja Ortodoxa Oriental não a deixou no anonimato. Segundo eles, essa mulher foi posteriormente batizada com o nome de Photini. Ela não apenas se tornou uma seguidora de Jesus, mas também é venerada como santa e mártir.

A mãe desesperada e a fé que curou sua filha

Uma mulher cananeia ajoelhada, implorando a Jesus que cure sua filha.
A fé inabalável desta mãe estrangeira foi elogiada por Jesus e resultou em um milagre. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Tanto Mateus quanto Marcos contam a comovente história de uma mulher estrangeira que busca a ajuda de Jesus. Sua filha estava terrivelmente atormentada por um demônio, e ela implora por um milagre. A fé e a persistência dessa mãe são o ponto central da narrativa.

Inicialmente, Jesus parece relutante, testando a fé da mulher, que responde com uma humildade e inteligência impressionantes. Admirado com sua resposta, Jesus concede seu pedido e cura a filha dela à distância. É um belo exemplo de que a fé não conhece fronteiras.

Apesar da força de sua personagem, a Bíblia não revela o nome dessa mãe corajosa nem o de sua filha. Elas são identificadas apenas por sua origem, como a mulher siro-fenícia ou cananeia. Mais uma vez, coube a outros textos resgatar suas identidades.

Justa e Berenice: Os nomes revelados da mãe e da filha

Representação artística da mãe e sua filha, agora curada, abraçando-se com alegria.
Um texto do século III revela os possíveis nomes da mãe (Justa) e da filha (Berenice). (Fonte da Imagem: Getty Images)

Um texto do século III, conhecido como Homilias Pseudo-Clementinas, oferece os nomes que procuramos. Segundo essa fonte, a mãe se chamava Justa, um nome que reflete sua retidão e fé. Sua filha, a jovem que foi curada, se chamava Berenice.

Esses nomes, embora não canônicos, dão uma identidade pessoal a essas duas figuras marcantes. Eles nos permitem conectar-nos de forma mais íntima com a angústia da mãe e a alegria da cura da filha. A história ganha um rosto e um nome, tornando-se mais próxima.

Saber que elas poderiam se chamar Justa e Berenice enriquece a leitura dessa passagem. Transforma uma parábola sobre a fé em uma história sobre pessoas reais, com nomes e vidas próprias. É mais um exemplo de como a tradição tentou humanizar as narrativas bíblicas.

A viúva de Naim e o milagre da ressurreição

Jesus tocando o caixão do filho da viúva de Naim, trazendo-o de volta à vida.
O milagre em Naim foi uma demonstração poderosa do poder de Jesus sobre a morte. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Em Lucas 7:11-15, encontramos uma das histórias mais emocionantes dos evangelhos, a ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus encontra um cortejo fúnebre ao entrar na cidade e se compadece da dor de uma mãe que havia perdido seu único filho. Movido pela compaixão, ele realiza um milagre extraordinário.

Ele toca o caixão e ordena que o jovem se levante, trazendo-o de volta à vida para a alegria de sua mãe. O evento causa espanto e admiração em toda a multidão, que reconhece o poder de Deus em Jesus. É um momento de profunda esperança e consolo.

No entanto, o nome dessa mãe, que foi personagem central de um milagre tão grandioso, não é mencionado. Um texto antigo sobre a ressurreição de Cristo, porém, nos dá uma pista. Segundo essa fonte, a viúva de Naim se chamava Lia ou Leah.

Os dois ladrões na cruz: Um pedido de salvação e outro de memória

Jesus na cruz, entre os dois ladrões, em uma cena dramática da crucificação.
A conversa entre Jesus e os dois ladrões na cruz é um momento de redenção e condenação. (Fonte da Imagem: Shutterstock)

A Bíblia relata que Jesus foi crucificado entre dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda. Durante as agonizantes horas na cruz, eles trocam palavras com Cristo, revelando atitudes muito diferentes. Um deles, conhecido como o “mau ladrão”, zomba de Jesus, exigindo que ele salve a si mesmo e a eles.

O outro, conhecido como o “bom ladrão”, repreende seu companheiro e se volta para Jesus com um pedido humilde. Ele pede que Jesus se lembre dele quando entrar em seu reino, demonstrando fé no último momento de sua vida. Jesus lhe promete o paraíso, em uma das passagens mais comoventes da crucificação.

Apesar de seu diálogo marcante, os nomes desses dois homens não são encontrados na Bíblia. Suas identidades foram deixadas de lado, focando apenas em suas ações e palavras finais. No entanto, textos apócrifos se encarregaram de nomeá-los, saciando a curiosidade de séculos.

Gestas e Dimas: Os nomes dos companheiros de crucificação de Cristo

Close-up de um dos ladrões na cruz, olhando para Jesus com uma expressão de súplica.
O bom ladrão, tradicionalmente chamado de Dimas, tornou-se um símbolo de arrependimento e esperança. (Fonte da Imagem: Getty Images)

A resposta para esse mistério pode ser encontrada em um texto não canônico chamado Evangelho de Nicodemos. Também conhecido como Atos de Pilatos, esse escrito antigo dá nomes aos dois ladrões. Segundo o texto, eles se chamavam Gestas (o mau ladrão) e Dimas (o bom ladrão).

Esses nomes se tornaram amplamente aceitos na tradição cristã, especialmente na Igreja Católica. São Dimas é até mesmo venerado como o santo padroeiro dos prisioneiros e dos condenados à morte. Sua história é um poderoso lembrete de que nunca é tarde para o arrependimento.

Contudo, como acontece com muitas figuras anônimas, existem outras versões. O apócrifo Evangelho Árabe da Infância, por exemplo, os chama de Tito e Dumaco. Essa variação mostra como diferentes comunidades cristãs desenvolveram suas próprias tradições sobre esses personagens.

O homem da esponja com vinagre na crucificação

Um soldado romano oferecendo uma esponja com vinagre para Jesus na cruz.
O gesto de oferecer vinagre a Jesus tem sido interpretado de várias maneiras ao longo da história. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Em um dos momentos mais sombrios da crucificação, os evangelhos mencionam que um homem ofereceu a Jesus uma esponja com vinagre. Essa cena, registrada em Mateus, Marcos e João, é cheia de simbolismo e debate. Seria um ato de zombaria ou uma tentativa desajeitada de aliviar a sede de um condenado?

Independentemente da intenção, o ato em si é marcante e faz parte do cumprimento de uma profecia do Antigo Testamento. A identidade desse homem, no entanto, permanece um mistério nos textos bíblicos. Ele é apenas um espectador anônimo que desempenha um papel breve, mas significativo.

Surpreendentemente, um manuscrito iluminado do século X, o Codex Egberti, dá um nome a essa figura. Nele, o homem que ofereceu o vinagre a Jesus é identificado como Agathon. Dar um nome a ele nos convida a refletir mais profundamente sobre suas motivações naquele momento crucial.

O soldado da lança que perfurou o corpo de Cristo

O soldado romano perfurando o lado de Jesus com uma lança para confirmar sua morte.
A lança usada para perfurar o lado de Cristo se tornou uma das relíquias mais famosas do cristianismo. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Evangelho de João nos conta um detalhe que os outros evangelistas omitem, um ato final de verificação da morte de Jesus. Em João 19:34, lemos: “um dos soldados perfurou o lado de Jesus com uma lança, provocando um fluxo repentino de sangue e água”. Esse soldado, sem saber, estava cumprindo mais uma profecia.

Sua ação confirmou a morte de Jesus, impedindo que suas pernas fossem quebradas, como era o costume. O sangue e a água que jorraram se tornaram símbolos teológicos poderosos para o cristianismo. Apesar de seu papel crucial, o nome do soldado não é encontrado em nenhum lugar da Bíblia.

Ele é apenas “um dos soldados”, mais uma figura anônima em um dos eventos mais importantes da história. A lança que ele usou, no entanto, se tornaria lendária, conhecida como a Lança Sagrada ou Lança do Destino. Mas e quanto ao homem que a empunhava?

Longinus: O nome por trás da Lança Sagrada

Estátua de São Longino segurando a Lança Sagrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
A tradição diz que Longinus se converteu ao cristianismo após testemunhar os eventos da crucificação. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O evangelho apócrifo de Atos de Pilatos, o mesmo que nomeia os ladrões, nos dá a resposta. Ele nos conta que o soldado que empunhava a Lança Sagrada se chamava Longinus. Esse nome, possivelmente derivado da palavra latina para lança (lancea), ficou gravado na tradição.

A lenda de Longinus cresceu ao longo dos séculos, transformando-o de um simples soldado em um santo. A tradição diz que ele sofria de uma doença nos olhos e foi curado pelo sangue que escorreu da lança. Esse milagre o teria levado à conversão e, mais tarde, ao martírio.

Hoje, São Longino é uma figura venerada, e uma estátua imponente em sua homenagem fica na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Sua história é um exemplo fascinante de como um personagem anônimo da Bíblia pode se transformar em uma figura central na tradição da Igreja. É a jornada de um executor que se torna um crente.

A guarda romana no túmulo de Jesus

Soldados romanos montando guarda do lado de fora do túmulo selado de Jesus.
A tarefa desses soldados era garantir que ninguém roubasse o corpo de Jesus, mas eles testemunharam algo muito maior. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Após a crucificação, os líderes religiosos foram a Pôncio Pilatos com uma preocupação. Eles temiam que os discípulos de Jesus roubassem seu corpo e alegassem que ele havia ressuscitado. Para evitar isso, Pilatos designou uma guarda para vigiar o túmulo, como relata Mateus 27:65.

A ordem era clara: tornar o túmulo o mais seguro possível, selando a pedra e postando soldados para vigiá-lo. Esses homens eram a garantia de que nada fora do comum aconteceria ali. No entanto, eles acabariam se tornando testemunhas oculares do evento mais extraordinário da história.

A Bíblia não revela os nomes desses guardas, focando apenas em seu papel como vigilantes. Eles representam a autoridade romana e a tentativa humana de controlar o divino. Mas, como sempre, textos posteriores se interessaram em descobrir quem eram esses homens.

Petrônio: O centurião responsável pela vigília

Um centurião romano dando ordens aos seus soldados em frente ao túmulo de Jesus.
O Evangelho de Pedro identifica o líder da guarda do túmulo como o centurião Petrônio. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Evangelho de Pedro, um texto não canônico do século II, nos dá a primeira pista. Embora não mencione os nomes dos soldados rasos, ele nos diz quem era o comandante deles. A guarda era supervisionada por um centurião romano chamado Petrônio.

Nomear o líder da guarda dá um rosto à autoridade que estava presente no túmulo. Petrônio seria o responsável por relatar os eventos inexplicáveis da manhã da ressurreição. Sua presença torna a narrativa ainda mais concreta e historicamente situada.

Essa informação, embora apócrifa, enriquece a cena, mostrando a estrutura militar romana em ação. Não era apenas um grupo aleatório de soldados, mas uma unidade sob o comando de um oficial. Isso reforça a seriedade com que as autoridades trataram a segurança do túmulo.

Os nomes dos guardas segundo o Livro da Abelha

Soldados romanos assustados, caídos no chão, enquanto um anjo desce sobre o túmulo de Jesus.
O Livro da Abelha nos dá os nomes de cinco guardas que testemunharam a ressurreição. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Mas o Livro da Abelha vai ainda mais longe, como de costume, nos detalhes. Segundo essa fonte, a guarda designada para vigiar o túmulo era composta por cinco homens. O texto se aventura a nos dar até mesmo os nomes de cada um deles.

Os cinco guardas se chamavam Issacar, Gade, Matias, Barnabé e Simão. Alguns desses nomes são curiosamente hebraicos, o que pode sugerir uma composição mista da guarda. Essa lista transforma os anônimos vigilantes em indivíduos com identidades próprias.

Saber seus nomes nos faz imaginar a conversa entre eles durante a longa noite de vigília. E, mais importante, nos faz pensar em como cada um deles reagiu ao terremoto e à visão do anjo. De repente, a história ganha cinco novos personagens fascinantes.

Uma teoria alternativa: Eram 15 guardas?

Vários soldados romanos fugindo em pânico do túmulo vazio de Jesus.
Uma outra passagem no mesmo texto sugere que o número de guardas poderia ser muito maior. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Para complicar um pouco mais, o próprio Livro da Abelha apresenta uma versão alternativa. Em outra passagem, o texto diz: “Mas outros dizem que eram 15”. Essa contradição interna mostra como diferentes tradições podiam coexistir na mesma coletânea.

Essa segunda versão não apenas aumenta o número de guardas, mas também detalha sua composição. Seriam “três centuriões e os seus soldados romanos e judeus”. Isso sugere uma operação de segurança muito maior e mais complexa do que se imaginava.

Essa discrepância nos lembra que esses textos não são relatos históricos unificados, mas sim coleções de tradições. Seja qual for o número exato, o ponto principal é o mesmo. Homens poderosos foram colocados para guardar um túmulo, mas foram incapazes de impedir o maior milagre de todos.

As misteriosas irmãs de Jesus

Uma representação da Sagrada Família, com o jovem Jesus, Maria, José e outras crianças ao redor.
Os evangelhos mencionam que Jesus tinha irmãos e irmãs, mas não revelam seus nomes. (Fonte da Imagem: Getty Images)

Muitas pessoas se surpreendem ao saber que os evangelhos mencionam que Jesus tinha família além de seus pais. Tanto Marcos 6:3 quanto Mateus 13:55-56 afirmam que ele tinha irmãos e irmãs. Enquanto os nomes dos quatro irmãos são listados (Tiago, José, Simão e Judas), os nomes de suas irmãs nunca são revelados.

A Bíblia apenas diz que ele tinha “irmãs”, no plural, o que indica que eram pelo menos duas. O silêncio sobre seus nomes e seu número exato tem gerado muito debate teológico e curiosidade. Quem eram essas mulheres que cresceram ao lado de Jesus?

Assim como em todos os outros casos, a resposta não está nos textos canônicos, mas sim nos apócrifos. Vários escritos antigos se dedicaram a preencher essa lacuna familiar. Diferentes fontes mencionam nomes distintos, criando um mosaico de possibilidades.

Maria, Assia, Lydia e mais: Os possíveis nomes das irmãs

Duas mulheres, representando as irmãs de Jesus, em um cenário da Galileia antiga.
Textos apócrifos oferecem uma variedade de nomes para as irmãs de Jesus, como Maria, Ana e Salomé. (Fonte da Imagem: Getty Images)

O Evangelho de Filipe, um texto não canônico, menciona que Jesus tinha uma irmã chamada Maria. Outro texto, conhecido como História de José, o Carpinteiro, nos dá dois outros nomes. Segundo ele, as irmãs de Jesus se chamavam Assia e Lydia.

A lista de nomes continua em outros escritos, mostrando a riqueza da tradição. O teólogo Epifânio de Salamina, em seus textos, sugere os nomes Maria e Salomé para as duas irmãs. Já a Crônica de Hipólito de Tebas apresenta uma lista com três nomes: Marta, Ester e Salomé.

Essa variedade de nomes mostra que não há um consenso, mas sim um forte desejo de dar identidade a essas mulheres. Cada nome nos conecta a uma tradição diferente, a uma tentativa de completar o quadro da família de Nazaré. Elas podem ter permanecido anônimas na Bíblia, mas a história nunca as esqueceu completamente.

Tyler James Mitchell
  • Tyler James Mitchell é o jornalista e autor por trás do blog Curiosão, apaixonado por desvendar temas de história e ciência. Sua missão é transformar o conhecimento complexo em narrativas acessíveis e fascinantes para o público.