
A verdade sombria que a indústria do K-pop não quer que você saiba
Por trás dos sorrisos perfeitos e coreografias sincronizadas, existe uma indústria com segredos perturbadores.
As estrelas do K-pop surgem em nossos feeds como figuras perfeitas, quase inumanas em seu talento e beleza. Seus visuais impecáveis, corpos magros e sorrisos contagiantes constroem um encanto que atrai uma legião de fãs fervorosos. No entanto, o que vemos é apenas a ponta de um iceberg cuidadosamente esculpido.
Nos bastidores, as gravadoras transformaram a criação de ídolos em uma ciência assustadoramente precisa, com um preço alto para os artistas. Essa fórmula de sucesso, em muitos casos, tem custado a saúde mental e física de jovens que sonhavam apenas com a música. Escândalos envolvendo drogas, anorexia e tragédias irreparáveis revelam um lado obscuro que a indústria se esforça para manter em segredo.
Fica cada vez mais claro que algo profundamente errado acontece longe dos holofotes, uma realidade dura que muitos fãs sequer imaginam. A jornada para o estrelato é marcada por sacrifícios, controle extremo e uma pressão constante para manter uma imagem de perfeição. Vamos desvendar agora as histórias e os mecanismos que os poderosos chefões do K-pop tentam esconder a todo custo.
O início precoce na máquina do K-pop

A caça por novos talentos começa de forma surpreendentemente cedo, buscando crianças e pré-adolescentes em aulas de dança e competições. Essas jovens promessas são rapidamente inseridas em programas de treinamento rigorosos, conhecidos como “academias de ídolos”. O sonho de se tornar uma estrela começa com uma ruptura drástica de suas vidas normais.
Ao entrarem nesse sistema, os aspirantes a famosos são obrigados a deixar suas famílias para trás, passando a viver em dormitórios com outros trainees. Essa separação precoce cria um ambiente de dependência total da agência, que passa a controlar todos os aspectos de suas vidas. A solidão e a saudade se tornam companheiras constantes nessa jornada exaustiva.
Isolados do mundo exterior e de suas redes de apoio, esses jovens se tornam completamente imersos na cultura competitiva da indústria. Eles aprendem desde cedo que o sacrifício pessoal é o único caminho para o sucesso. A máquina do K-pop começa a moldá-los não apenas como artistas, mas como produtos perfeitamente alinhados às expectativas do mercado.
A liberdade sacrificada no altar da fama

A cantora Way, que fez parte do grupo Crayon Pop, revelou uma verdade chocante sobre a falta de liberdade imposta aos trainees. Ela relatou que mal conseguia ver sua própria família durante o auge do programa, vivendo em um estado de quase completo isolamento. Essa é uma realidade comum para muitos que entram na indústria sonhando com os palcos.
O controle vai além das visitas familiares, invadindo a esfera mais pessoal da vida dos jovens artistas. É uma prática padrão que os trainees sejam obrigados a entregar seus celulares e dispositivos de comunicação para a gravadora. Essa medida visa eliminar distrações e garantir que o foco permaneça 100% no treinamento, mas também aprofunda o sentimento de aprisionamento.
Sem acesso livre a amigos e familiares, os aspirantes a ídolos ficam à mercê das regras e da vigilância constante da empresa. Qualquer vestígio de uma vida normal é apagado em nome da disciplina e da dedicação exclusiva ao projeto de se tornar uma estrela. A liberdade se torna a primeira e mais cara moeda de troca na busca pela fama.
Contratos de Escravidão: A dívida impagável pelo sonho

Quando um jovem talento finalmente assina com uma gravadora, o documento que sela seu destino é muito mais complexo do que parece. Esses contratos podem se estender por mais de uma década, prendendo o artista em um compromisso de longo prazo. A euforia inicial de ser escolhido muitas vezes cega para as cláusulas restritivas que virão a seguir.
Não é à toa que esses acordos são frequentemente apelidados de “contratos escravos” dentro e fora da indústria. Eles são estruturados para deixar a futura estrela com um controle mínimo sobre sua própria vida, carreira e, principalmente, seus ganhos financeiros. O artista se torna, na prática, uma propriedade da empresa durante o período do contrato.
Essa estrutura legal garante que a gravadora tenha poder absoluto para ditar os rumos da carreira do ídolo, desde o conceito musical até a agenda de aparições públicas. O sonho de expressão artística rapidamente se transforma em uma realidade de obediência e conformidade. A assinatura no papel é o ponto de partida para uma jornada onde a autonomia é um luxo raro.
A armadilha financeira por trás do glamour

Uma das realidades mais cruéis para os aspirantes a estrelas é o sistema de dívidas que os prende às gravadoras. A empresa arca com todas as despesas iniciais, como acomodação, aulas, viagens, figurinos e tratamentos de beleza. No entanto, esse investimento não é um presente, mas sim um empréstimo que o artista terá que pagar.
Os futuros ganhos do ídolo são destinados a cobrir essa dívida acumulada, o que significa que muitos trabalham por anos sem ver um centavo. Se a carreira não decola como o esperado ou se os lucros não são suficientes, eles permanecem endividados com a empresa que os lançou. A cantora Way, do Crayon Pop, revelou ter vendido bens pessoais, incluindo seu piano, apenas para conseguir sobreviver nesse período.
Esse modelo de negócio cria um ciclo de dependência financeira que é quase impossível de quebrar. Os artistas se sentem pressionados a aceitar qualquer trabalho para tentar quitar suas dívidas, perpetuando a exaustão e o controle da gravadora. O brilho da fama esconde uma luta diária pela subsistência que o público jamais conhece.
A rotina desumana para alcançar a perfeição

Os horários de treinamento na indústria do K-pop são conhecidos por serem desgastantes e absolutamente implacáveis. A rotina de um trainee começa muito antes do sol nascer, com práticas de dança agendadas para as 5h30 da manhã. O dia se desenrola em uma maratona de atividades que testam os limites do corpo e da mente.
Depois da prática matinal, eles seguem para um dia inteiro de aulas que incluem canto, dança, modelagem e até idiomas como o inglês. Não há espaço para descanso ou lazer, pois cada minuto é programado para maximizar o desenvolvimento de suas habilidades. A pressão para ser perfeito em todas as áreas é esmagadora e constante.
O resultado dessa rotina extenuante é, muitas vezes, a exaustão física e mental. Relatos de trainees desmaiando durante os ensaios são assustadoramente comuns e tratados como parte do processo. O sistema normaliza o esgotamento como um sinal de dedicação, em vez de um alerta perigoso para a saúde dos jovens.
H3: A infância perdida em academias de dança

A busca pelo estrelato não se limita aos adolescentes; até mesmo crianças pequenas são submetidas a cronogramas extremamente rígidos. O caso de Kim Si-yoon, fotografada com apenas nove anos, ilustra perfeitamente essa realidade assustadora. Sua rotina diária era a de um profissional, não a de uma criança.
Ela acordava às 7h30 para ir à escola, mas seu dia estava longe de terminar com o fim das aulas regulares. Logo após o colégio, ela seguia para aulas de voz e dança, mergulhando de cabeça no treinamento para se tornar uma ídola. A noite ainda reservava mais aulas extras antes que ela pudesse finalmente ir para a cama, por volta da meia-noite.
Essa disciplina militar imposta a crianças rouba fases essenciais da infância, como o tempo para brincar e socializar livremente. A pressão para performar e competir substitui as experiências normativas do crescimento. A indústria do K-pop, em sua busca por talentos precoces, acaba por fabricar adultos em miniatura, sacrificando sua juventude no processo.
H3: Treinamentos extremos que desafiam os limites

Para atingir o nível de precisão exigido, as agências recorrem a métodos de treinamento que beiram o extremo. Um exemplo notório vem do grupo Crayon Pop, cujas integrantes passaram por uma provação física inacreditável. Elas foram forçadas a usar sacos de areia de 4 quilos amarrados aos pés durante as práticas de dança.
A lógica por trás dessa técnica dolorosa era que, ao remover os pesos, seus movimentos no palco pareceriam mais leves e sem esforço. O objetivo era criar uma ilusão de facilidade, escondendo o sofrimento e o esforço hercúleo dos ensaios. Isso mostra como o resultado visual para o público é priorizado acima do bem-estar dos artistas.
Essas práticas não são apenas fisicamente desgastantes, mas também mentalmente opressivas, reforçando a ideia de que a dor é um componente necessário do sucesso. Os artistas aprendem a suportar condições extremas em silêncio, tudo para entregar a performance perfeita que os fãs esperam. O corpo se torna uma ferramenta a ser levada ao limite, independentemente das consequências.
A obsessão pelo corpo perfeito

No universo do K-pop, a imagem corporal é tratada com uma obsessão quase religiosa, sendo considerada essencial para o sucesso. Espera-se que os trainees sigam dietas extremamente rigorosas e rotinas de exercícios pesadas desde o primeiro dia. O corpo é visto como uma tela em branco que precisa ser moldada de acordo com um padrão de beleza muito específico.
Esse processo é fortemente controlado pelos treinadores e pela equipe da gravadora, que monitoram o peso e a aparência dos jovens de perto. Uma ex-participante de um centro de treinamento relatou uma prática desumana e perigosa. Segundo ela, os trainees considerados “acima do peso” tinham suas refeições suspensas e recebiam apenas água até atingirem a meta.
Essa fiscalização implacável cria um ambiente tóxico e gera uma relação doentia com a comida e com o próprio corpo. A busca por um ideal de magreza inatingível se torna o foco principal, muitas vezes ofuscando o desenvolvimento do talento artístico. A pressão estética é um dos pilares mais sombrios e prejudiciais da indústria.
H3: Cirurgia plástica como pré-requisito

A busca por um padrão de beleza idealizado não se limita a dietas e exercícios. Se uma estrela em potencial possui características físicas consideradas “deficientes” pela agência, a solução é quase sempre a mesma. A cirurgia plástica é frequentemente apresentada não como uma opção, mas como um requisito para o sucesso.
Tanto artistas masculinos quanto femininos são incentivados ou até mesmo coagidos a passar por extensos procedimentos estéticos. O objetivo é “corrigir” traços que não se encaixam no molde, como o formato do nariz, o queixo ou a pálpebra dupla. A individualidade é apagada em favor de uma aparência padronizada e comercialmente viável.
Essa pressão para se submeter a cirurgias desde jovem pode ter consequências psicológicas profundas, afetando a autoestima e a percepção da própria identidade. Os artistas são ensinados que seu valor está intrinsecamente ligado a uma aparência fabricada. A beleza natural raramente é celebrada, sendo vista como algo a ser “aprimorado” para atender às demandas do mercado.
H4: A normalização das transformações estéticas

Diferente de muitas culturas ocidentais, a cirurgia plástica no mundo do K-pop é um assunto comum e abertamente discutido. Longe de ser um segredo, as transformações estéticas são frequentemente tratadas como parte do trabalho. A transparência em torno do assunto ajuda a normalizar os procedimentos entre os fãs e a indústria.
Muitos participantes desses programas de treinamento não hesitam em compartilhar suas experiências com o público. É comum que eles postem alegremente fotos de “antes e depois”, mostrando as mudanças em seus rostos e corpos. Essa atitude transforma a cirurgia em uma espécie de rito de passagem para o estrelato.
Essa normalização, no entanto, mascara a pressão subjacente que leva a essas decisões. Ao apresentar as cirurgias como uma escolha feliz e voluntária, a indústria desvia a atenção da coerção e da cultura que exige perfeição física a qualquer custo. O que é vendido como empoderamento é, muitas vezes, uma consequência da falta de opção.
A sombra dos distúrbios alimentares

A consequência inevitável do intenso foco na imagem corporal é o surgimento de graves problemas de saúde. O ambiente de pesagens diárias e restrições alimentares severas impostas pelas gravadoras tem um efeito devastador. Não é surpresa que muitas estrelas do K-pop acabem desenvolvendo distúrbios alimentares.
A anorexia e a bulimia se tornam uma sombra constante na vida desses artistas, que lutam para corresponder a um ideal de magreza irreal. A comida se transforma em uma inimiga, e cada caloria é contada em uma batalha diária contra o próprio corpo. A saúde é sacrificada em nome de uma silhueta que agrada à indústria e aos fãs.
Apesar da alta prevalência, o assunto ainda é um grande tabu, raramente discutido abertamente. O silêncio em torno dos distúrbios alimentares perpetua o sofrimento e impede que muitos busquem a ajuda de que precisam desesperadamente. A imagem de perfeição e saúde precisa ser mantida a qualquer custo, mesmo que por dentro os artistas estejam desmoronando.
H3: O caso de JinE: A anorexia que interrompeu uma carreira

A história de JinE, ex-integrante do grupo Oh My Girl, é um exemplo trágico e concreto das consequências dessa pressão. Em 2017, a cantora foi forçada a se afastar dos palcos para se concentrar na recuperação de um quadro grave de anorexia. Sua luta contra o distúrbio alimentar havia começado desde a sua estreia no grupo.
Com apenas 21 anos na época, a jovem artista chegou a um ponto em que sua saúde estava tão comprometida que ela precisou de tratamento médico intensivo. A decisão de deixar a banda não foi fácil, mas necessária para salvar sua vida. O caso de JinE trouxe à tona uma discussão que a indústria preferia manter em segredo.
Sua coragem em se afastar para cuidar de si mesma serviu como um alerta para a gravidade do problema. No entanto, muitos outros artistas continuam a sofrer em silêncio, com medo de que admitir uma vulnerabilidade possa significar o fim de suas carreiras. A história de JinE é um lembrete sombrio do preço humano por trás do entretenimento.
H3: A luta de Himchan e as consequências físicas

Os distúrbios alimentares não são um problema exclusivo das artistas femininas, afetando também os ídolos masculinos. Himchan, membro do popular grupo B.A.P., lutou contra a doença por anos, em uma batalha silenciosa longe dos olhos do público. Sua história mostra como a pressão por um físico específico atinge a todos na indústria.
Em 2017, o cantor foi levado às pressas para o hospital com uma lesão chocante: uma costela fraturada por estresse. A causa não foi um acidente, mas sim a desnutrição severa e uma perda de peso súbita e drástica. O corpo de Himchan simplesmente não aguentou a falta de nutrientes e a pressão dos treinos intensos.
Esse incidente alarmante revelou o quão perigosa pode ser a busca incessante pela magreza. As dietas extremas enfraquecem os ossos e o sistema imunológico, deixando os artistas vulneráveis a lesões graves. A fratura de Himchan foi um sintoma visível de um problema muito mais profundo e invisível que assola o K-pop.
H4: O silêncio imposto sobre a saúde mental

Além dos casos confirmados, existem inúmeras outras suspeitas de distúrbios alimentares no mundo do K-pop. No entanto, o enorme preconceito que cerca os problemas de saúde mental na Coreia do Sul torna improvável que muitas estrelas se sintam seguras para falar. O medo do julgamento e da rejeição é uma barreira poderosa.
Falar publicamente sobre suas lutas internas coloca em risco a imagem perfeita e saudável que eles são obrigados a projetar. Qualquer sinal de fraqueza ou vulnerabilidade pode ser visto como uma falha pela indústria e pelos fãs. Manter o personagem de “ídolo feliz” é parte do trabalho, mesmo que isso signifique esconder uma dor imensa.
Essa cultura do silêncio cria um ambiente perigoso, onde os problemas se agravam sem tratamento adequado. Os artistas ficam presos em um ciclo de sofrimento solitário, incapazes de buscar ajuda sem arriscar tudo pelo que trabalharam. A fachada de perfeição do K-pop é mantida à custa do bem-estar psicológico de seus maiores talentos.
O amor proibido no universo K-pop

Uma das regras mais controversas e restritivas da indústria do K-pop é a proibição de relacionamentos amorosos. Geralmente, os membros de bandas não têm permissão para namorar enquanto estão sob contrato com suas agências. Essa política bizarra tem uma justificativa puramente comercial.
A teoria das gravadoras é que um ídolo solteiro parece mais acessível e disponível para os fãs, o que alimenta a fantasia e a devoção. Essa suposta disponibilidade resulta em uma base de seguidores mais engajada e, consequentemente, mais lucrativa. Para garantir que a regra seja cumprida, alguns contratos chegam a ter uma cláusula específica que proíbe o namoro.
Essa restrição desumaniza os artistas, tratando-os como produtos cuja vida pessoal deve ser sacrificada pelo negócio. O direito fundamental de se relacionar é negado em nome do lucro. Os ídolos são forçados a viver uma vida de solidão ou a esconder seus relacionamentos com medo de severas punições e da fúria dos fãs.
H3: A fúria dos fãs contra a vida pessoal dos ídolos

A reação dos fãs quando seu membro de banda favorito assume um relacionamento público costuma ser de indignação. Isso acontece porque muitos seguidores desenvolvem uma conexão parassocial com os ídolos, pensando neles como namorados ou namoradas virtuais. A notícia de um namoro real é vista como uma traição pessoal.
Um exemplo emblemático dessa toxicidade foi a reação ao anúncio de casamento de Chen, do popular grupo Exo, em janeiro de 2020. Em vez de celebrarem a felicidade de seu ídolo, uma parte significativa dos fãs se voltou violentamente contra ele. A notícia de que ele seria pai e marido foi recebida com pedidos para sua expulsão do grupo.
Esse episódio revelou a face mais sombria da cultura de fãs, onde a posse e a fantasia se sobrepõem ao respeito pela vida pessoal do artista. Chen foi punido por ousar ter uma vida normal, fora do personagem de ídolo disponível. A pressão dos fãs se tornou uma força poderosa e aterrorizante na vida dos artistas.
H4: O caso de Chen e a revolta do fã-clube

A revolta contra Chen foi tão intensa que o fã-clube oficial do Exo emitiu uma declaração pública exigindo sua expulsão da banda. Eles argumentaram que as “ações egoístas” do cantor estavam prejudicando a reputação e a imagem do grupo como um todo. A felicidade pessoal de Chen foi interpretada como um ato de traição profissional.
Os fãs mais radicais não se contentaram com a declaração e ameaçaram organizar protestos em larga escala. Eles prometeram boicotar os produtos do grupo e fazer manifestações na frente da sede da gravadora se suas exigências não fossem atendidas. A situação escalou para um nível de assédio coletivo.
Esse incidente expõe a dinâmica perigosa criada pelas próprias agências ao vender a imagem de “ídolo disponível”. Ao alimentar essa fantasia, elas criam um monstro que não conseguem controlar. Os artistas se tornam reféns de uma base de fãs que se sente no direito de ditar como eles devem viver suas vidas.
H3: A estratégia das bandas de gênero único

Uma das estratégias mais óbvias da indústria para contornar o “problema” dos relacionamentos é a criação de bandas exclusivamente masculinas ou femininas. Acredita-se que, ao evitar a interação constante entre homens e mulheres no mesmo grupo, os riscos de namoro diminuem. É uma tentativa de controlar o incontrolável: a atração humana.
Essa segregação de gênero também serve a outro propósito: evitar que os fãs desconfiem de relações românticas entre os membros do grupo. Em teoria, a amizade íntima entre os integrantes é vista como algo positivo, enquanto um namoro heterossexual seria prejudicial para os negócios. A estrutura do grupo é pensada para manter a fantasia intacta.
Essa tática é particularmente eficaz em uma indústria e uma sociedade onde a homossexualidade ainda é um grande tabu. Como quase nenhum artista é abertamente gay, a proximidade entre membros do mesmo sexo é interpretada como “bromance” ou amizade. A heteronormatividade da indústria serve como um escudo para manter a imagem de solteiro dos ídolos.
A repressão à comunidade LGBTQ+ na indústria

Se as restrições para relacionamentos heterossexuais já são severas, a opressão contra artistas LGBTQ+ é ainda mais intensa. A indústria do K-pop é extremamente conservadora e desaconselha fortemente que os artistas se assumam publicamente. O medo do impacto negativo na “imagem” e, consequentemente, no valor comercial do ídolo, fala mais alto.
Ser abertamente gay, lésbica, bissexual ou transgênero é visto como um risco inaceitável para a carreira. Até hoje, apenas uma estrela do K-pop, o cantor Holland, ousou se assumir publicamente, e sua jornada foi marcada por muita polêmica e drama. Sua coragem destacou o quão resistente a indústria é à diversidade.
Os artistas são forçados a viver uma vida dupla, escondendo sua verdadeira identidade para sobreviver profissionalmente. A falta de representatividade e o silêncio imposto criam um ambiente sufocante para quem não se encaixa na norma heterossexual. A indústria vende uma imagem moderna, mas suas políticas internas são extremamente arcaicas.
H3: Holland: O pioneiro que desafiou o sistema

A estreia de Holland como o primeiro artista de K-pop abertamente gay foi um ato revolucionário. Ele decidiu seguir em frente contra a vontade de sua própria gravadora, que temia a repercussão negativa. Em 2018, ele lançou o videoclipe de sua música “Neverland”, que corajosamente retratava um romance entre um casal do mesmo gênero.
O clipe, que incluía uma cena de beijo, enfrentou censura imediata na Coreia do Sul. Holland foi informado de que o vídeo receberia uma classificação para maiores de 19 anos, limitando drasticamente seu alcance. A justificativa foi a cena do beijo, tratando-a como conteúdo impróprio para menores.
Apesar das barreiras, a atitude de Holland abriu um debate importante e inspirou muitos fãs LGBTQ+ ao redor do mundo. Ele provou que era possível ser autêntico em uma indústria que exige conformidade. Sua carreira se tornou um símbolo de resistência e esperança por um futuro mais inclusivo no K-pop.
H4: O paradoxo do “fan service”

Curiosamente, existe um paradoxo na forma como a indústria lida com a homossexualidade. Embora relacionamentos reais sejam reprimidos, a fantasia de romances entre pessoas do mesmo sexo dentro das bandas é incentivada. Essa prática é conhecida como “fan service” ou “skinship”.
Os fãs, especialmente em fandoms de boy bands, frequentemente escrevem “fanfics” românticas sobre seus artistas favoritos, imaginando-os como casais. As agências sabem disso e encorajam os membros dos grupos a agirem de forma íntima em público, quase flertando uns com os outros. Abraços, carinhos e olhares são cuidadosamente coreografados para alimentar a imaginação dos fãs.
No entanto, há uma linha clara que nunca pode ser cruzada: tudo deve permanecer no campo da fantasia para ser aceitável. A intimidade é permitida e explorada comercialmente, desde que não haja nenhuma sugestão de que seja real. É um jogo perigoso que explora a afeição dos fãs enquanto nega a realidade das identidades LGBTQ+.
A cultura tóxica dos fãs e suas consequências

A atitude extremamente possessiva que alguns fãs desenvolvem em relação aos seus ídolos é, de certa forma, incentivada pela indústria. Essa devoção cega impulsiona as vendas de álbuns, mercadorias e ingressos para shows. No entanto, essa faca de dois gumes frequentemente tem um impacto terrivelmente negativo na vida das estrelas.
Os artistas se tornam objeto de uma obsessão que ultrapassa todos os limites do razoável. Sua privacidade é constantemente invadida, e cada passo que dão é vigiado e julgado por milhares de pessoas. Eles vivem sob um microscópio, com a pressão de nunca decepcionar as expectativas irreais de seus seguidores.
Quando a linha entre admiração e obsessão é cruzada, as consequências podem ser assustadoras. Os chamados “sasaeng fans” (fãs obsessivos) chegam a perseguir os ídolos, invadir suas casas e roubar itens pessoais. O que começa como amor pela música pode se transformar em um comportamento perigoso e criminoso.
H3: O bizarro leilão dos pertences de Lisa

Um episódio bizarro e perturbador ilustra perfeitamente até onde a obsessão dos fãs pode chegar. Quando Lisa, a popular integrante do Blackpink, fez uma sessão de fotos em um café em Bangkok, na Tailândia, o dono do estabelecimento viu uma oportunidade doentia. Ele decidiu lucrar com a visita da estrela de uma maneira completamente inapropriada.
O proprietário anunciou online que estava tentando vender todos os objetos que Lisa havia tocado durante sua estadia. A lista incluía os talheres, o copo, o guardanapo e, de forma ainda mais chocante, o assento do vaso sanitário que ela supostamente usou. O anúncio foi acompanhado de comentários de conotação sexual e desrespeitosa.
O incidente causou uma onda de indignação e mostrou a vulnerabilidade dos ídolos, mesmo em situações cotidianas. Eles são vistos não como seres humanos, mas como objetos de fetiche cujo valor pode ser explorado financeiramente. A cultura tóxica dos fãs transforma a admiração em uma forma de violação e assédio.
H4: A vulnerabilidade das estrelas femininas

Embora todos os ídolos sofram com a pressão, as estrelas femininas do K-pop enfrentam um fardo desproporcional. Uma imagem estritamente controlada é criada para elas, exigindo que pareçam simultaneamente sensuais, mas também ingênuas e inexperientes. Elas precisam navegar em um campo minado de expectativas contraditórias.
Quando uma artista ousa quebrar esse molde ou desafiar as normas, ela é imediatamente atacada online. A maioria desses ataques vem de usuários masculinos anônimos, que se sentem no direito de policiar o comportamento e a aparência delas. A misoginia e o cyberbullying se tornam uma arma para punir qualquer mulher que demonstre autonomia.
Essa foi a trágica realidade de várias mulheres que tiraram a própria vida nos últimos anos, esmagadas pelo peso do ódio online. A pressão para ser um modelo de perfeição feminina inatingível, combinada com o assédio constante, cria um ambiente psicologicamente insustentável. A vulnerabilidade delas é explorada e atacada sem piedade.
As tragédias que abalaram a indústria

A morte de Sulli, ex-integrante do grupo f(x), foi um terremoto que expôs as fissuras mais profundas da indústria do K-pop. Ela era conhecida por ir contra as normas, falando abertamente sobre seu namorado e defendendo o direito de não usar sutiã. Sua autenticidade, no entanto, foi recebida com uma avalanche de ódio.
Em 2019, Sulli cometeu suicídio após sofrer por anos com um grave e implacável abuso cibernético de uma base de fãs tóxica. Ela havia começado sua carreira na indústria do entretenimento com apenas 11 anos e morreu tragicamente aos 25. Sua vida foi consumida pela mesma máquina que a tornou famosa.
A tragédia de Sulli forçou uma conversa nacional sobre a toxicidade online e a pressão sobre as celebridades. No entanto, sua morte também levantou questões difíceis sobre a responsabilidade das agências em proteger a saúde mental de seus artistas. Muitos sentiram que ela foi deixada para lutar sozinha contra um exército de agressores anônimos.
H3: As histórias interligadas de Goo-hara e Kim Jong-hyun

Apenas seis semanas após a morte de Sulli, a indústria foi abalada por outra tragédia: o suicídio de sua amiga Goo-hara, da girl band Kara. As duas eram próximas e compartilhavam a experiência de sofrer ataques online violentos por sua honestidade nas redes sociais. A morte de Goo-hara parecia um eco doloroso da perda de sua amiga.
De forma ainda mais escandalosa, a morte de Goo-hara foi precipitada por uma situação de chantagem e abuso. Seu ex-namorado a ameaçava com a divulgação de um vídeo íntimo que ele havia filmado sem o consentimento dela. A humilhação pública e o medo foram o golpe final para uma mulher já fragilizada pelo assédio constante.
Enquanto as mulheres são atacadas com uma violência particular, as pressões da indústria afetam a todos, como provou a morte de Kim Jong-hyun, do SHINee. Ele tirou a própria vida em 2017, e sua nota de suicídio revelou uma profunda depressão, implorando aos leitores: “Por favor, digam-me que fiz um bom trabalho”.
O tabu da saúde mental na Coreia do Sul

Infelizmente, as tragédias no K-pop são um reflexo de um problema cultural maior na Coreia do Sul. Ainda existe um enorme estigma em torno da saúde mental no país, o que torna extremamente difícil para as pessoas buscarem ajuda. As estrelas pop, em particular, são fortemente desencorajadas a falar sobre suas lutas internas.
Os números contam uma história preocupante, já que a Coreia do Sul tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo desenvolvido. Em contrapartida, o país registra o menor uso de antidepressivos entre as nações da OCDE. Essa disparidade indica o quão profundo é o tabu e a dificuldade de acesso ao tratamento.
Para os ídolos de K-pop, admitir um problema de saúde mental é visto como uma fraqueza que pode destruir sua carreira. Eles são forçados a sofrer em silêncio, presos entre a pressão da fama e uma cultura que não oferece suporte. A falta de um sistema de apoio adequado deixa muitos deles perigosamente isolados em sua dor.